Já havia me referido aqui no blog ao turbilhão de bobagens proferidas pelos advogados que defendem os réus do mensalão. Não deixa de ser um sinal desses tempos onde o folclore, que vai de metáforas futebolísticas a picarescos folhetins que consagram o enredo de novelas de televisão, substitui a racionalidade jurídica e a reflexão responsável e consequente que devem embasar os textos escritos e/ou verbalizados perante a mais alta Corte de Justiça do Brasil.
O site da revista Veja acaba de postar uma reportagem que pinça do plenário do Supremo Tribunal Federal o discurso macarrônico dos advogados dos réus do mensalão, na tentativa de desqualificar a grave e bem embasada denúncia formulada pelo Procurador Geral da República. Ao que parece esses que se intitulam grandes especialistas no âmbito do Direito Penal devem ter formulado suas peças de defesa longe das bibliotecas e mais próximos aos botequins pé-sujos da periferia.
Em que pese o notório grande envolvimento dos acusados na lambança do dito mensalão, a defesa dos réus poderia ser pelo menos mais educada e vazada em termos eminentemente jurídicos. Mas o que vê pelo texto que transcrevo como segue é que nunca antes na história deste país se proferiu tantas asneiras e bobagens perante o STF. Os advogados de defesa dos mensaleiros levaram ao pé da letra o famigerado "direito achado da rua", ou como querem alguns, o tal "direito alternativo". Com efeito, os acusados, se já estavam preocupados, a partir de agora só poderão proclamar "seja tudo o que Deus quiser". É isso aí. Leiam:
Aproveitando que o “ministro-poeta” Carlos Ayres Britto ocupa a
presidência do Supremo Tribunal Federal (STF), advogados de réus no
processo do mensalão abusaram das mais variadas referências ao expor, na
primeira semana concedida à defesa, teses jurídicas para tentar
desconstruir o que foi classificado como “o mais atrevido” escândalo de
corrupção do país.
A cantilena incluiu citações a intelectuais, poesia, música e até a
novela "Avenida Brasil", da Rede Globo. O objetivo foi o mesmo:
argumentar que quem mandava na verdade não mandava tanto assim, quem
sacou a propina apenas cumpriu ordens e quem recebeu dinheiro não sabia
do que se tratava.
O rosário de referências foi inaugurado pelo procurador-geral da
República, Roberto Gurgel, responsável pela acusação dos réus. De
pronto, ele sacou uma tese do pensador Norberto Bobbio: “Não se
justifica o injustificável”. Por cinco horas, levou uma enxurrada de
argumentos que comprovam a existência do esquema de suborno a
parlamentares, lembrou o imortal brasileiro Raymundo Faoro e sociólogos
como Max Weber, mas acabou resumindo tudo em versos de Chico Buarque.
“Dormia a nossa pátria mãe tão distraída, sem perceber que era subtraída
em tenebrosas transações”, recitou.
Como era de se esperar, Ruy Barbosa, o patrono do Direito, foi o mais
reverenciado pelos defensores – do ex-ministro da Justiça, Márcio Thomaz
Bastos, à fala menos performática de Antônio Sérgio Pitombo, advogado
de Enivaldo Quadrado. Já o advogado Paulo Sérgio Abreu e Silva, por
exemplo, cogitou chamar sua cliente de “baranga” na tribuna, mas depois
achou a palavra que, para ele, seria de mais serventia. “Geiza era uma
funcionária mequetrefe, uma batedeira de cheque”, disse ao afirmar que a
ex-subordinada de Marcos Valério era uma funcionária de segundo escalão
e que, portanto, não tinha conhecimento do esquema de corrupção.
Como o Supremo reservou uma hora para cada advogado expor seus
argumentos, também houve quem achasse por bem recorrer à poesia mística.
“Vejo uma pinta negra nas asas da sétima pomba. Hoje, naquele vale, o
povo fala de sete pombas negras que levantaram voo rumo aos cumes da
montanha nevada”, filosofou o advogado Marcelo Leal citando o poeta
Gibran Khalil Gibran para tentar afirmar que o ex-deputado Pedro Corrêa
não poderia ser classificado como criminoso apenas por ser réu no
mensalão. Do site da revista Veja
3 comentários:
É isso mesmo, Aluízio! Já havia observado(e comentado) logo ao início das defesas, que o desempenho dos causídicos são uma catástrofe para seus clientes. E pior: ainda pagam por isso!
Alexandre,
já tinha lido seu comentário. Vc está certo.
Abraço
Os vários estamentos da burocracia (polícia, Receita, promotoria,...)são fáceis em acusar sem base factual 90% das vezes.
80% dos casos que vão ao supremo correspondem a acusações dos estamentos do estado contra o cidadão (estatística tomada ao Min Melo)
O cidadão gasta suas preciosas economias para... pagar advogados.
Estes uma vez pagos se colocam como os onipotentes, os donos da verdade, não o acusado, eles é que sabem. Nem dão acesso aos autos ao indigitado. Confiam na sua própria sabedoria Jurídica (os fatos? pra que servem?)
E se algo der errado? E se forem condenados? Resposta: A defesa irá ficar mais longa e...é necessário um complemento de verba. NINGUÉM TRABALHA DE GRAÇA.
KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK
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