Transcrevo na integra artigo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso que está no jornal O Estado de São Paulo deste domingo. As advertências e críticas de FHC em relação a atulidade política brasileira são procedentes. Portanto, vale a leitura. A ilustração cima, que circula pela inernet, serve como pano de fundo para este artigo, por evocar o desvario comuno-bolivariano que aos poucos vai solapando as instituições democráticas brasileiras e entorpecendo a Nação.
Leiam:
A enxurrada de decisões governamentais esdrúxulas, frases presidenciais aparentemente sem sentido e muita propaganda talvez levem as pessoas de bom senso a se perguntarem: afinal, para onde vamos? Coloco o advérbio "talvez" porque alguns estão de tal modo inebriados com "o maior espetáculo da Terra", de riqueza fácil que beneficia poucos, que tenho dúvidas. Parece mais confortável fazer de conta que tudo vai bem e esquecer as transgressões cotidianas, o discricionarismo das decisões, o atropelo, se não da lei, dos bons costumes. Tornou-se habitual dizer que o governo Lula deu continuidade ao que de bom foi feito pelo governo anterior e ainda por cima melhorou muita coisa. Então, por que e para que questionar os pequenos desvios de conduta ou pequenos arranhões na lei? Só que cada pequena transgressão, cada desvio vai se acumulando até desfigurar o original.
Como dizia o famoso príncipe tresloucado, nesta loucura há método. Método que provavelmente não advém do nosso príncipe, apenas vítima, quem sabe, de apoteose verbal. Mas tudo o que o cerca possui um DNA que, mesmo sem conspiração alguma, pode levar o País, devagarzinho, quase sem que se perceba, a moldar-se a um estilo de política e a uma forma de relacionamento entre Estado, economia e sociedade que pouco têm que ver com nossos ideais democráticos. É possível escolher ao acaso os exemplos de "pequenos assassinatos".
Por que fazer o Congresso engolir, sem tempo para respirar, uma mudança na legislação do petróleo mal explicada, mal-ajambrada? Mudança que nem sequer pode ser apresentada como uma bandeira "nacionalista", pois, se o sistema atual, de concessões, fosse "entreguista", deveria ter sido banido, e não foi. Apenas se juntou a ele o sistema de partilha, sujeito a três ou quatro instâncias político-burocráticas para dificultar a vida dos empresários e cevar os facilitadores de negócios na máquina pública.
Por que anunciar quem venceu a concorrência para a compra de aviões militares, se o processo de seleção não terminou? Por que tanto ruído e tanta ingerência governamental numa companhia (a Vale) que, se não é totalmente privada, possui capital misto regido pelo estatuto das empresas privadas? Por que antecipar a campanha eleitoral e, sem nenhum pudor, passear pelo Brasil à custa do Tesouro (tirando dinheiro do seu, do meu, do nosso bolso...) exibindo uma candidata claudicante? Por que, na política externa, esquecer-se de que no Irã há forças democráticas, muçulmanas inclusive, que lutam contra Ahmadinejad e fazer mesuras a quem não se preocupa com a paz ou os direitos humanos? Pouco a pouco, por trás do que podem parecer gestos isolados e nem tão graves assim, o DNA do "autoritarismo popular" vai minando o espírito da democracia constitucional. Esta supõe regras, informação, participação, representação e deliberação consciente. Na contramão disso tudo, vamos regressando a formas políticas do tempo do autoritarismo militar, quando os "projetos de impacto" (alguns dos quais viraram "esqueletos", quer dizer, obras que deixaram penduradas no Tesouro dívidas impagáveis) animavam as empreiteiras e inflavam os corações dos ilusos: "Brasil, ame-o ou deixe-o."
