O bom jazz para contrabalançar a onda 'kitsch'

Esta apresentação do trio do Michel Petrucciani escolhi a dedo no YouTube. É para contrabalançar o kitsch que impera na política e vai contaminando tudo. Hoje faz sucesso pagode e hip hop e coisas do gênero.

Petrucianni foi um virtuose e morreu como menos de 40 anos de idade. Era francês de origem italiana, mas no início dos anos 80 imigrou para os Estados Unidos para tornar-se um dos ícones do jazz.

Sofria de um mal conhecido vulgarmente como "ossos de cristal" (osteogênese imperfecta) que não deixou que sua altura ultrapassasse os 98 centímetros e ainda precisava de muletas para poder andar.

Numa entrevista que concedeu pouco antes de falecer de uma infecção pulmonar agravada em virtude da má formação congênita de sua estrutura física, Petrucciani confessou que a doença que lhe afastou das brincadeiras com as outras crianças, impondo-lhe uma dura solidão, fez com que se dedicasse ao piano.

Notem que a moléstia só não lhe afetou o crânio que continha um cérebro privilegiado, inteligentíssimo, e as mãos fortes e grandes para impulsionar com vigor e precisão as teclas do instrumento

No piano transformava-se num gigante. Este vídeo é parte de um DVD, creio que de um show que apresentou na Alemanha no início dos anos 90. Reparem que isto é uma execução ao vivo, mas não se encontra uma falha sequer. A harmonia e o arranjo são de extremo bom gosto.

A música é a deliciosa Chloe meets Gershwin, composição do próprio Petrucciani. Integram o trio de Petrucciani o competente baixista Anthony Jackson e o legendário baterista Steve Gad.

Com esses gênios do jazz pretendo retornar com a sessão Música do Blog, resultado de uma garimpagem que de vez em quando faço no YouTube, algo que me dá muita satisfação e prazer, mas confesso, com uma ponta de melancolia.

A percepção de que a humanidade é parcimoniosa na produção da genialidade e extremamente generosa na geração de todas as iniqüidades levam-me a intuir um futuro pouco interessante no plano da criatividade artística. Isto é melancólico. Espero que esteja errado.

A população da Terra já ultrapassa os 6 bilhões de seres humanos. Parece que a genialidade em todas as artes foi muito mais abundante num tempo em que havia menos gente sobre o planeta, mais glamour e sensibilidade.