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sábado, abril 24, 2010

KÁTIA ABREU: CONTRA OS PRECONCEITOS

Decidi colocar aqui no blog na íntegra a excelente entrevista concedida à revista Veja, na edição que foi às bancas neste sábado, pela Senadora Kátia Abreu (DEM-TO) que também preside a Confederação Nacional da Agricultura. É inegavelmente uma Senadora que se sobressai pelo trabalho que desenvolve no Senado e também na CNA, fato que a coloca como líder na política e no âmbito do agronegócio. Ela fala também sobre o fato de que tem sido cogitada para candidata a vice na chapa de José Serra. Não deixem de ler:

Sobre a mesa da presidência da Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA), em Brasília, há um grande coelho azul igual ao que a Mônica, personagem do cartunista Mauricio de Sousa, utiliza para bater naqueles que a provocam. O bicho de pelúcia foi um presente que a equipe da CNA deu à presidente da entidade, a senadora Kátia Abreu (DEM-TO), de 48 anos, como brincadeira em referência à sua fama de briguenta. No Senado ou no comando da confederação, ela tem procurado provar que muitas das medidas do governo que atrapalham o desenvolvimento do agronegócio e aumentam a insegurança jurídica no país são orientadas por preconceito ideológico. Agropecuarista desde os 25 anos de idade, quando, grávida do terceiro filho, ficou viúva e teve de assumir a fazenda do marido, a senadora concedeu a seguinte entrevista a VEJA.

Qual é a imagem que os brasileiros têm dos produtores rurais?
A ideia prevalente, e errada, é que o agronegócio exporta tudo o que produz, cabendo aos pequenos produtores abastecer o mercado interno. Pequenos, médios e grandes produtores destinam ao mercado interno 70% de tudo o que colhem ou criam. Também é muito forte e igualmente errada a noção de que fazendeiro vive de destruir a natureza e escravizar trabalhadores. Obviamente, como em qualquer atividade, ocorrem alguns abusos no campo. Mas o jogo duro de nossos adversários isolou os produtores do debate e espalhou essa ideia terrorista sobre a nossa atividade. Esses preconceitos precisam ser desfeitos.

Como?
Mostrando na prática que não somos escravocratas e que não destruímos o meio ambiente. Nós temos um projeto em parceria com a Embrapa dedicado a pesquisar e difundir boas práticas que permitam unir produção rural e proteção do ambiente. Essa história de trabalho escravo também precisa ser abordada com ações que produzam respostas práticas. Nós treinamos 200 instrutores para inspecionar fazendas pelo Brasil e avaliar as condições de vida dos empregados. Já visitamos mais de 1 000 fazendas. O que se vê é uma imensa boa vontade da maioria dos proprietários de cumprir tudo o que a lei manda e seguir direito as normas reguladoras. Ocorre que a norma que rege o trabalho no campo, a NR-31, tem 252 itens. Em qualquer atividade, cumprir 252 critérios é muito difícil. Nas fazendas, isso é uma exorbitância. Até em uma fazenda-modelo um fiscal vai encontrar pelo menos um item dos 252 que não está de acordo com a norma.

Por que nas fazendas isso seria uma exorbitância?
Imagine que um determinado trabalhador seja responsável por tirar leite das vacas da fazenda. Um belo dia, o dono acha que o mais adequado é mudar a função do empregado e ele passa a, digamos, ser encarregado de roçar o pasto. Parece simples, mas não é. A norma legal determina que, para mudar de função, o trabalhador precisa antes de mais nada se submeter a um exame médico, que é apenas o primeiro passo de um complexo processo de transferência de uma vaga para outra. Bem, essa exigência seria burocrática e custosa até mesmo em um escritório de contabilidade na cidade. Nas pequenas e médias fazendas, que são 80% das propriedades rurais brasileiras, ela é um absurdo. Quem não sabe que, nessas fazendas, o mesmo trabalhador costuma exercer diversas funções no decorrer do dia? Ele tira leite de manhã cedo, trata das galinhas às 10 horas, às 4 da tarde cuida dos porcos e depois vai roçar o pasto. Outras regras abusivas e difíceis de ser cumpridas à risca por todos os fazendeiros são as que determinam as dimensões exatas dos beliches, a espessura dos colchões ou a altura das mesas nos refeitórios.

