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segunda-feira, abril 15, 2013

ARTIGO: Venezuela, um país dividido.

Por Nilson Borges Filho (*)

A eleição de Nicolás Maduro por apenas 230 mil votos de diferença para Henrique Capriles  é demonstração inequívoca de que o chavismo está dando os primeiros sinais de esgotamento. Mesmo contando de forma avassaladora com a máquina administrativa a seu favor, aliando-se a isso com a mídia estatal a serviço de sua candidatura, Maduro não foi além de 1,59  ponto percentual à frente do candidato da oposição.

Para se ter uma pequena ideia da manipulação eleitoral na Venezuela, basta observar que na cédula eleitoral o nome de Nicolás Maduro aparece 14 vezes, sendo que o nome de Capriles é citado uma única vez.

A vigarice se sustenta no sistema eleitoral venezuelano, onde cada partido que apoia determinado candidato apresenta seus candidatos a outros cargos juntamente com o cabeça de chapa para a presidência. Como Maduro tem um leque de partidos – a maioria nanicos – apoiando sua candidatura, na cédula eleitoral a sua foto é repetida inúmeras vezes.

Além disso, existem indícios escabrosos de que houve vício em diversas urnas espalhadas por todo o território. A pressa de Maduro em oficializar o resultado e não admitir a recontagem dos votos é bem sintomática de que ocorreram irregularidades.

O marqueteiro chavista, João Santana, se utilizou de todos os meios para potencializar o candidato da situação, inclusive baixando o nível da campanha ao patamar do esgoto. Como Capriles é solteiro, as insinuações grosseiras de Maduro – um motorista de ônibus semianalfabeto – visavam atingir o oposicionista junto ao eleitorado mais conservador. Para quem não sabe, João Santana é o marqueteiro oficial do lulopetismo e tem todas as credenciais para fazer esse tipo de apelação eleitoreira.

O regime chavista se sustenta num populismo, cujos programas sociais, abastecidos pelos petrodólares, sangram as contas do Estado. Os números não são lá muitos confiáveis, mas acredita-se que 50% da população da Venezuela estão, de alguma maneira, encostados no aparelho estatal.

O momento atual na vizinha Venezuela é de crise: inflação nas nuvens, desabastecimento de produtos básicos nas gôndolas dos supermercados, índice altíssimo de violência urbana e, politicamente, um país dividido.

O Poder Legislativo encontra-se nas mãos do chavismo, que concentra a maioria dos parlamentares. O Poder Judiciário, quando provocado, é um apêndice do Poder Executivo e totalmente subserviente ao governo. A inexistência de liberdade de expressão serve de ingrediente ao chavismo para se manter no poder.

As Forças Armadas, cujos principais comandos foram corrompidos pelas facilidades que o chavismo lhes oferece – age como guarda pretoriana do regime. Há informações de que militares favoráveis a legalidade encontram-se presos.

No cenário internacional, a política externa venezuelana é vista com desconfiança. O amadorismo dos seus diplomatas é citado nos gabinetes das chancelarias das grandes potências e alvo de chacotas. Os números que saíram das urnas remetem a uma vocação mudancista de boa parcela da população da Venezuela e informam que não será nada fácil para o próximo governo administrar o descontentamento popular.

(*) Nilson Borges Filho é mestre, doutor e pós-doutor em Direito e colaborador deste blog.

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