Dora Kramer, do jornal O Estado de São Paulo está entre os poucos jornalistas brasileiros que não se ajoelham ante o poder. É merecedora de crédito também a equipe de editorialistas desse jornal que, lamentavelmente, ao poucos vai sendo solapada pela jeunesse dorée do jornalismo botocudo. É verdade que a vida dos humanos seria uma chatice total sem a ruidosa, alegre e, sobretudo, contestadora presença dos jovens. Ocorre que a nova safra de jornalistas em sua maioria é completamente estúpida e isso se pode constatar pelo que escrevem. Isto não quer dizer que todos os velhos de guerra do jornalismo pátrio (êpa!) possam servir de exemplo à moçada que vai chegando.
Como dizia no início destas linhas, Dora Kramer é das raras jornalistas que não segue a manada. Seus escritos não se escondem numa pretensa isenção com a finalidade precípua de bajular o poder e, sobretudo, o PT.
Em sua coluna desta quinta-feira, Dora Kramer foi mais uma vez ao ponto ao manter ao pé da letra uma rotunda interrogação a respeito do governo de Dona Dilma, remando portanto contra corrente do puxa-saquismo ensandecido que grassa e escorre por todos os cantos das redações.
Mas é no tocante à crítica que tece sobre os procedimentos da Oposição é que faz a diferença. Enquanto a maioria doa analistas políticos serve de assessoria de imprensa para os estrategistas palacianos, Kramer pega de jeito na nota conclusiva de sua coluna. Muito diferente, portanto, do estilo de uma Mônica Bergamo que na verdade é picaretagem metida a grã-fina. Vejam:
Lição do abismo. Eis o PSDB: o partido decide apoiar a proposta de um salário mínimo de R$ 600, baseado em promessa de campanha, sustentando que há condições objetivas para tal. Certa ou errada, foi uma decisão.
Mas uma ala, liderada pelo senador Aécio Neves, na última hora abraça a tese de R$ 560 no intuito de se "aproximar das centrais sindicais", posando ao lado de um dos maiores detratores da candidatura presidencial tucana, Paulo Pereira da Silva.
Considerando que o governo tem os instrumentos que as centrais gostam e está apenas começando, com no mínimo mais quatro anos pela frente e uma identidade indissociável, o PSDB não consegue uma coisa nem outra: não quebra a aliança com os sindicalistas incrustados e dependentes da máquina e perde a chance de unir o partido numa discussão de repercussão nacional.
É assim, privilegiando disputas internas, que se constroem as grandes derrotas. Para ler a coluna na íntegra clique AQUI