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quinta-feira, julho 29, 2010

ARTIGO: Aparelhando o Estado

Por Nilson Borges Filho (*)

Com um novo pleito eleitoral surge uma movimentação partidária que reveste-se em alianças políticas que muda, quase que totalmente, o que foi combinado na última eleição. Isso quer dizer que, partidos que davam sustentação a um determinado governo, dita programática, viram a casaca e buscam fortalecer outro consórcio de siglas visando, na maioria dos casos, obter vantagens de toda ordem e a qualquer preço.

Muitas das vezes, esse a qualquer preço ultrapassa as fronteiras da ética, da moral e dos bons costumes. A falta de pudor como se encaminham essas alianças partidárias traça – de antemão – o perfil do verso e anverso do próximo governo. Alguns desses conchavos acontecem às escuras, mais precisamente no basfond da política paroquial, quase sempre regados ao que se produz de mais sujo no jogo eleitoral. Outros, menos ortodoxos, são feitos à luz do dia, num troca-troca de interesses nada republicamos, mas que lá na frente farão a felicidade de empreiteiros. Além, é claro, de satisfazer aqueles tipinhos, os tais homens de confiança, os conhecidos oportunistas saídos - e que por lá permanecem - do bolso de políticos e que serão contemplados com cargos comissionados.


Figurinhas carimbadas do serviço público, motivados pelo mando na frequência e na desenvoltura arrogante com que tratam os de baixo – muito embora que com os de cima, escorregam na fouxidão da subserviência – os comissionados de políticos, os de alianças de antes, fazem de conta que os conchavos de hoje em nada alteraram a sua situação funcional.

Com um indecente apego ao cargo, fantasiados de gestores da coisa pública, portadores de uma postura que cruza soberba com mediocridade, somados a um currículo com a profundidade de um pires e com àquela boçalidade comum ao chefete de repartição estatal, esses prepostos exibem um ar de satisfação plena somente vista em noivos de festa junina.


O silêncio dos adversários com esse estado de coisas, nada mais é do que o flagrante de vigarices que o apadrinhamento político oferece – ad nauseam - ao contribuinte que paga o salário dos apaniguados. Muitos se escondem da realidade e fingem que ao assumirem o governo darão uma nova formatação ao serviço público. Mentira, pura mentira. Antes mesmo de assumirem o poder, os cartolas do time que ganhou o pleito sairão a campo distribuindo as camisas para titulares comissionados e reservas funcionais. Esperando apenas que o juiz apite o início da partida para se lambuzarem nas facilidades que o cargo oferece, como secretárias, bajuladores, diárias, carros na porta e motoristas de plantão.

Nas idas e vindas, montados no quatro rodas pago com o dinheiro do contribuinte, fazendo cara de inteligentes (quando chegam em casa, cansados, voltam ao normal), observando da janela do possante oficial o populacho no ponto de ônibus indo para o batente, o homem de confiança do político da vez pensa, aqui entendido como força de expressão, em voz alta: “ninguém me segura”.

Esses aí são os neopelegos que aparelharam o Estado brasileiro e que fazem de tudo para que “a bichinha palanqueira” os observe de longe. Daí pode sair de tudo: churrasqueiros, formadores de dossiês, invasores de sigilo fiscal e fraudadores de currículo.

(*) Nilson Borges Filho é doutor em direito, professor e articulista colaborador deste blog

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