Logo após a divulgação do resultado das eleições de 5 de outubro, o que mais chamou a atenção dos analistas políticos foi a quase derrota do candidato Márcio Lacerda, uma invenção do governador Aécio Neves e do prefeito Fernando Pimentel.
Pela primeira vez, em escala maior, PSDB e PT formalizaram uma aliança, mesmo que informal, para disputar a prefeitura de uma capital do porte de Belo Horizonte.
Embora o governador mineiro conte com uma aceitação de mais de 80% dos eleitores belo-horizontinos, o PSDB não dispunha em seus quadros de um nome que pudesse viabilizar uma candidatura com densidade eleitoral.
Talvez o vice-governador, Antônio Augusto Anastasia, fosse um nome a ser trabalhado.
Do lado petista, o melhor nome para substituir Pimentel e com ótimas chances leitorais seria a candidatura do ex-prefeito e atual ministro do Desenvolvimento Social Patrus Ananias.
Aqueles que acompanham de perto a política mineira viam na candidatura do ministro a única alternativa petista de se manter no poder.
Patrus se negou a colocar o nome à disposição do partido, sob a alegação de que já havia sido prefeito e que muito precisava ser feito no ministério.
A partir daí, Aécio e Pimentel decidem lançar o nome do empresário Márcio Lacerda, filiado ao PSB, por sugestão do governador mineiro, à prefeitura de Belo Horizonte, em cima de uma ampla coalizão partidária.
O PT lançou o candidato a vice, o ex-sindicalista e deputado estadual Roberto Carvalho. O PSDB aparece nesse arranjo eleitoral, articulado pelas duas lideranças mineiras, exercendo o papel de apoiador informal.
Pelas cabeças de Aécio e Pimentel, em nenhum momento, passou a idéia de que o eleitor rejeitaria esse tipo de aliança política, de cima pra baixo.
E tem mais: ninguém, em sã consciência, apostaria que o eleitor belo-horizontino faria uma leitura política da movimentação do governador e do prefeito como sendo um projeto eleitoral personalista, com Aécio pavimentando a sua candidatura à presidência da República e Pimentel se apresentando à sucessão estadual, com o apoio do atual governador.
Para as duas lideranças tudo estava muito claro, ou seja, uma aliança eleitoral vitoriosa, com um cabeça de chapa de um terceiro partido, plenamente aceito pelo PSDB e palatável ao PT ou parte dele, já que os ministros Luiz Dulci e Patrus Ananias se posicionaram, dentro do partido, contrários à aliança.
A rigor, a tomada de posição de Patrus foi motivada porque também está de olho no Palácio da Liberdade, sede do governo mineiro. No papel de coadjuvante, o candidato Márcio Lacerda.
Empresário polêmico, rico, desprovido de carisma, péssimo na função de se comunicar com o eleitor, Lacerda é incapaz de convecer quem quer que seja.
Chegou ao segundo turno pela força eleitoral dos seus dois principais apoiadores, pela competência da equipe de marketing e pela robustez financeira da sua campanha.
Tudo poderia estar correndo a contento se no meio do caminho, como diria Drummond, não surgisse a candidatura de um político jovem, que sabe se comunicar com o público, evangélico e portador de um discurso emocionalizado, mas sem conteúdo, é verdade.
O sotaque do candidato Leonardo Quintão é aquele que toca fundo no povo e transborda mineiridade.
Para neutralizar qualquer preconceito por ser evangélico, Quintão trouxe como seu vice um deputado estadual, representante da corrente carismática da igreja católica. Mesmo com uma boa formação intelectual, inclusive no exterior, Quintão é inexperiente em gestão pública.
O PDT fechou com o candidato da aliança, já o PC do B acompanha a candidatura do peemedebista.
Parcela expressiva do PT, que não engoliu essa aliança com o PSDB e não quer Aécio dando as cartas na prefeitura, vai de Leonardo Quintão. Agora, não é bom subestimar a capacidade política de Aécio e Pimentel.
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Nessas eleições, um deputado mineiro, conhecido pelo estilo deixa-que-eu-chuto, bastava ouvir o barulho de um flash que logo se posicionava ao lado de Aécio e Pimentel, sempre com um sorriso de orelha a orelha.
Hoje, Sua Excelência atende pelo apelido de “maritaca alegre”. Para os não iniciados, a maritaca pertence à família dos papagaios e é muito comum no cerrado mineiro.
(*) Nilson Borges Filho é doutor em Direito, professor e colaborador deste blog.
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