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quarta-feira, outubro 01, 2008

Mainardi: como foi que eu me tornei Nando Mericoni

Nando Mericoni é o personagem de Alberto Sordi em Um americano em Roma. Nota de rodapé número 1: o filme é de 1954.

Nota de rodapé número 2: foi feito por Steno, um dos diretores mais subestimados de todos os tempos, aquele que fez os melhores filmes de Totó.

Nota de rodapé número 3: um de seus roteiristas é Ettore Scola, bem antes de os franceses o estragarem, convencendo-o a abandonar a comédia. E agora chega de notas de rodapé.

A trama de Um americano em Roma é elementar. Aliás, já está perfeitamente resumida no título. Nando Mericoni, um inútil que mora com os pais num bairro popular de Roma, mitifica patologicamente os Estados Unidos.

Seu sonho é se transferir para lá. Ele imita os americanos em tudo. Usa jeans e boné de beisebol. Prega nas paredes cartazes de Joe di Maggio.


Com sua motocicleta, na periferia de Roma, finge ser um policial de Kansas City. Fala uma língua macarrônica, que mistura o dialeto romano com um ou outro termo equivocado em inglês.

Uma noite, Nando Mericoni chega em casa esfaimado. Em vez de comer a macarronada preparada pela "mommie", ele mistura num prato geléia, iogurte, mostarda e leite frio porque, segundo ele, comendo isso os americanos "Jim e Joe" derrotaram os apaches.


Depois de cuspir enojado a primeira colherada, ele decide atacar impetuosamente a macarronada, com seus modos de caubói, dizendo: "Você me provocou, eu te destruo, macaroni. Verme, vou te comer". É uma das cenas mais manjadas - e mais reprisadas - da história do cinema italiano.

E eu? Como pude regredir tanto assim, passando do americanismo erudito de Tocqueville e Raymond Aron, de 20 anos atrás - ou de 25 anos atrás -, ao meu atual estilo Nando Mericoni?

Quando enfiei o uniforme de policial de Kansas City e me transformei nessa espécie de americano em Ipanema? Os Estados Unidos haviam acabado de libertar a Itália de Nando Mericoni da tirania nazista.

Hoje em dia, deve haver alguém igual a ele na periferia de Faluja, no Iraque, mascando chiclete e com bracelete de couro. O meu caso é mais peculiar. Com o empobrecimento do debate político, só me restou defender a imagem idealizada e simplificada do sistema americano. Sou o Nando Mericoni da geopolítica.

No fim de Um americano em Roma, o personagem de Alberto Sordi sobe no Coliseu e promete suicidar-se caso não o levem para os Estados Unidos.


Eu estou como ele, metaforicamente pendurado no parapeito da janela, tentando migrar para um universo imaginário, onde Jim e Joe sempre derrotam os apaches.

MEU COMENTÁRIO: Está perfeito o texto do podcast do Diogo Mainardi. Vi o filme, uma comédia e tanto. No início dos anos 90, procurei numa dessas locadoras de vídeo-cassete (que coisa mais antiga...hehehe...) e encontrei Um ameriano em Roma.

A cena que posto acima realmente é engrassadíssima. Entretanto, já naquela época os antiamericanos estavam de prontidão. A sátira interpretada por Alberto Sordi não deixa de ser uma gozação para cima dos americanos.

Entretanto, foram os americanos que libertaram a Europa do nazi-fascismo.

Dia desses, enquanto Chávez e o índio de araque da Bolívia nas suas contumazes catilinárias anti-americanas, alardeando que os Estados Unidos queriam derrubar seus governos, uma autoridade americana, que não lembro agora o nome, respondeu com uma frase lapidar e que resume tudo: "nós não queremos derrubar governo nenhum, queremos é derrubar a miséria".

Clicando duas vezes sobre o vídeo vocês vão até o YouTube e lá há várias cenas dessa comédia.

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