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quinta-feira, abril 18, 2013

JOVENS DELINQUENTES: JÁ PASSOU DA HORA DE BAIXAR A MAIORIDADE PENAL!

O psicanalista italiano radicado no Brasil, Contardo Caligaris, escreve um artigo na Folha de S. Paulo desta quinta-feira com o qual concordo do começo ao fim e por isso transcrevo na íntegra aqui no blog.
Caligaris desconstrói a falácia alimentada pelo pensamento politicamente correto que tem impedido que seja baixada a maioridade penal. Chegou-se ao ponto de proibir que seja noticiado que "menor de idade infrator foi preso". Não pode. Menor quando flagrado praticando um crime foi "apreendido". E vai por aí.

O pior de tudo é que a grande mídia é a correia de transmissão de qualquer idiotice preconizada pelo pensamento politicamente correto. Por isso é excelente o contraponto do artigo de Caligaris que dá uma boa canelada nos jornalistas metidos a intelectuais da Folha de S. Paulo que todos os dias abençoam, impunemente, a idiotia politicamente correta. 

Transcrevo o artigo, cujo título original é "Jovens delinquentes".

Na noite de terça-feira passada (dia 9), em São Paulo, Victor Hugo Deppman, estudante de 19 anos, foi assassinado. As câmeras mostram que ele entregou seu celular, e o assaltante o matou sem razão, com um tiro na cabeça.
O criminoso se entregou à polícia declarando que faltavam dois dias para ele completar 18 anos. Com isso, pelo ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), aos 20 anos e 11 meses no máximo, ele voltará a circular. A gente não pode nem deixar anotado o nome do assassino, para mantê-lo afastado de nossas vidas futuras: por ele ser menor, seu anonimato é preservado.
É assim que protegemos o futuro do criminoso, para que, uma vez regenerado pela mágica de três anos de internação (alguém acredita?), ele possa facilmente reintegrar a sociedade e ser um cidadão exemplar, nosso vizinho.
Obviamente, nos últimos dias, multiplicaram-se os pedidos de revisão do próprio ECA. Marcos Augusto Gonçalves (na Folha de segunda) observou que, na boca dos políticos, esses pedidos escondem décadas de descaso em matéria de segurança pública. Concordo. Mas, como não sou político, não vou deixar de discutir, mais uma vez, o estatuto do menor.
Por exemplo, sou a favor de baixar a maioridade penal, drasticamente, como acontece no Reino Unido, no Canadá, na Austrália, na Índia, nos Estados Unidos etc. --sendo que, na maioria desses lugares, o juiz tem a autonomia para decidir por qual crime um menor de 12 ou dez anos será, eventualmente, julgado como adulto.
Hélio Schwartsman (na página 2 da Folha de sexta passada) aconselhou prudência: seria melhor não "legislar sob forte impacto emocional" e, sobretudo agora, confiar apenas nas "considerações racionais". Ele quase me convenceu, mas...
1) Penso isso há muito tempo.
2) Se deixássemos de agir sob impacto emocional, nunca nada mudaria. Por exemplo, o conselho de esperar para que as emoções esfriem é o argumento dos fabricantes de armas a cada vez que, nos EUA, um exterminador invade uma escola e o Congresso propõe leis de controle das armas. Os fabricantes de armas querem que esperemos para quê? Pois é, para que a gente se esqueça e se desmobilize.
3) Conheço só uma consideração racional a favor da maioridade penal aos 18 anos, e ela não é boa: o córtex pré-frontal (zona do cérebro que controla os impulsos) não está totalmente desenvolvido na infância e na adolescência.
Tudo bem, se aceitarmos essa consideração, deveríamos aumentar seriamente a maioridade penal, pois o córtex pré-frontal se desenvolve até os 25 anos ou além. Além disso, deveríamos julgar como menores todos os adultos impulsivos, que nunca desenvolveram um córtex pré-frontal "satisfatório".
4) As outras "considerações racionais" (que deveriam prevalecer sobre o impacto das emoções) são apenas disfarces de emoções especificamente modernas que, à força de serem compartilhadas, se tornaram chavões ideológicos.
Três deles são corolários de nossa "infantolatria", ou seja, da paixão narcisista que nos faz venerar crianças e jovens porque, graças a eles, esperamos continuar presentes no mundo depois de nossa morte.
Primeiro, queremos que as crianças nos apareçam como querubins felizes como nós nunca fomos e nunca seremos. Por isso, preferimos imaginar que os jovens sejam naturalmente bons. Quando eles forem maus, atribuímos a culpa à sociedade e a nós mesmos. Portanto, não podemos puni-los, mas devemos, isso sim, nos punir.
Tendo a pensar o contrário: as crianças podem ser simpáticas, mas são más (briguentas, possessivas, invejosas, mentirosas, ingratas etc.); às vezes, elas melhoram crescendo, ou seja, a cultura pode civilizá-las (ou piorá-las, claro).
Segundo, adoramos acreditar que sempre podemos mudar (para melhor, claro): apostamos que a liberdade do indivíduo permita qualquer reviravolta --até a salvação eterna pelo arrependimento na hora da morte. A possibilidade de os criminosos (ainda mais jovens) se redimirem confirma nossa crença querida.
Terceiro, acreditamos também na fábula da reciprocidade amorosa: quem ama será amado. Se forem bem tratados e se sentirem amados e respeitados, os jovens se emendarão. É só confiar neles, deixá-los impunes e lhes oferecer castiçais de prata, como o padre que presenteia Jean Valjean.
Meus amigos, "Les Misérables" é lindo e comovedor, mas é um romance, ok? Na outra noite, no bairro do Belém, teria sido melhor que aparecesse Javert.

