Na íntegra a coluna de Diogo Mainardi, na Veja que já está nas bancas mas que chega aqui em Florianópolis apenas no domingo. É que São Paulo fica muito longe...hehehe...
Um empresário tinha um projeto para montar uma usina de biodiesel em Caarapó. O que ele fez para acelerar o licenciamento do governo? Telefonou para Marcelo Sato, genro de Lula, e disse:
– Nosso processo está na área jurídica da ANP. Preciso que você fale com o diretor ou o presidente.
O genro de Lula obedeceu:
– Estou ligando agora.
A conversa foi grampeada pela PF e vazada ilegalmente, na última quarta-feira, para a imprensa catarinense. O genro de Lula é mencionado em outros grampos.
Num deles, o mesmo empresário manda um de seus funcionários comprar imediatamente um computador portátil para Marcelo Sato, argumentando que ele o punha "na frente do presidente, do ministro".
Feche os olhos e reúna todos os elementos desse episódio: usina de biodiesel, Caarapó, genro de Lula, diretor ou presidente da ANP, grampos da PF, vazamentos ilegais, computador portátil, presidente da República, ministro.
Qual é o resultado? O resultado é um retrato do nosso atraso, do nosso primarismo. É como se fosse o Mercado de Escravos na Rua do Valongo, de Debret, só que ainda mais tosco. Captura, numa única cena, com pinceladas esparsas, a nossa indolente selvageria. Na falta de um Debret, temos os grampos naturalistas da PF.
Duas semanas atrás, no Ministério da Fazenda, Dilma Rousseff anunciou o fim do neoliberalismo. Aparentemente, era a senha que o mercado financeiro internacional aguardava para implodir.
Atendendo à peremptória palavra de ordem da ministra da Casa Civil, os maiores investidores do mundo venderam atabalhoadamente todos os seus ativos. A queda da Bolsa de Valores de Nova York foi comparada à de 1929.
Os jornais americanos passaram a evocar imagens daquele tempo. Filas de desemprego. Mendigos nas ruas. Bancos falidos. Por alguns dias, os Estados Unidos sentiram-se num melodrama de Frank Capra, à espera do galante Mr. Deeds.
Enquanto isso, Lula, o nosso Mr. Deeds, o Gary Cooper de Caetés, fazia chacota dos americanos, passando um pito no presidente George W. Bush e garantindo que o Brasil estava imunizado contra a crise financeira.
O Brasil ainda é aquele retratado por Debret: arcaico, analfabeto, corrupto, piolhento, com sua economia baseada em matérias-primas. E nossos governantes ainda ostentam aquela triste pompa imperial, que se esfrangalha diante da realidade.
No número especial que comemora os 40 anos de VEJA, foram selecionadas as frases que melhor sintetizam o período.
A primeira delas é o lema da ditadura militar: "Ninguém segura este país". A última foi pronunciada recentemente por Lula: "Ninguém segura este país".
De quarenta em quarenta anos, o Brasil acredita que chegou a hora de sair da Rua do Valongo. Mas a gente sempre acaba sendo arrastado de volta para lá.
sábado, setembro 20, 2008
Diogo Mainardi: Ninguém segura este país.
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Postado por
Aluizio Amorim
às
9/20/2008 02:21:00 AM
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2 comentários:
Diogo Mainardi é, sem dúvida, um dos últimos articulistas da grande imprensa que não se deixa intimidar pelo patrulhamento petista e, muito menos, pelo ufanismo messiânico da propaganda lulista.
Graaande Mainardi!
Acrescentaria apenas a minha condição e de uma imensa maioria neste "mercado da Rua do Valongo": somos os escravos, os serviçais, que temos de trabalhar para sustentar a corja de vagabundos, larápios e unhantes que ocupam os palácios.
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