Transcrevo na íntegra a resenha que o jornalista Augusto Nunes escreveu na revista Veja que chegou estourando neste final de semana nas bancas, sobre o livro de Reinaldo Azevedo, "O País dos Petralhas II". E o faço numa homenagem ao Reinaldo e, também, ao Augusto Nunes, dois gigantes da grande imprensa brasileira. Vale a pena ler e comprar o livro que já está à venda aqui na livraria do blog. Comprando aqui os prezados leitores contribuem também para a manutenção deste blog. Leiam:
Milhares de frequentadores do blog político mais movimentado do Brasil
desconfiam há muito tempo que não existe apenas um Reinaldo Azevedo. É
difícil admitir que um único par de mãos produza tantos textos sem
oscilações de qualidade, ou que a mesma cabeça reflita sempre com brilho
sobre assuntos tão distintos. A suspeita ameaça virar certeza ao fim da
leitura de O País dos Petralhas II (Record,
338 páginas; 32,90 reais). "O inimigo agora é o mesmo", avisa no
subtítulo essa coletânea de artigos publicados entre 2009 e 2012 no site
de VEJA ou na edição impressa da revista. Mas o adversário se desdobra
em numerosas tribos e sub-raças, e para enfrentar a nação lulopetista -
com sucesso - parecem entrar em combate, simultaneamente, muitos
Reinaldos Azevedos. Engano. A forma e o conteúdo atestam que todos
convivem num cérebro só, mas singularmente plural.
Favorecido pela divisão por temas, O País dos Petralhas II deixa claro
que, conforme a tropa a enfrentar, a missão de derrotá-la é confiada à
versão mais familiarizada com a área conflagrada. O cristão movido pela
fé genuína, por exemplo, é quem trata de atacar os defensores do aborto
ou resistir ao que chama de "cristofobia", fenômeno que fez do
catolicismo "a religião mais perseguida" no maior país católico do mundo
(habitado por gente que descumpre aplicadamente todos os Dez
Mandamentos e vai à missa como quem sobe ao cadafalso). O pensador sem
patrões nem arreios cuida das "milícias do pensamento", ou de racistas
homiziados na esgotosfera. E todas as versões se juntam na guerra sem
tréguas ao chefe dos petralhas - o "Apedeuta", o "Aiatolula", o nome da
doença que devasta o Brasil.
Percebi, com satisfação, que os textos estão unidos por um propósito: a
defesa dos fundamentos da democracia política, das liberdades de
mercado e da economia de mercado, frequentemente assediadas por um
estado que se pretende um Leviatã meio carnavalizado ou por um carnaval
de patrulheiros ideológicos que mal escondem sua algazarra autoritária",
registra o autor já na introdução, que celebra num dos parágrafos, sem
nenhum escorregão demagógico, a influência exercida pelos leitores sobre
o que pensa e escreve. Faz sentido. A página eletrônica no site de VEJA
é acessada entre 100 000 e 150 000 vezes por dia - e já atingiu 243
640. Essa imensidão de seguidores o tornou "uma pessoa melhor".
Nada a ver com bondade barata, que é frequentemente o outro nome da
capitulação. O católico praticante nunca foi de dar a outra face à
bofetada. Reinaldo prefere bater primeiro. E sempre esbofeteia por
último. Se é verdade que "vence uma polêmica quem escreve o artigo que
fica sem resposta", como garantia Carlos Lacerda, então Reinaldo não
perdeu nenhuma. Tanto quanto o maior orador do século XX, o lutador que
combate a Era da Mediocridade gosta de uma boa briga. Lacerda, que
também escrevia muito bem, era imbatível no duelo verbal. Reinaldo fala
com a segurança de palanqueiro veterano, mas foi com a arma da escrita
que se transformou no maior tribuno da internet.
Como os grandes polemistas que existiram num Brasil que não tratava a
inteligência a pontapés nem louvava a ignorância, Reinaldo Azevedo é
extraordinariamente culto e bem informado. Administra um repertório
vocabular cujas dimensões o incluem num grupo de brasileiros que talvez
não chegue a cinco dígitos. Provido da fina ironia que é uma forma
superior de inteligência, coleciona luminosidades de Nelson Rodrigues.
Que, como mostra o glossário que completa o livro, consegue resumir em
uma ou duas palavras.
"Esquerdopata", por exemplo, é a expressão que criou para batizar "o
esquerdista patológico, disposto a eliminar os severos monstros da
dominação ideológica que ainda assombram seu sono". Favor não confundir
com "esquerdofrênico", neologismo que identifica "o esquerdista
dividido, aquele para quem o superávit primário era coisa de direita no
governo FHC e passou a ser um ato de inteligência da esquerda no governo
Lula". Alvos preferenciais ganham apelidos definitivos. É o caso de
"megalonanico", que tem sua expressão material no ministro da Defesa e
ex-chanceler Celso Amorim, "nanico para todos os efeitos práticos, mas
megalo nas intenções e, certamente, na visão que tem de si mesmo".
No Brasil dos colunistas federais, dos blogueiros estatizados, dos
escritores governistas, dos eruditos de almanaque e dos historiadores
googledependentes, é com esse arsenal feito de sílabas que Reinaldo
ensina diariamente como deve agir quem preza a independência intelectual
- e como se faz oposição sem concessões e sem medos. Pode-se discordar
de algumas ideias que expõe, nunca da honestidade com que as defende.
Ele acredita tão incondicionalmente no que escreve que faz questão de
aumentar com maiúsculas a estatura das vogais e consoantes, além de
encerrar afirmações mais incisivas com um ponto de exclamação - a
bengala do idioma.
O livro ainda não estava pronto quando as livrarias encomendaram 15 000
exemplares. Esgotada previamente a primeira edição, outros 5 000 já
estão na linha de montagem. A maioria vai melhorar a estante dos
admiradores, mas não são poucos os que logo estarão piorando a vida dos
que amam odiar Reinaldo Azevedo. Para o polemista vocacional, ambas as
notícias são boas. "Mal sabem os difamadores que, ao proceder assim,
fortalecem o blog porque outros tantos vão chegando", informa no artigo
de abertura, coerentemente encerrado com um primeiro tapa - e a primeira
bengalada: "Podem vir quente que eu estou fervendo!". Do site da revista Veja
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