TRANSLATE/TRADUTOR

sexta-feira, março 13, 2009

A ENTREVISTA DE GABEIRA E UMA ANÁLISE

Ao analisar o recente debate sobre as ações do Movimento dos Sem-Terra (MST), suscitado por declarações do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, que pediu uma ação mais enérgica no campo, o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ) observa que movimento está cada vez mais isolado.

Para o deputado e ex-guerrilheiro (ele participou da luta armada contra o regime militar), isso ocorre por causa da violação das leis de um país democrático e porque a bandeira da reforma agrária enfrenta restrições até em setores da esquerda. Ele diz ainda que o MST sobrevive porque o governo, que também já não acredita na reforma, continua a apoiá-lo.

A que o senhor atribui o clima de tensão na área agrária?
O MST diz que o governo é ineficaz na execução da reforma agrária. O ministro Gilmar Mendes, por sua vez, pede presença maior do Judiciário. Esse debate é muito necessário, porque o projeto de reforma agrária, pensado no governo anterior e desenvolvido neste governo, chegou a impasse. Poucos acreditam na sua eficácia e sustentabilidade. A maioria das pessoas, mesmo as de esquerda, hoje perguntam se é esse o caminho a ser seguido. Para o MST, no entanto, que precisa manter sua militância sempre atuante, o problema todo se resume à lentidão, à ineficácia e à insuficiência de verbas. É preciso debater essa reforma na qual nem os governos acreditam mais.

Nem os governos?
O governo já compreendeu que a reforma reivindicada pelo MST não vai dar pé. O correto seria reconhecer que abre mão desse modelo de reforma. Mas ele não está preparado para isso - ou não encontrou uma alternativa para pôr no lugar. O que vemos é o governo comprometido em manter o MST mais ou menos tranquilo, mas sem se comprometer de fato com a reforma agrária. O MST, por sua vez, não precisa da reforma, mas sim da promessa de reforma. Chegamos a uma situação absurda: o governo promete a reforma e distribui cesta básica para o pessoal. Em vez de serem produtores de alimentos, como dizem almejar, eles consomem alimentos.

Um dos focos da polêmica recente foi a legalidade das ações do MST.
O MST contou, durante algum tempo, com grande simpatia da classe média. Essa simpatia, porém, foi sendo dilapidada progressivamente. O fato de a luta continuar sem um avanço visível, num contexto de invasões, reduziu a simpatia.

O senhor identifica algum momento mais significativo dessa mudança na opinião pública?
Lembro de dois fatos simbólicos. Um foi a invasão da fazenda de Fernando Henrique Cardoso, quando os sem-terra apareceram sentados na sala, comendo, simulando a tomada do poder. Outro foi a destruição de laboratórios de pesquisas no Rio Grande do Sul. Mesmo setores que desconfiam do uso de sementes transgênicas não apoiaram aquele ato. Foi um ato contra o conhecimento. Mas ainda existem outras questões que ajudam a explicar a mudança na classe média. Uma delas é a constatação de que grande parte da destruição ambiental na Amazônia está ligada à ocupação de áreas no contexto da reforma agrária.

O senhor participou da luta armada contra a ditadura, desafiando as leis da época. O MST pode obter conquistas nos limites legais?
Não vejo semelhança entre as duas situações. Naquela época era equivocado pegar em armas. Mas era no contexto de uma ditadura militar. Hoje vivemos numa democracia.

MEU COMENTÁRIO: Um leitor sugeriu ao blog um comentários a respeito desta entrevista com o Gabeira que está na edição desta sexta-feira do Estadão.

Considero que as respostas de Gabeira são sensatas e refletem uma realidade, quando se nota um repúdio dos brasileiros - pelos menos a parcela esclarecida e consciente - aos atos de terrorismo praticados pelo MST.

Gabeira é dos poucos políticos da velha esquerda que combateu a ditadura em busca da democracia e tem reafirmado o propósito democrático. Entretanto, parece ter ainda um pé no esquerdismo, porquanto abraçou a bandeira do ecochatismo politicamente correto, ainda que não seja ele um fanático.

Depois da queda do Muro de Berlim e o esfacelamento da URSS, o que comprovou na prática da inviabilidade do sistema socialista, o esquerdistas viraram "órfãos da ideologia", e acabaram abraçando o políticamente correto.

Porém, Gabeira, sem dúvida, está entre os mais sensatos e isto ficou evidente quando pulou fora do PT, ainda que se tenha refugiado no Partido Verde que representaria a esquerda light, fato que parece representar um alento e um conforto para todos aqueles que relutam em encarar de frente a verdade: o esquerdismo é a maior idiotice já formulada pelo pensamento humano.

O que é importante é a profissão de fé democrática expressada por Gabeira e isto adquire uma importância fundamental por ser ele um dos vigorosos combatentes da ditadura militar.

É que a maioria da dita esquerda lutava contra a ditadura sob o pretexto de defender a democracia, mas na verdade pretendia substituir a ditadura dos generais por uma ditadura socialista.

Gabeira, neste caso, como afirmei, é uma exceção, por demonstrar inteligência e senso crítico em relação à idiotice esquerdista.

Discordo apenas da interpretação que dá Gabeira no caso do apoio do governo do PT ao MST. Ora, o governo apóia e usa esses grupos terroristas, que denomina "movimentos sociais", como seus bate-paus, como grupos de pressão para intimidar a oposição e toda a sociedade.

E assim procede não porque quer a reforma agrária e o fim da miséria. Mas porque que quer eternizar-se no poder. O esquerdismo vive da miséria alheia dentro de seus palácios.

Falta a Gabeira a radicalização em favor da democracia. Aquela mesma radicalização que usou para combater a ditadura militar.

Aliás, é o que falta à maioria dos políticos da oposição e por isso mesmo o Brasil corre o risco de ser a Venezuela amanhã.

4 comentários:

Anônimo disse...

Sei ñ, com terroristas ou "ex-terroristas" todo o cuidado é pouco. Ñ dá pra avaliar nessa simples declaração ao 'Estadão'. Com esse tipo de gente, é melhor tomarmos cautela

Alexandre, The Great disse...

O comentário está melhor que a entrevista.
Parabéns Aluízio!

Anônimo disse...

HÁ ANOS, LI UM LIVRO INTITULADO "VOCÊ PODE CONFIAR NOS COMUNISTAS - ELES SÃO COMUNISTAS MESMO!" TANTO QUE TEM GENTE COM MAIS DE CEM ANOS QUE AINDA HOJE ACREDITA NA REVOLUÇÃO RUSSA, CUJO IMPÉRIO RUIU NOS ANOS 80. OU SEJA, QUEM FOI DE ESQUERDA SEMPRE CONTINUARÁ SENDO E PRETENDENDO TOMAR E SE PERPETUAR NO GOVERNO. EDSON.

Anônimo disse...

Gabeira não se engajou na "Luta armada contra o regime militar". Ele participou da luta armada pela implantação do comunismo no Brasil (aos moldes soviéticos). Isso vale para José Dirceu, Dilma, Genoíno e outros que hoje posam de defensores da democracia contra a ditadura.
Tivessem eles sido bem sucedidos, estaríamos hoje isolados do mundo, juntamente com Cuba.