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domingo, outubro 26, 2014

POR QUE QUERO SER PRESIDENTE

Por Aécio Neves (*)
Chego ao final desta longa caminhada honrado pela livre vontade dos brasileiros de representar o sonho da mudança que move o país. Em cada pedaço de chão por onde caminhei, tive o privilégio de me encontrar com o Brasil de verdade e de ver transmudadas frustrações e desalento em indignação e novas esperanças, que alimentaram meu espírito e tornaram ainda mais vivas as nossas grandes causas. 
Obstinadamente, procuramos cumprir o nosso dever. Mergulhamos na realidade nacional e em problemas gigantescos, que se eternizaram pela incúria do atual ciclo de poder. Repete-se hoje o que já vimos: uma década perdida e sonhos de futuro adiados pelas circunstâncias ou pela conveniência. 
Ao final, a constatação é a de que há quase tudo a ser feito e resta intocada uma grandiosa dívida social para com os brasileiros que querem melhorar de vida. Um novo e definitivo salto de desenvolvimento acabou engolfado pela má gestão, pelo desapreço ao planejamento, pelo aparelhamento do Estado, nenhum compromisso com o resultado e um projeto de país. 
O nosso povo cobra uma nova e corajosa condução da economia nacional, capaz de reverter a posição do mais promissor entre os países emergentes, agora adernado na lanterna do crescimento, sem credibilidade e confiança, em plena recessão. 
A estabilidade duramente conquistada fraqueja, atingida pela inflação. A balança comercial no vermelho e a desindustrialização em curso destroem a nossa indústria e nos roubam os melhores empregos. 
Quase nenhum passo foi dado para resgatar da precariedade a nossa infraestrutura. Nesse campo, a paisagem é desoladora: obras pela metade, com orçamentos decuplicados, abandonadas pelo caminho. 
No campo social, crises desrespeitam os cidadãos que mais precisam: hospitais públicos afundados em insuficiências, repletos de doentes sem atendimento digno! Persistem as filas para consultas, exames, cirurgias e remédios. 
No campo da segurança, prevalece a omissão. O governismo abdicou da responsabilidade de coordenar uma efetiva política nacional e assiste, impassível, à tragédia de 56 mil assassinatos por ano, terceirizando responsabilidades a Estados e municípios endividados. Estamos perdendo uma geração inteira de jovens brasileiros, vítimas ou aliciados pelo crime. 
Dos gabinetes em Brasília anunciou-se o fim da miséria, atropelando a realidade de um país ainda desigual. Essas, entre outras, são realidades do Brasil que hoje define seu futuro. Contentaram-se com a gestão diária da pobreza para instrumentalizá-la, como fazem agora, chantageando os beneficiários dos programas sociais com o tradicional terrorismo petista. 
Para fazer a grande mudança que o país exige, será preciso mais do que propostas inovadoras e eficientes de boa governança. O primeiro passo é o resgate de princípios e valores cruciais --ética, transparência e planejamento público, qualidade dos gastos do Estado, do controle de resultados e tolerância zero com a corrupção. Acrescento ainda uma inédita audição da nossa sociedade, para tornar efetiva a participação dos cidadãos nos destinos do país. 
Uma nova agenda se impõe. 
No plano da gestão, é preciso acabar com o gigantismo e desperdícios de um governo com 39 ministérios e milhares de cargos de confiança, que servem a todos os interesses, menos ao interesse público. 
A prioridade é cuidar das grandes emergências em duas áreas capitais --saúde e segurança--, que não podem esperar. Delas depende a vida das pessoas. 
A retomada do crescimento demanda uma economia saudável e previsível, que não penaliza quem trabalha e produz, e um governo que guarda com zelo as políticas que estão sob sua responsabilidade. A primeira delas é gastar menos com o governo para poder investir mais na população. 
Simultaneamente, temos que construir uma agenda para o futuro, que depende de uma nova escola e de um salto na qualidade da educação pública. Sem educação transformadora, nenhum sonho de desenvolvimento se tornará real e possível. 
(*)Artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo deste domingo.

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