Essa é uma postura do governo Lula em geral ou apenas de uma minoria no poder?
Há pessoas no governo que não são xiitas. O ministro do Desenvolvimento Agrário (Guilherme Cassel) e o ex-titular da Pasta de Meio Ambiente (Carlos Minc), contudo, em vez de encontrar soluções para os problemas, passaram os últimos anos dividindo o país para aumentar a sua torcida. Eles não tinham o direito de fazer isso. Um ministro de estado deve proteger o Brasil, não apenas alguns brasileiros. Quero fazer um desafio aos ministros do Trabalho, do Meio Ambiente e do Desenvolvimento Agrário: que eles administrem uma fazenda de qualquer tamanho em uma região de nova fronteira agrícola e tentem aplicar as legislações trabalhistas, ambientais e agrárias completas na propriedade. Mas não podem fazer milagre, porque nós vamos acompanhar. Se, depois de três anos, eles conseguirem manter o emprego e a renda nessa propriedade, fazemos uma vaquinha, compramos a terra para eles e damos o braço a torcer, reconhecendo que estavam certos.

O que mais atrapalha os negócios no campo?
A insegurança jurídica. Se não há estabilidade nem confiança, as plantas e a produção de carne recusam-se a prosperar. Nas empresas urbanas é a mesma coisa. Não se podem utilizar bandeiras sociais ou ambientais para ferir a segurança jurídica. Não vejo problema em dar terras aos índios, aos quilombolas ou aos sem-terra. Mas tudo isso precisa ser feito em concordância com o direito de propriedade. Neste mês, apresentei uma proposta ao Ministério da Justiça para estabelecer um Plano Nacional de Combate às Invasões. Existem planos do governo para coibir o tráfico de drogas, a venda ilegal de animais silvestres e a pirataria. Por que não combater também o crime organizado no campo?

A senhora é contra a reforma agrária?
Não. Sou contra a invasão. Sou contra tomar a terra com um índice de produtividade imbecil, que não é compatível com a atualidade da gestão do empresariado brasileiro. Hoje, os saudosistas de esquerda destroem pé de laranja e invadem órgãos de pesquisa porque o latifúndio improdutivo não existe mais. Os radicais não se conformam com isso. Há quarenta anos, éramos um dos maiores importadores de comida do mundo. Atualmente, não só somos autossuficientes como nos tornamos o segundo maior exportador de alimentos.

O que o produtor rural quer do próximo presidente?
Precisamos que o próximo presidente entenda que dividir o país entre pequenos e grandes é uma visão simplista e ruinosa. É necessário que ele saiba que existe uma classe média rural que não tem a escala das grandes empresas agrícolas, mas que também não se enquadra na agricultura familiar. Essa classe média rural é vulnerável às oscilações de preços e de clima, mas não tem condições de se proteger sozinha disso. Nesse ponto, o estado pode ajudar. Mas a primeira pergunta que faremos aos candidatos será: o que eles pensam a respeito da propriedade privada?

Que medidas podem servir a todos esses três estratos sociais da agricultura?
A medida universal é investir na infraestrutura. Se a movimentação nos portos continuar crescendo à taxa atual, de 12% ao ano, em oito anos nós precisaremos de um outro Brasil portuário. A ironia é que o Brasil tem uma das leis de portos mais avançadas do mundo. Mas, em 2008, o governo aprovou um decreto que vem impedindo novos investimentos privados na construção de portos. O decreto interessa basicamente a empresários que participaram da privatização dos portos públicos, sendo Daniel Dantas o maior deles, e que não querem a abertura da concorrência. Isso faria cair as tarifas, e os portos ficariam mais eficientes. Para resumir, temos uma lei que garante o investimento e um decreto que o cerceia. Só encontro duas explicações possíveis: o preconceito contra a empresa privada ou a proteção a um cartel existente.

