POR QUE AÉCIO TEM DE VOLTAR PRA CASINHA?

Acabo de ler uma entrevista de Aécio Neves na Folha de São Paulo. Teima em ser candidato do PSDB à presidência da República e, para isso, também insiste na realização de “prévias”.

Sei que fazer previsões em termos políticos é temerário. Os dados mais racionais à disposição para se tecer algum tipo de análise com referência ao comportamento dos eleitores são as pesquisas de opinião. Ainda que estas sempre reflitam um momento da tendência do eleitorado, são elas os únicos instrumentos com os quais um partido político pode contar naquilo que é respeitante à tarefa de definir nomes de postulantes a cargos eletivos.

Na última eleição presidencial as pesquisas apontavam José Serra como nome mais forte do PSDB à Presidência da República. Nessa ocasião apareceu Alckmin, picado pela moscal azul. Bateu o pé e foi o escolhido. Teve um desempenho ridículo, principalmente no segundo turno, quando os ventos sopravam a favor da Oposição depois que a Nação deparou enojada com o escândalo do dossiê fajuto.

Alckmin, no entanto, mostrou-se um candidato fracote, refletindo o que denotavam as pesquisas eleitorais antes mesmo de ferir-se o pleito. E não me sai da cabeça o dia em que Alckmin, acossado pelo mote da estatização que impulsionava a campanha de Lula, decidiu vestir aquela ridícula jaqueta estatizante estampada com as logomarcas das empresas estatais.

Em contrapartida verificou-se que José Serra correspondeu às indicações das sondagens de opinião com relação ao seu prestígio político. De uma bem sucedida gestão como prefeito da capital paulista, chegou com folga ao governo de São Paulo, o maior e mais importante Estado brasileiro. Ao mesmo tempo costurou uma perfeita aliança partidária com o DEM e contribuiu decisivamente para eleger Gilberto Kassab seu sucessor na prefeitura paulistana. Deve-se ressaltar que a vitória de Kassab foi estrondosa, porquanto Lula e o PT jogaram todas as fichas em Marta Suplicy.

Outro fato importante que pesa em favor de José Serra é sem dúvida o fato de que ao longo de sua caminhada política desde que foi Senador e Ministro da Saúde do governo FHC, com uma boa gestão à frente daquela Pasta, sobressai como um dos raros políticos que tem passado ao largo dessa torrente de escândalos que faz o noticiário político da imprensa brasileira dos últimos anos se diferenciar pouco da crônica policial.

O que anotei até aqui são os fatos concretos a partir dos quais se pode inferir que o candidato natural do PSDB à Presidência da República é sem qualquer dúvida José Serra.

Isto não quer dizer que Aécio Neves não seja igualmente um nome forte. Mas neste momento não reúne cacife político suficiente para suplantar o governador paulista.

Muito mais jovem, com apenas 49 anos de idade, Aécio Neves demonstra apetite político, faz um bom governo em Minas Gerais onde goza de alto prestígio popular e constitui, por isso mesmo, um nome com densidade eleitoral e que tem tudo para mais à frente chegar à Presidência da República se souber dar tempo ao tempo, afastando-se de esquemas nebulosos que negligenciam o fato de que o PSDB só logrará êxito se persistir na oposição. Isso não significa dar as costas para alianças político-eleitorais. Estas, contudo, regem-se, sobretudo, por padrões éticos e programáticos mínimos.

Outro ponto que o governador mineiro deve considerar é o fato de que prévias eleitorais dentro do contexto partidário brasileiro levam irremediavelmente à cisão e conseqüente enfraquecimento do Partido. A convenção é o único instrumento deliberativo do processo de escolha de candidaturas que não envenena o ambiente partidário, ao contrário das prévias que acirram os ânimos e dividem as correntes num processo político autofágico.

O PSDB tem, portanto, nas mãos todos os ingredientes para ter sucesso eleitoral. O principal deles são os quadros que possui. Notem que enquanto o PMDB não tem um nome sequer para postular a presidência, o PT igualmente se vê na orfandade política sem Lula. É um partido completamente destituído de nomes politicamente fortes e de confiabilidade.

Neste aspecto, o PSDB esboça robustez. Tem nomes fortes, quadros partidários técnicos e políticos de ótimo nível em todas as áreas, experiência administrativa, possui já formatada uma forte aliança partidária com o DEM e o PPS. Falta-lhe apenas organização, garra, disposição e uma clara e definitiva postura de oposição, abandonando essa conduta ondulante.

Finalmente, precisa fazer com que Aécio Neves retorne imediatamente para a casinha.