Numa reportagem intitulada "Indústria do Holocausto", na Veja que foi às bancas neste final de semana, Isabela Boscov faz um inventário da vangabundagem cinematográfica que banaliza o mal do Holocausto dos judeus, usando o tema comercialmente sem nenhum critério. Na verdade o utilizam de forma irresponsável.
Pelo senso comum vigorante, açulado pelo antissemitismo, os judeus controlam o cinema, as finanças e as comunicações. Se isto fosse verdade não estaríam nas telas filmes que fazem abordagens que contribuem para trivializar o Holocausto e atiçar o antissemitismo.
E, se a grande mídia fosse realmente controlada pelos judeus, os jornais não estaríam publicando todos os dias matérias que são completamente contra o Estado e Israel e o povo judeu, distorcendo a verdade no caso dos revides de Israel aos ataques do árabes assassinos. Outro exemplo da mistificação dos fatos: a ONU não estaría, como sempre está, ao lado dos terroristas islâmicos, exercitando o nefando politicamente correto.
É bem provável que o politicamente correto passe agora a utilizar o cinema para mascarar os fatos levando água ao moinho da injustificada perseguição ao povo judeu.
Transcrevo a matéria de Veja:
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Tuvia, Zus e Asael, os três irmãos Bielski, escaparam por pouco do massacre de sua aldeia na Bielo-Rússia pelas forças nazistas. Refugiaram-se então nas florestas próximas e, sem planejá-lo, começaram a acolher sobrevivente após sobrevivente.
Em pouco tempo, haviam virado uma estranha milícia, integrada por um bom número de idosos, mulheres e crianças. Mas resistiram a três invernos ao relento nas altas latitudes, onde em outubro já se afunda na neve, e ao fim da II Guerra devolveram cerca de 1 200 pessoas à segurança.
A experiência dos irmãos Bielski é mais uma entre as miríades de trajetórias dos judeus europeus diante da máquina alemã de extermínio. Cada uma delas é única e surpreendente, e, juntas, compõem um repertório inesgotável – que filmes como Um Ato de Liberdade (Defiance, Estados Unidos, 2008) tratam de pasteurizar.
A história dos Bielski, tirada do livro homônimo de Nechama Tec (superior à sua adaptação, e disponível aqui pela Record), é uma combinação morosa de drama e ação, pontuada por lugares-comuns e sobrepesada pelo espectro de tantas outras narrativas sobre o extermínio.
Narrativas que cada vez mais vêm se tornando triviais ou equivocadas: Um Ato de Liberdade é só um sintoma, e nem de longe o pior deles, de que o holocausto foi apropriado pelo cinema e pela literatura como um gênero fácil que serve a todo propósito, do entretenimento e do melodrama às argumentações políticas claudicantes.
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ELOGIO COM JEITO DE INSULTO Schreiber (à esq.) e Craig como Zus e Tuvia Bielski: o filme termina por implicar que, se outros judeus tivessem também lutado, nem tantos teriam morrido |
O diretor de Um Ato de Liberdade, Edward Zwick, disse ao jornal The New York Times que, inicialmente, rejeitara a ideia de fazer "mais um filme sobre vítimas". Em adolescente, explicou, ele aprendera a equacionar as imagens de pilhas de cadáveres ou de esqueletos vivos agarrando-se às cercas dos campos de concentração com uma passividade que lhe provocava tanto fascínio mórbido quanto vergonha – vergonha do que ele supunha ser a submissão que levara à morte 6 milhões de judeus, entre os quais alguns de sua família.
Na história dos Bielski, entretanto, havia "não vítimas vestindo estrelas amarelas, mas guerreiros brandindo submetralhadoras; e havia ira e resistência no lugar de submissão". Zwick, é evidente, não pretendeu ofender a memória de ninguém, mas exaltá-la.
Porém, da mesma forma que A Vida É Bela, do italiano Roberto Benigni, faz um elogio com jeito de insulto: se assim como os Bielski (interpretados com heroísmo genérico por Daniel Craig, Liev Schreiber e Jamie Bell) outros judeus tivessem se levantado, seu filme implica, talvez nem tantos teriam perecido sob Adolf Hitler.
