Artigo do Juiz de Direito Pedro Luiz Pozza, do Estado do Rio Grande do Sul, Doutor em Processo Civil pela URGS e professor da Escola Superior da Magistratura da AJURIS, escreveu um artigo em seu blog bastante consistente e interessante sobre o julgamento do mensalão que atinge nesta quarta-feira o que pode ser o seu final com a decretação imediata da prisão dos condenados, caso o voto do ministro Celso Mello não acolha os ditos “embargos infringentes”.
Neste escrito, o magistrado gaúcho aponta algumas saídas que, segundo ele, poderiam mitigar o alardeado desgaste a que a Suprema Corte estaria exposta caso sejam admitidos os "infringentes". Ao final, conclui que de um limão o STF pode fazer uma boa limonada. Basta querer. O título original do artigo é : "O STF, o Mensalão e a Opinião Pública". Vale a leitura. Transcrevo:
Sustentei dias atrás neste blog haver motivos mais do que suficientes para que o Ministro Celso de Mello, decano do STF, vote pelo descabimento dos embargos infringentes na ação penal do Mensalão.
A tendência, entretanto, segundo se especula, é de que o voto seja pela admissão desse recurso, o que, ainda que não faça o STF cair no precipício, como vaticina o Ministro Marco Aurélio, causará um enorme descrédito perante a sociedade brasileira que, quando das condenações anunciadas no ano passado, imaginou que a Justiça brasileira deixara de condenar apenas “pretos e pobres”, como se diz no jargão popular, alcançando também os poderosos, em especial os políticos que até então estavam a salvo da legislação penal brasileira por força do foro privilegiado.
Há, todavia, uma saída para o STF, a fim de que possa mitigar ao menos em parte a decepção que porventura venha a causar com a admissão dos embargos infringentes, e que é perfeitamente admissível sob o ponto de vista jurídico, e imperiosa, do ponto de vista politico (aqui se usa a palavra não como a atividade partidária – sentido pejorativo -, mas como uma dos predicativos atribuídos ao STF, que a despeito de não ser uma Corte exclusivamente constitucional, é acima de tudo um Tribunal politico, porque sua missão precípua é a de guarda da Constituição.
Com efeito, os embargos infringentes, se admitidos, poderão ser interpostos apenas por alguns réus. Assim, aqueles que não poderão valer-se desse recurso nada mais terão a fazer, a não ser interpor novos embargos declaratórios, sabidamente usados, nos Tribunais superiores, unicamente para postergar o trânsito em julgado.
Portanto, como ocorreu no caso Donadon, o STF poderá, na sessão de amanha, reconhecer antecipadamente o trânsito em julgado da decisão condenatória dos acusados que não podem interpor os infringentes, determinando sua prisão imediata.
O mesmo poderá ocorrer, aliás, com quase todos os acusados que poderão valer-se dos embargos infringentes, pois esse recurso só poderá ser manejado contra a condenação pelo crime de formação de quadrilha, e não pelos demais crimes, para os quais não houve ao menos quatro votos pela absolvição.
No caso de José Dirceu, por exemplo, se tiver sucesso nos embargos infringentes, o máximo que poderá ocorrer será a redução de sua pena de dez anos e dez meses para sete anos e nove meses de reclusão, na hipótese de a condenação por formação de quadrilha – dois anos e onze meses de reclusão – ser afastada integralmente.
Ou seja, mesmo que José Dirceu tenha êxito nos embargos infringentes, restará incólume a pena de sete meses e onze meses de reclusão. Assim, nada obsta a que o cumprimento dessa pena seja iniciado de imediato, lógico que em regime semiaberto. Se depois os embargos forem rejeitados, a pena voltará a dez anos e dez meses, e o ex-Ministro cumpri-la-á integralmente, inclusive o tempo necessário em regime fechado.
O mesmo poderá ocorrer com vários outros acusados, salvo aqueles que, na hipótese de sucesso dos infringentes, possam obter pena inferior a quatro anos de reclusão, o que poderia viabilizar a substituição por penas restritivas de direito.
Lembro, ainda, que o réu Marcos Valério, mesmo que tiver sucesso nos infringentes, conseguirá afastar apenas a condenação por formação de quadrilha, persistindo ainda as demais penais, que juntas somam mais de trinta e sete anos de reclusão, que cumprirá de qualquer forma em regime fechado.
Lembro, ainda, que decisão do Superior Tribunal de Justiça nesse sentido poderia permitir inclusive que tenha início o processo de declaração da perda do mandato da Câmara dos Deputados, em relação aos acusados detentores de mandato junto a essa casa legislativa.
Tal solução não seria absurda, e poderia enviar à sociedade a mensagem de que o STF continua atento aos clamores do povo, sem violar a ordem jurídica vigente.
Basta para isso um requerimento do Ministério Público Federal ou a iniciativa de qualquer dos Ministros, em especial do Relator, Ministro Joaquim Barbosa.
Desta forma, se admitidos os embargos infringentes, o STF tem como fazer do limão uma limonada. Basta querer.
3 comentários:
Limonada sem água e sem açúcar.
Aluizio, tive um sonho estranho. Sonhei que era o decano Celso Mello e lia o meu voto. Até onde me lembro, no sonho eu me expressava, claro, no mais puro e erudito juridiquês que a seguir reproduzo em linguagem corrente. Eu dizia:
“Senhor presidente e caros colegas do colegiado, todos sabemos que a lei admite a aceitação e a recusa dos embargos infringentes com fundamento igualmente técnico. Ora, juízes obedecem a lei. Se a lei não me dá escolha, eu não escolho. Mas, se a lei me manda escolher, eu obedeço, fazendo a escolha que a mim pareça a melhor conforme o momento e o caso. Exatamente como fizeram cada um dos meus colegas aqui presentes. Não há vinculação com escolhas anteriores pois na lei a escolha está sempre aberta. Na forma como se apresenta na lei nada impede, portanto, que sejam feitas escolhas diferentes conforme o caso e o tempo. Assim, para o caso sobre o qual me manifesto no momento presente voto pela recusa dos embargos infringentes.”
Sonho estranho, muito estranho …
Bela limonada! Quanta especulação, né? O fato é que, se os infringentes forem aceitos, será o golpe final em nossa democracia e do início de um Tribunal bolivariano, como o próprio Gilmar Mendes disse e eu concordo. Disse ele ainda, que será assada a pizza do Supremo, com o que concordo tb. Aguardemos, pois!
Esther
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