A senhora sonha em ser candidata a vice-presidente na chapa de José Serra?
Preciso deixar que a decisão partidária prevaleça. Ninguém pode querer ser vice de alguém. As pessoas querem ser o personagem principal, aquele que terá a caneta na mão para implementar as suas decisões, ideais e planos. O vice é apenas um coadjuvante. Mas fico orgulhosa quando meu nome é citado por eu ser de um estado novo, o Tocantins, por ser mulher e por representar o setor agropecuário, que nunca teve muito espaço nas chapas majoritárias e na política nacional.

Foto da revista Veja

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8 comentários:

Anônimo disse...

Essa Senadora é fantástica!

Escatopholes disse...

O grande produtor rural brasileiro quer tudo de graça. Ele quer plantar, ter lucro e o restante que se dane.
Se o preço do produto cai, ele quer que o governo compre por um preço acima do mercado. Se ocorre uma quebra de safra ele quer que o governo assuma os prejuízos. Impostos sobre a produção, nem falar!!! O grande produtor acha que quem tem que pagar impostos são os outros. Se ele planta um pé de milho ou cria uma cabeça de gado em cada hectare de terra, ele diz que isso é fazenda produtiva.
Ora, se o produtor rural acha que tem direito a isso tudo então porque eu e todos os demais brasileiros não temos também o direito de receber tudo de graça do governo?

E para finalizar: os dados mostram que o abastecimento dos alimentos do dia a dia na mesa do brasileiro vem de fato do pequeno produtor, o produtor familiar, e não do grande produtor que só sabe atuar no mercado externo!!!

Anônimo disse...

Aluizio, sou fã da SenadoraKatia Abreu. Essa mulher é uma batalhadora pela verdade e democracia.
Agora, tem um vídeo do Dep. Fed. Bolsonaro no blog da AMAN 78,está ótimo. Dê uma olhada.

Anônimo disse...

Muito bem...uma mulher dessas é que precisamos para a direção e gestão do País.
Clara, firme e com visão de futuro, tudo que o Brasil necessita.
De fato ser vice não é lá muito interessante, mesmo por que não ouvimos o que o vice vem fazendo pela Nação.
Anobre Senadora Katia Abreu ficaria muito bem gerenciando o Brasil, na busca do que mais precisamos.
Meus parabens e sucesso.

Carlos Bonasser

Cida Fraga disse...

Só discordo da Senadora na última resposta. Eu e meus amigos estamos sempre encaminhado sugestão ao DEM para que ela seja a vice de Serra. Não entendo como se menospreza a posição de segunda autoridade de um país. Menos senadora! Menos. Até por que em caso de eventual acidente de percurso com o titular assume o vice.
Já não chegou a esnobação de Aécio?

Anônimo disse...

Você está enganado Escatopholes,o feijão,o arroz,óleo,ervilhas que você compra no supermercado não são produzidos apenas por pequenos produtores e produtores familiares, isso é preconceito seu.Eu não sou produtor rural, já fui pequeno produtor e não tive a paciência para agüentar, além das dificuldades normais, gente como você, que deve ser algum funcionário público afeito a greves e não sabe o que é trabalhar todos os dias inclusive domingos e feriados.

frederico menezes- PE disse...

O governo não produz riquezas. Agora mesmo, em Pernambuco, Luyla vem para o lançamento em águas profundas, doprimeiro navio produzido no estaleiro Alantico-Sul. Ora, é uma empresa privada. Se o Brasil deseja produzir mais e com criatividade, novas idéias, tem que fazer como os paises que deram e estão dando erto. Investir e apoiar a iniciativa privada. Ponto final.

Atha disse...

Se a Kátia topar ser Vice-Serra, ficará impedida de condenar o MST da silva, pois se o fizer, será julgada e condenada em Praça Pública, como traidora dos Bobibentos em Movimentos.

Como Senadora, Kátia pode muito mais, apezar de não ser levada a sério.