E, intencionalmente ou não, Um Ato de Liberdade se abre também para uma leitura contemporânea, que transporta sua mensagem – os judeus têm de pegar em armas, ou então ser vitimizados – diretamente para o contexto do atual conflito entre israelenses e palestinos. Um contexto, aliás, muito mais complicado do que as limitadas capacidades de discussão do filme poderiam abarcar.
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UMA ÁRVORE NA FLORESTA |
Em um levantamento informal, a crítica Ella Taylor, do Village Voice, computou 170 novos filmes sobre o holocausto desde o lançamento de A Lista de Schindler, no fim de 1993. Eles incluem obras extraordinárias, como O Pianista, de Roman Polanski, e o nunca lançado aqui Fateless (veja o quadro) – e também desastres como O Menino do Pijama Listrado, talvez o ponto mais baixo a que se chegou no tratamento do tema.
No mercado editorial, a voracidade por histórias referentes ao holocausto é tamanha que já ensejou várias fraudes, perpetradas por espertalhões que veem chance de lucro no sofrimento.
No caso mais brando, o escritor Herman Rosenblat teve de admitir que o romance iniciado com sua mulher no horror do campo de Buchenwald e descrito em Angel at the Fence não passa de uma invenção destinada a acrescentar pungência ao relato. No caso mais extremo, a belga Misha Defonseca, autora de Sobrevivendo com Lobos, foi desmascarada como uma completa farsa: não só não viveu com uma matilha em sua fuga dos nazistas, como nem sequer é judia.
O saldo mais óbvio dessa exploração sistemática do holocausto para qualquer fim, inclusive o unicamente mercantil, é o que parecia ser impossível: a quase exaustão do tema. Histórias antes ignoradas vêm à tona e já soam velhas.
Em Os Falsários, com estreia prevista para breve no país, o protagonista (também verídico), um talentoso falsário judeu, enfrenta um dilema terrível: se ajudar os nazistas a forjar dólares e libras – o que equivale a financiar a vitória de Hitler –, pode comprar mais tempo de vida para si. Ou pode arriscar a pele e tentar retardar a operação.
Dirigido por um austríaco descendente de simpatizantes do nazismo, Os Falsários tem o peso do exame de consciência e lança um olhar sóbrio sobre a mais decidida forma de resistência – a sobrevivência. Mas sua angústia profunda mal ressoa em um mercado tão saturado, em que tem de disputar espaço com invenções ridículas como Um Homem Bom, em que Viggo Mortensen é um capitão da SS, a força de elite nazista, que não sabia mesmo que os judeus estavam sendo perseguidos.
Essa extração desordenada do filão do holocausto, porém, não tem apenas turvado uma memória que, por necessidade civilizatória, deveria sempre permanecer cristalina.
Como Um Ato de Liberdade ilustra, na base do contraexemplo, a recriação do sofrimento dos judeus na II Guerra é crucial como argumento moral – é, na verdade, o mais completo e paradigmático argumento moral já produzido pela história.
Mas, quando tingida com coloração política, ela só acrescenta à turbulência de um mundo já tão complicado quanto o do Oriente Médio.
O valor de lembrar o holocausto está, justamente, em mantê-lo na sua dimensão absoluta e imutável e tirar dele a única lição que pode oferecer: que ele nada tem a ensinar e não constrói nem edifica, mas é apenas a substanciação do mal.
2 comentários:
Tudo bem que o holocausto tem que ser lembrado, mas não vamos achar que o holocausto é aquilo que a esperta indústria cinematográfica norte-americana traz para as telas. Isso é apenas ficção com o objetivo de faturar.
O holocausto histórico, que não foi muito parecido com o que se vê nas telas dos filmes americanos, este sim deve ser mantido.
APLAUSOS!! Ainda ontem eu conversava com amigos sobre "A vida é bela" e a banalização do inominável.
Vou cortar e colar seu artigo. Gostei demais!
A luta continua para nós judeus, num momento em que Hussein Obama ameaça até a existência de Israel.
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