Em pauta temos a Transnordestina, o trem-bala, a Norte-Sul, a transposição do São Francisco e as centenas de pequenas obras do PAC, que, boas algumas, outras nem tanto, jorram aos borbotões no Orçamento e mínguam pela falta de competência operacional ou por desvios barrados pelo Tribunal de Contas da União. Não importa, no alarido da publicidade, é como se o povo já fruísse os benefícios: "Minha Casa, Minha Vida"; biodiesel de mamona, redenção da agricultura familiar; etanol para o mundo e, na voragem de novos slogans, pré-sal para todos.
Diferentemente do que ocorria com o autoritarismo militar, o atual não põe ninguém na cadeia. Mas da própria boca presidencial saem impropérios para matar moralmente empresários, políticos, jornalistas ou quem quer que seja que ouse discordar do estilo "Brasil potência". Até mesmo a apologia da bomba atômica como instrumento para que cheguemos ao Conselho de Segurança da ONU - contra a letra expressa da Constituição - vez por outra é defendida por altos funcionários, sem que se pergunte à cidadania qual o melhor rumo para o Brasil. Até porque o presidente já declarou que em matéria de objetivos estratégicos (como a compra dos caças) ele resolve sozinho. Pena que se tenha esquecido de acrescentar: "L"État c"est moi."
Mas não se esqueceu de dar as razões que o levaram a tal decisão estratégica: viu que havia piratas na Somália e, portanto, precisamos de aviões de caça para defender o "nosso pré-sal". Está bem, tudo muito lógico. Pode ser grave, mas, dirão os realistas, o tempo passa e o que fica são os resultados. Entre estes, contudo, há alguns preocupantes. Se há lógica nos despautérios, ela é uma só: a do poder sem limites. Poder presidencial com aplausos do povo, como em toda boa situação autoritária, e poder burocrático-corporativo, sem graça alguma para o povo. Este último tem método. Estado e sindicatos, Estado e movimentos sociais estão cada vez mais fundidos nos altos-fornos do Tesouro. Os partidos estão desmoralizados.
Foi no "dedaço" que Lula escolheu a candidata do PT à sucessão, como faziam os presidentes mexicanos nos tempos do predomínio do PRI. Devastados os partidos, se Dilma ganhar as eleições sobrará um subperonismo (o lulismo) contagiando os dóceis fragmentos partidários, uma burocracia sindical aninhada no Estado e, como base do bloco de poder, a força dos fundos de pensão. Estes são "estrelas novas". Surgiram no firmamento, mudaram de trajetória e nossos vorazes, mas ingênuos capitalistas recebem deles o abraço da morte. Com uma ajudinha do BNDES, então, tudo fica perfeito: temos a aliança entre o Estado, os sindicatos, os fundos de pensão e os felizardos de grandes empresas que a eles se associam. Ora, dirão (já que falei de estrelas), os fundos de pensão constituem a mola da economia moderna. É certo. Só que os nossos pertencem a funcionários de empresas públicas. Ora, nessas, o PT, que já dominava a representação dos empregados, domina agora a dos empregadores (governo). Com isso os fundos se tornaram instrumentos de poder político, não propriamente de um partido, mas do segmento sindical-corporativo que o domina.
No Brasil os fundos de pensão não são apenas acionistas - com a liberdade de vender e comprar em bolsas -, mas gestores: participam dos blocos de controle ou dos conselhos de empresas privadas ou "privatizadas". Partidos fracos, sindicatos fortes, fundos de pensão convergindo com os interesses de um partido no governo e para eles atraindo sócios privados privilegiados, eis o bloco sobre o qual o subperonismo lulista se sustentará no futuro, se ganhar as eleições. Comecei com para onde vamos? Termino dizendo que é mais do que tempo de dar um basta ao continuísmo, antes que seja tarde.
domingo, novembro 01, 2009
FERNANDO HENRIQUE: PARA ONDE VAMOS?
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Postado por
Aluizio Amorim
às
11/01/2009 09:51:00 AM
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8 comentários:
O PT e um cancro que emporcalha as instituicoes e as mentes. Precisa ser extirpado o quanto antes.
