Delegado da Polícia Federal Luís Flávio Zampronha: revelação-bomba. (Foto da Folha de SP) |
O jornal Folha de São Paulo traz nesta segunda-feira uma reportagem especial revelando que o mensalão é muito maior do que o processo em julgamento no Supremo Tribunal Federal. E a informação é do delegado Luís Flávio Zampronha, da Polícia Federal, que investigou o crime do mensalão de 2005 a 2011. Rompendo o silêncio, o delegado faz mais esta estarrecedora revelação em entrevista ao jornalista Flávio Ferreira, da Folha. Se fosse o editor do jornal daria esta matéria em manchete, sem nenhuma dúvida. Leiam:
O delegado da Polícia Federal Luís Flávio Zampronha, que investigou de
2005 a 2011 a existência do mensalão, rompe o silêncio mantido nos
últimos anos e afirma: "O mensalão é maior do que o caso em julgamento
no Supremo Tribunal Federal".
Em entrevista exclusiva à Folha, Zampronha diz que o esquema era
mais amplo nas suas duas pontas, de arrecadação e distribuição. Deveria,
afirma, ser encarado como um grande sistema de lavagem de dinheiro -e
não só como canal para a compra de apoio político no Congresso.
O delegado abasteceu de provas o Ministério Público Federal, que, em 2006, ofereceu a denúncia ao STF.
Zampronha manteve seu trabalho na PF para aprofundar as investigações e
identificar mais beneficiários. Deixou o caso em fevereiro de 2011, após
entregar relatório pedindo novas apurações.
Embora evite críticas diretas à Procuradoria, Zampronha revela
divergências da PF em relação à denúncia em julgamento neste mês no STF.
Segundo o delegado, o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu e o
ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares poderiam ter sido denunciados também
por lavagem de dinheiro -o que não foi feito pelo Ministério Público
Federal.
Na ação a que respondem no STF, os dois são acusados de corrupção ativa e
de formação de quadrilha (com penas máximas de 12 anos e 3 anos,
respectivamente).
Para Zampronha, as provas mais robustas contra eles são por lavagem de dinheiro (até dez anos de prisão).
Sobre Dirceu, o delegado da PF diz: "Há vários elementos que indicam que
ele sabia dos empréstimos e dos repasses para os políticos".
ORIGEM DO DINHEIRO
O delegado diz que o mensalão "seria empregado ao longo dos anos não só
para transferências a parlamentares, mas para custeio da máquina
partidária e de campanhas eleitorais e para benefício pessoal dos
integrantes".
"O dinheiro não viria apenas de empréstimos ou desvios de recursos
públicos, mas também poderia vir da venda de informações, extorsões,
superfaturamentos em contratos de publicidade, da intermediação de
interesses privados e doações ilegais."
Por outro lado, Zampronha também considera haver "injustiças" na
denúncia -referência a réus que eram subordinados dos operadores e
beneficiários do mensalão.
"Os funcionários não sabiam o que estava acontecendo", afirma o
delegado, citando Anita Leocádia (assessora parlamentar) e Geiza Dias
(gerente da SMPB, agência do publicitário Marcos Valério).
EMPRÉSTIMOS
Outra discordância refere-se à acusação da Procuradoria de que os empréstimos obtidos nos bancos Rural e BMG eram de fachada.
Para Zampronha, os empréstimos eram verdadeiros e seriam quitados com
dinheiro a ser arrecadado pelo esquema -a exemplo do que teria ocorrido
no chamado "mensalão mineiro" (suposto esquema de Valério com tucanos em
Minas em 1998).
Ele considera que a Procuradoria errou ao denunciar quatro dirigentes do
Banco Rural pelo envolvimento nos empréstimos, pois não teria ficado
configurada a ligação pessoal deles com as operações (a cargo, diz, do
ex-dirigente da instituição José Augusto Dumont, já morto).
Zampronha afirma que os recursos desviados do fundo Visanet (apontado
como fonte do mensalão) e repassados à agência de Marcos Valério eram
públicos, pois pertenciam ao Banco do Brasil.
Os réus no STF alegam que os recursos eram privados. "O dinheiro era do
Visanet, mas repassado ao Banco do Brasil. A partir daí, o dinheiro
passava a ser do banco e o Visanet não tinha mais ingerência nas
decisões sobre a destinação dos recursos."
Para Zampronha, a participação do réu e ex-diretor do banco Henrique Pizzolato nos repasses foi comprovada. Texto e foto da Folha de S. Paulo desta segunda-feira
Um comentário:
Não entendi. Se, para o delegado, "as provas mais robustas contra eles [Dirceu e Delúbio] são por lavagem de dinheiro", por que então o Ministério Público não ofereceu a denúncia?
Ninguém lembrou de perguntar?
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