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segunda-feira, agosto 18, 2014

O EFEITO COMOÇÃO

Por Nilson Borges Filho (*)
Os números publicados pelo instituto Datafolha sobre as intenções de votos para a eleição presidencial, ainda sob o efeito da comoção pela morte trágica do candidato Eduardo Campos, deve ser lida com certa precaução. O velório midiático de um jovem político, pai de cinco filhos, com um futuro promissor mexe com o emocional do eleitor médio brasileiro. Portanto não foi surpresa os índices alcançados por Marina Silva, obtendo 21% da preferência do eleitor em primeiro turno contra os 20% de Aécio Neves.
A candidata Dilma Rousseff manteve os mesmos 36% da pesquisa anterior, mas o seu governo subiu 6 pontos percentuais no conceito dos entrevistados. Um dado, altamente expressivo quando se trata de eleição majoritária, atinge a candidatura petista de forma quase mortal: 36% de rejeição contra 18% de Aécio Neves e 11% de Marina Silva. Por um lado, Dilma pode se sentir confortável com a melhora de seu governo sob o olhar do eleitor, mas sob outro ângulo é preocupante que num provável segundo turno seria derrotada por Marina Silva.
Mas continua o registro inicial: somente mais à frente, com pesquisas fora do alcance midiático e comovente do velório de Eduardo Campos, os números serão mais confiáveis. Outro fator que deve ser considerado é que tanto Dilma como Aécio não perderam eleitores para Marina. Os 21% da candidata do PSB saíram dos indecisos e dos que não sabiam em que votar, somados, é evidente, aos 8% de Campos.
Dos três candidatos Aécio é o menos conhecido, principalmente considerando que Dilma e Marina já concorreram à presidência. É verdadeira a tese de que existe um recall dos votos obtidos por Marina Silva da última eleição, quando conseguiu levar o pleito para o segundo turno com os seus 20 milhões de votos. O que não é pouca coisa, é bom ressaltar. Da mesma forma é consistente a tese de que Dilma perderá eleitores no norte e nordeste do Brasil para a candidata socialista.
A Aécio cabe jogar com tudo nos Estados do sudeste, centro-oeste  e do sul do Brasil, para obter uma boa vantagem que diminua os votos do norte e nordeste favoráveis aos adversários. Se contra Dilma pesa aquele ar arrogante e expressão mau humorada, para Marina favorece aquela presença frágil, porém movida por um conteúdo que envolve um comportamento ético que mexe com o imaginário popular.
À candidatura tucana é bater na tecla de que Aécio Neves tem experiência legislativa (foi deputado e senador), foi um ótimo gestor como governador de Minas Gerais em dois mandatos e que um governo seu trará mudanças para melhorar a vida de todo o povo brasileiros, mantendo o que deu certo de governos anteriores.
Cabem, de forma procedente, algumas ressalvas sobre a candidata ambientalista: não se sabe bem o que pensa Marina Silva sobre o papel do Estado, pois nada do que disse até agora tem sentido quando se juntam as peças do seu discurso; até o momento desconhece-se as linhas programáticas de um futuro governo seu; a falta de quadros no PSB obrigará Marina a buscar nomes de peso de outros partidos, mas que partidos participarão desse consórcio? A candidatura de Marina Silva é uma total incógnita.
Curiosamente, são os eleitores com curso superior e de alta renda que alçaram a candidata ambientalista na condição de vencedora num provável segundo turno. Bateu o medo na campanha petista porque a esperança, segundo  esses eleitores letrados e com boa renda, é Marina Silva. Lamentável que essa mesma elite que aposta na candidata do PSB não esteja procurando saber qual o modelo de Estado que Marina Silva deseja para o Brasil? Como a candidata conviverá com o agronegócio, um dos setores que ainda mantém o PIB positivo? O que o setor produtivo pode esperar do seu governo? O que a candidata pensa sobre a reforma tributária?
Como o modelo político brasileiro se sustenta no presidencialismo de coalizão, qual será a base parlamentar de Marina Silva para aprovar as medidas que o país necessita para voltar a crescer? Se a candidatura de Marina Silva é uma incógnita, imagine-se o que não será um governo seu com partidos políticos sem quadros governando e a falta de uma base parlamentar de sustentação política.
Espera-se que a equipe de Aécio Neves comece a raciocinar que antes de haver um segundo turno é necessário primeiro chegar à frente da candidata do PSB. E que fique bem certo para o candidato tucano: se Marina nas próximas pesquisas ultrapassar com certa vantagem os seus índices, é quase certo que haverá o voto útil, com os eleitores de Aécio migrando para Marina Silva.
(*) Nilson Borges Filho é mestre, doutor e pós-doutor em Direito e articulista colaborador deste blog. Foi professor da UFSC e da UFMG e Juiz do TRE de Santa Catarina.

2 comentários:

Anônimo disse...

VER PARA CRER

Tenho ouvido dizer que a bancada do JN vai pegar muito leve hoje com a candidata-poste de Dom Lulusconi, ao contrário do que foi feito com o Aécio e o Eduardo Campos. O motivo disso, além do servilismo da Globo diante do Partido do Mensalão, é que a bancada sabe que, no improviso, a candidata vai ser um desastre maior do que o naufrágio do Titanic, já que sofre de um estranho mal que não lhe permite juntar duas frases com um mínimo de sentido.

Há quem diga até que ela já vai estar sabendo das perguntas que serão feitas, num esquema parecido com o que o Partido do Mensalão impôs na CPI da PTbráx, coisa em que eu me recuso a acreditar. Mas, se ela tiver que improvisar e se sair bem, o que seria algo praticamente impossível, haverá razão para que se suspeite de alguma maracutaia.

Aguardemos

Ferreira Pena disse...

Texto bastante realista da situação política atual, em mudança acelerada. Ainda acredito que o Aécio vença essa eleição, pois não é possível que a maioria das pessoas desse país seja composta por loucos ou vagabundos. Estamos numa situação delicadíssima, e com a continuidade da Dilma ou a entrada da Marina, vai piorar de forma exponencial. A situação da Venezuela e Argentina, nos leva a abrir os olhos contra incompetentes e aventureiros de esquerda!