Depois dirão que Lula é um sujeito azarado

Por Paulo Castellari Filho (*)

As pessoas ainda não se deram conta e não têm a menor consciência do que está acontecendo no mundo. Dirão que o mercado vai repicar. O que não se sabe por aqui é o seguinte:

Os bancos americanos estão em meio a grandes problemas financeiros e os incautos indagarão por que isso pode estar acontecendo?

Bom, vamos aos fatos. O mundo produz cerca de U$ 50 trilhões de dólares por ano, somando-se os Produtos internos de cada país. Os EUA sozinho produzem U$ 13 trilhões.

A dívida interna americana é composta de U$ 9 trilhões em débitos em cartões de crédito, outros U$ 10 trilhões em dívida pública, e mais U$ 50 trilhões são carregados como obrigações em seguridade social.

Por outro lado há o mercado de derivativos. Esse mercado em 2003 era de U$ 100 trilhões e em 2007 já era de U$ 500 trilhões. Esses fatos são a raiz da questão, isto é, muito dinheiro em circulação.

A moeda americana, que há anos é a moeda corrente mundial, está perdendo valor rapidamente. Os Estados Unidos estão claramente perdendo o controle de sua economia graças à sua divida monstruosa. Não é à toa que os bancos estão nervosos.

O valor do dólar é o que está levando quem tem dinheiro a colocar seus bens no mercado que está subindo, ou seja, commodities de todas as classes. Ninguém quer mais ter dólar na mão, preferem petróleo, ou trigo, ou milho. A não ser que o dólar volte a se valorizar, evidentemente.

Para isso o FED teria de tomar a atitude de elevar as suas taxas de juros, mas isso mataria a economia americana em poucas semanas, pois o mercado de crédito cairia à zero, os juros das hipotecas subiriam drasticamente e os mercados entrariam em colapso total em semanas.

Aumentar as taxas de juros não é uma solução para os EUA, ainda que não fazer nada também não seja. É que em breve ninguém mais vai querer dólares.

O problema parece insolúvel, mas será equacionado, quer os EUA tomem ou não qualquer atitude. O preço do petróleo subindo apenas mais alguns dólares impedirá que as pessoas do norte do hemisfério norte se aqueçam no próximo inverno.

Impedirá o transporte global de funcionar e, no meio disso tudo veremos a migração de milhões de pessoas para terras mais quentes, caso os governos não tomem providências de fornecer o combustível para que elas se aqueçam.

Os problemas das pessoas são reais, infelizmente. Quando a percepção de que o mundo não pode mais crescer, quando os EUA perderem o controle total sobre a moeda, a corrida contra o dólar acontecerá.

O que ocorrerá dá para imaginar, embora todo o potencial de minha imaginação não dê conta de desenhar o tamanho da encrenca.

Aqui no Brasil vivem dizendo que o Lula é um cara de sorte. Entretanto, boa parte das minhas previsões se converteu agora em realidade. Há um ano, quando eu falava da inflação mundial e do problema do dólar, muitos me consideravam pessimista.

Agora estou analisando o impacto da alta do preço do petróleo na economia global e os perversos respingos sobre a economia dos países emergentes como o Brasil. Sei que mais uma vez os otimistas de plantão dirão que estou exagerando.

Mas acreditem, essa crise vai doer. O soluço da economia mundial será profundo. Já estou vendo as pessoas dizerem: Lula é um sujeito azarado.

(*) Paulo Castellari Filho é expert em bolsa de valores e analista de mercado, opera em São Paulo e é colaborador deste blog. Edita também o Blog do Nathal (links).