7 comentários:

Anônimo disse...

esse lado emocional latino descontrolado eh que nos leva a desgraça...

essa mania de rir ou chorar por tudo e de qualquer coisa eh a nossa cova mais profunda...

Alexandre, The Great disse...

Toda sociedade evolui, as leis têm que acompanhar a evolução social, sob pena de ficarem anacrônicas e obsoletas como no caso do ECA.

albiral disse...

Caro Aluizio veja o que encontrei em um site alagoano; trecho de um audio em que Diosdado Cabello confessa que é muito dificil ganhar de Caprilles e ali promeditam uma farsa. Fonte- alagoasreal.blogspot.com.br
grato. albiral@gmail.com

albiral disse...

Caro Aluizio veja o que Diosdado Cabello conversa com um interlocutor sobre CapriLles, muito compremetedor... a conversa esta em alagoasreal.blogspot.com. br

grato albiral@gmail.com

Anônimo disse...

Olá, o problema sempre foram as leis brasileiras, no caso dos adolescentes também o problema é a lei, o ECA é relativista, ao que me parece ele trata todas as crianças de forma igual, e todos sabemos que a índole é que importa, a mesma coisa foi feita com a mulher, agora com as empregadas, com os gays, todos eles tem uma lei que garante sua defesa, lamentável.

HD disse...

Eu já cansei de dizer porque a maioridade penal não é reduzida, mas os meus comentários sobre isso nunca são publicados. Não sei exatamente o porquê disso.

Vamos de novo:
A maioridade não será reduzida porque os menores infratores, juntamente com as penitenciárias cheias, são um grande negócio do nosso sistema. É como se fossem sóis com uma grande quantidade de planetas ao redor deles, se alimentando deles, basta fazer uma lista de todos os "profissionais planetas" que vivem graças àqueles sóis. Podemos começar por um simples faxineiro e ir até o ponto mais alto da nossa brilhante estrutura social, aí saberemos porque essas coisas são quase que intocáveis.

Desta vez tomei o máximo cuidado de não citar nominalmente a lista de "profissionais" que se alimentam das estruturas citadas. Talvez seja por isso que o meu comentário nunca foi publicado. Porém, de certeza, os leitores saberão quem é essa longa e interminável lista, que não deixa fazer mudanças naquelas estruturas.

rafernandes disse...

Caro Aluísio,

Despretenciosamente escrevi um artigo sobre esse tema do meu "bloguinho" particular (http://meusinteresses.blogspot.com/2013/04/reducao-da-maioridade-penal.html ). Infelizmente, não sei como reproduzí-lo aqui mas, pelo link fornecido acima, quem tiver interesse poderá ler o meu comentário à respeito.

Abraço do seu leitor assíduo e (in)constante "comentador".