Ou acabamos c/ o PT ou ele acaba c/ o Brasil.
Para onde vamos? Para onde eu disse desde quando chavez assambarcou o poder na Venezuela - para o comunismo. São todos da mesma facção...
Aí está! A direita da esquerda se manifestando. Agora é que ele percebeu que a coisa está ficando preta? Deu o exemplo do PRI; poderia ter dado o exemplo dos militares que não admitiam outro candidato que não fosse da caserna. Compravam o congresso, já que as eleições eram indiretas. Lula compra o eleitorado povão com esmolas e bravatas. Qual a diferença? O método anterior ainda era mais barato. Outro dia disse que era extraordinário nas próximas eleições só ter candidatos de esquerda; não ter nenhum troglodita de direita. Ninguem foi capaz de lembrar S. Excia. que não é a direita que invade Congresso Nacional quebrando tudo; não é a direita que invade órgão público suja, faz cocô e vai embora "de bôa"; não é a direita que invade centro de pesquisa e destrói tudo; não são os estudantes de direita que usam uma universidade federal para fazer sexo, usar drogas e fazer cocô na horta; não são os movimentos de direita que tratoram laranjais produtores de divisas para deixar felizes os citricultores amaricanos e por aí vái. E a direita é que é troglodita?
Se esse traste do Lulla está hoje no poder, FHC tem muita culpa no cartório! É o sujo falando do mal lavado.
PoiZé, Aluizio, para não deixar o FHC falando em sozinho, a Veja manda um recado:
A reconstrução da ministra.
O governo e os marqueteiros moldam o novo perfil de Dilma Rousseff
a ser apresentado aos eleitores: mineira, simpática, afável, de discurso simples e antenada com temas ambientais.
À IMAGEM DO CHEFE, Dilma começa a trocar o uniforme de gestora gestante eficiente pela fantasia ( Bantaby em Fantazy) de candidata simpática: o objetivo é se apropriar do estilo de Lula para herdar parte de sua popularidade.
Em Veja.com você pode entender o CHEFE e a CHEFONA re-Monstruida e re-constituida para ser abalibada abalizada. Os da silva se escondem na Seva Sevada do Bão Sobado Pão Sovado Somado e vai tomáz uma sova.
PALANQUE TECNOLÓGICO
O novo portal do PT na internet: alta tecnologia nas eleições.
De onde vem o dinheiro?
Até pouco, se diziam desprovidos de recursos e quebrava o Pau nas Fábricas por aumento de proventos, como o Bento virou Vento, foi tudo pro Vento e deu ama Betania Ventania que hoje é apenas um Evento, é vento sim, mas o Bento Vento passa e vem uma Tambestade Tepestuoza com Chavez sobrono e soprano.
Isso diz do BT PT atrabalhador atrapalhador que sempre só deu muito Brabal até virar Trabal e Traval Travar tudo, segundo a "Ordem e o Progresso".
até que enfim o FHC se pronuncia sobre tudo isso,e falou exatamente a verdade,essa loucura tem método e finalidade,essas loucuras tem a finalidade de enfraquecer os partidos e as instituições para que sobre todo o poder para o Lulla e os petralhas implantarem a ditadura comunista no Brasil.Se o PSDB,juntamente com o DEM,não se unirem agora para derrotar esses loucos,com certeza amargaremos essa ditadura por muito tempo.Como é triste ver que eles usam a democracia (e o dinheiro dos impostos para comprar os votos)para nos levar a essa ratoeira.
Siceramente, a mulla passou, literalmente, o 1º mandato inteiro e grande parte do 2º batendo no FH - é óbvio que elle nada mais que seguia à risca uma das primeiras táticas da cartilha comunista de lenin - desacreditar as autoridades ou aquele que tenha feito grandes obras. Mas de qualquer forma, nunca entendí porquê o FH nunca veio a público dar uma resposta a altura.
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