quarta-feira, agosto 14, 2013

A MÁSCARA DA IGNORÂNCIA: VOCÊ SABE QUEM FOI GUY FAWKES?

A imagem que ilustra este post é a famosa máscara de Guy Fawkes que esconde o rosto dos vândalos que promovem a anarquia e quebra-quebra durante os protestos nas ruas do Brasil e em todo o planeta. Tudo a ver.
A verdade é que boa parte, senão a maioria dos camuflados por trás da máscara de Fawkes, não sabem explicar a origem desse adereço. 
A máscara é uma criação do desenhista David Lloud, coautor da HQ V de Vingança (1982) e representa Guy Fawkes, um inglês que participou da Conspiração da Pólvora, que planejava explodir o Parlamento durante um discurso do rei James I. Em 5 de novembro de 1605, Fawkes foi preso em condenado a morte por traição.
Em 2006, V de Vingança foi adaptado para o cinema. Dois anos depois, o movimento hacker Anonymous adotou a máscara para protestar contra a igreja da Cientologia nos Estados Unidos.
O acessório se tornou um símbolo de 2011, quando foi visto em protestos por todo o mundo, como nos movimentos Occupy. Mas mesmo sendo um ícone anticorporações, a venda da máscara dá muito dinheiro a uma grande empresa. A Time Warner detém seu direitos autorais. Um exemplo concreto de como o capitalismo é capaz de transformar em mercadoria qualquer coisa e fazendo dinheiro, movimentando a economia, criando empresas, gerando empregos e matando a fome de muita gente. Enquanto alguns bobalhões mascarados destroem propriedades públicas e privadas usando a máscara de Guy Fawkes, por certo sabem pouco sobre o personagem que originou esfígie, a mostrar a avassaladora ignorância da dita “cultura pop’.
A propósito, encontrei um texto excelente da jornalista Isabela Boscov, crítica de cinema da revista Veja, numa edição de 2006, quando ela detona o filme dos irmãos Wachowski.
Destaco a parte que se refere à venerada máscara de Guy Fawkes. Em determinada altura a crítica de Boscov é impiedosa e consistente sobre esse filme cultuado principalmente por uma geração de idiotas completos. Diz a articulista: “O que chama atenção em V de Vingança são sua ignorância obstinada e a afiliação irrefletida ao pensamento de que o “sistema”, seja ele qual for, é corrupto e nocivo.” 
De fato é isso que acontece e se pode constatar nas arruaças difusas que explodem nas ruas das grandes cidades. Claro, nas pequenas cidades, nas zonas rurais, as pessoas estão plantando e produzindo a comida que mata a fome dos vândalos mascarados.
Mas a parte mais interessante do texto de Isabela Boscov, é a que resume quem foi Guy Fawkes, revelando, por outro lado, que um espaço intransponível separa dois contextos históricos e políticos que tornam non sense, para não dizer uma tremenda idiotice, os que cobrem o rosto com a famosa máscara.
Diz a articulista, ao referir-se ao filme em questão e a Fawkes: “Ainda mais curiosa que a lógica de V, por exemplo, é o homem que ele imita na vestimenta e na máscara: Guy Fawakes, um católico que, em 1605, planejou dizimar a aristocracia protestante explodindo a Câmara dos Lordes. Fawkes foi flagrado nos porões do parlamento com 36 barris de pólvora e enforcado, proporcionando aos ingleses uma brincadeira parecida com a malhação de Judas. 
Todo 5 de novembro, data da chamada Conspiração da Pólvora, bonecos de Fawkes são enforcados e queimados e fogos de artifício pipocam por toda a Inglaterra.”
E aqui vem a parte mais elucidativa do texto de Boscov, ou seja, a questão dos contextos históricos, expondo a ignorância da dita cultura pop: “Que, em 2006 ou 2020, alguém ache Fawkes uma figura inspiradora é intrigante. Quatrocentos anos atrás, o edifício do Parlamento era um símbolo do absolutismo. Hoje, ao contrário, ele representa outro tipo de “sistema” - o constitucionalismo, e numa de suas versões mais bem-sucedidas. É difícil também imaginar que, em 2400, americanos venham a se divertir malhando efígies de Osama bin Laden. Se Fawkes se presta a brincadeira é porque não teve a competência de sua contrapartida saudita para cometer um assassinato em massa. Mas bem que tentou”.
Moral da história: Há quatrocentos anos Guy Fawkes morreu na forca por combater o absolutismo. Em sua versão do século XXI redivivo no rosto dos vândalos, Fawkes luta para restabelecer, vejam só, o absolutismo representado nestes tempos pelo “socialismo do século XXI”. O parlamento constitucional e democrático costuma ser o alvo preferido dos mascarados. Exigem o fechamento do Congresso, justamente o sustentáculo do regime democrático. A instituição é impoluta, quem a conspurca são os homens que lá estão.
A ignorância não tem limites.

4 comentários:

  1. Aluízio,
    Fantástico texto!
    Disse tudo!


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  2. Os "mascarados" de hoje merecem o mesmo fim de Fawkes. Porém recebem assistência "gratuita" de ONGs e advogados companheiros de plantão..

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  3. Rodrigo Silveira15 agosto, 2013

    Acho uma bobagem comparar a realidade da história em quadrinhos com os fatos históricos. O mundo totalitário em que vive é o sonho de consumo de ditaduras, com a população absolutamente alienada. Estado assassino de fato, não simbolicamente. Fica claro, até no filme, que V não é uma pessoa equilibrada. Não é o típico herói. Ás pessoas fazem isso dele por lutar contra um mal maior. O ponto de vista da jornalista nada tem a ver com a obra artística, com nenhuma delas. Me parece mais ignorância da parte dela, ou má-fé, dizer que a história é contra qualquer sistema. Não é. O protagonista quer, justamente, voltar ao sistema anterior, no qual as pessoas tinham liberdades. Ainda que fosse um anarquista total, seria plenamente compreensível, tendo em vista que foi preso e alvo de experiências científicas que transformaram ele num monstro, tudo por conta do poder vigente. Correto, não sei; compreensível, com certeza. Enfim, grande bobagem o tal artigo.

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  4. Antes de comentarem qualquer coisa ou escreverem procurem saber a real História.

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