A Folha de São Paulo traz neste domingo um excelente artigo de Bruno Garschargen, especialista do Instituto Millenium, desmantelando o discurso da idiotia esquerdista e politicamente correta que costuma satanizar a economia, como se desse para buscar o bem-estar na pobreza. O título original do artigo é "A felicidade interna do rei do Butão".
Como acontece cada vez mais na grande imprensa brasileira, normalmente os melhores artigos não procedem da redação, mas de eventuais colaboradores do jornal. Sinal dos tempos; sinal da morte do jornalismo. Leiam:
Não há nada mais falsamente reconfortante do que o autoengano. Se a vida está ruim, por que melhorá-la se é possível adotar novos padrões para demonstrar que, na verdade, o péssimo é bom?
Já não é de hoje que se promove o tal indicador de Felicidade Interna
Bruta (FIB), segundo o qual a medição do progresso de uma comunidade ou
nação não deve ficar restrita ao desenvolvimento econômico, mas deve
avaliar o bem-estar psicológico, a saúde, o uso equilibrado do tempo, a
vitalidade comunitária, educação, cultura, resiliência ecológica,
governança e padrão de vida.
Acredito que pouca gente seja contra a sociedade perseguir
individualmente tais objetivos, mas há dois perigosos elementos do
discurso pelo FIB: (1) a prosperidade econômica é uma imposição maléfica
que deve ser "sanada" e (2) é necessário promover uma mudança social em
prol do bem-estar coletivo em parceria, também, com o governo.
Isso reforça o mito de que a economia é um corpo estranho e danoso para a
sociedade. E que o mercado é formado por um grupo pequeno de grandes
empresas que controlam tudo e a todos, e não por cada de um de nós, do
pipoqueiro ao consumidor até os grandes empresários. O mercado somos
nós.
O segundo ponto talvez seja mais grave por reforçar uma certa agenda
política que faz uso da palavra coringa "social" com o objetivo de
legitimar suas finalidades.
Como, no Brasil, movimento social é algo que está (ou quer estar)
intimamente ligado ao governo, de preferência financiado pelo nosso
dinheiro, temo que seus defensores virem mais um braço do partido no
poder a defender o modelo estatista, que está na origem do horror contra
o mercado e a iniciativa privada.
Talvez soe bonito acusar o crescimento econômico pelos males do mundo e
pelos problemas que inviabilizam ou destroem aqueles nove pontos
descritos pelo indicador.
Mas pergunte a cada uma das pessoas que vivem nas diversas escalas da
pobreza para saber se elas conseguem perseguir tais objetivos sem,
antes, prosperar economicamente.
Atribuir ao Estado responsabilidades que são individuais faz com que a
elite política no poder acredite realmente estar cumprindo uma nobre
missão em nome de bem-comum, do coletivo, nem que para isso seja preciso
esmagar a sociedade. Não se engane: a tutela estatal é uma espada de
Dâmocles.
Se levarmos em conta o que acontece quando o governo desenvolve novas
funções a partir da expropriação das riquezas que produzimos (no Brasil,
trabalhamos de janeiro a maio só para pagar tributos), certamente a
Felicidade Interna Bruta terá que alterar seu nome para outro bem menos
alegre.
Por uma dessas ironias da história, a FIB foi criada em 1972 por Jigme Singya Wangchuck, rei daquele pequeno país chamado Butão.
Essa nação aparece no 141º lugar (de 187) do Índice de Desenvolvimento
Humano 2011 da ONU, em 142º lugar (de 183 países) na lista do Doing
Business de 2012, que mede a facilidade de fazer negócios, e em 111º
lugar (de 179 países) na lista do Índice de Liberdade Econômica 2012 da
Heritage Foundation (qualificado como país não livre, como o Brasil).
Certamente, a Felicidade Interna Bruta do rei de Butão era mais elevada do que a dos seus súditos.
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2 comentários:
um artigo do instituto millenium não pode ser sério.
O artigo está perfeito. Tanto é que vc não tem argumentos para contestar. Mesmo assim fico grato pelo comentário e por tê-lo como leitor do blog.
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