Sempre gostei muito dos filmes de Woody Allen. Não vi todos. Esse cineasta possui 39 filmes. Mas ele mesmo separa apenas três, sendo que desses assisti A Rosa Púrpura do Cairo. Os outros de agrado do próprio Allen são Match Point e Maridos e Esposas, que não vi.
Mas por que estou falando de Allen? Porque a Folha de São Paulo desta quarta-feira traz uma entrevista com ele em cima do lançamento de seu último filme O sonho de Cassandra.
Woody Allen está com 72 anos de idade. Nessa altura da vida a questão da idade entra obrigatoriamente na conversa, porque um velho é sempre motivo para louvação ou para gozação.
A segunda alternativa é a mais freqüente, porque os jovens sempre acham que, além de imortais, não irão ficar velhos. E isto não é porque o jovem deseja que assim seja. Ele simplesmente obedece a um ditame da natureza que emerge de seus insondáveis desígnios, se é que há algum desígnio na natureza.
Não fosse a imprecisão da data de nossa morte quem empreenderia ou faria planos? Deve-se à ciência não só o fato de que indivíduos com mais de 70 anos de idade estejam vivos e trabalhando, mas também a crise existencial que acomete esses viventes. A ciência que os mantêm vivos não é capaz de lhes proporcionar nenhum sentido para a existência.
Esta angústia existencial é o resultado - incrível, não? – da própria racionalidade da ciência, apanágio da civilização moderna. A ciência traça a rota de colisão entre a sua racionalidade com a irracionalidade do mundo da vida.
Como não há qualquer anteparo para o avanço do conhecimento a angústia existencial decorre do fato de que um homem velho pode estar cansado de viver, mas não está saciado, pois a ciência lhe antecipa o futuro, acena sempre com a possibilidade do novo.
Muito diferente de um aborígine, para o qual não há nem haverá nada além do que vêem seus olhos. Não será capaz de imaginar que no futuro a sua tosca canoa possa ser impulsionada por um motor à combustão.
A racionalidade da ciência ao mesmo tempo em que nos deslumbra e nos proporciona conforto é responsável pelo nosso drama existencial.
Quando abri o site da Folha agora de madrugada estampando uma foto do Woody Allen na capa me veio à mente o fato de que foi melancólico vê-lo atuando num filme (não me lembro o nome agora), em que ele fazia o papel de um diretor de cinema que havia perdido a visão, ao final recobrada.
Tal melancolia por mim experimentada deu-se em função da tristeza de ver talentos como Allen ficando velhos. Nesse filme existia um descompasso entre o personagem e o ator.
Na entrevista que está na Folha desta quarta, Allen foi incisivo na sua reflexão sobre a vida, a velhice e a morte. À pergunta sobre se a sua saúde é boa, ele arrematou:
“Nunca estive no hospital; ainda sou ativo. Tenho bons genes. Minha mãe chegou aos 98 anos; meu pai, aos 100. Mas envelhecer é uma coisa terrível. Minha vista já não é o que era, perdi um pouco da audição, a comida não tem o mesmo gosto. Não ganhei sabedoria nenhuma. Não há nada de bom em envelhecer. Você simplesmente deteriora e morre”.
Na semana passada perdi minha mãe. Faleceu aos 89 anos de idade. Sofria do mal de Alzheimer há pelo menos uns 10 anos. Foi apagando devagar até entrar em estado de coma e morrer.
Mas por que estou falando de Allen? Porque a Folha de São Paulo desta quarta-feira traz uma entrevista com ele em cima do lançamento de seu último filme O sonho de Cassandra.
Woody Allen está com 72 anos de idade. Nessa altura da vida a questão da idade entra obrigatoriamente na conversa, porque um velho é sempre motivo para louvação ou para gozação.
A segunda alternativa é a mais freqüente, porque os jovens sempre acham que, além de imortais, não irão ficar velhos. E isto não é porque o jovem deseja que assim seja. Ele simplesmente obedece a um ditame da natureza que emerge de seus insondáveis desígnios, se é que há algum desígnio na natureza.
Não fosse a imprecisão da data de nossa morte quem empreenderia ou faria planos? Deve-se à ciência não só o fato de que indivíduos com mais de 70 anos de idade estejam vivos e trabalhando, mas também a crise existencial que acomete esses viventes. A ciência que os mantêm vivos não é capaz de lhes proporcionar nenhum sentido para a existência.
Esta angústia existencial é o resultado - incrível, não? – da própria racionalidade da ciência, apanágio da civilização moderna. A ciência traça a rota de colisão entre a sua racionalidade com a irracionalidade do mundo da vida.
Como não há qualquer anteparo para o avanço do conhecimento a angústia existencial decorre do fato de que um homem velho pode estar cansado de viver, mas não está saciado, pois a ciência lhe antecipa o futuro, acena sempre com a possibilidade do novo.
Muito diferente de um aborígine, para o qual não há nem haverá nada além do que vêem seus olhos. Não será capaz de imaginar que no futuro a sua tosca canoa possa ser impulsionada por um motor à combustão.
A racionalidade da ciência ao mesmo tempo em que nos deslumbra e nos proporciona conforto é responsável pelo nosso drama existencial.
Quando abri o site da Folha agora de madrugada estampando uma foto do Woody Allen na capa me veio à mente o fato de que foi melancólico vê-lo atuando num filme (não me lembro o nome agora), em que ele fazia o papel de um diretor de cinema que havia perdido a visão, ao final recobrada.
Tal melancolia por mim experimentada deu-se em função da tristeza de ver talentos como Allen ficando velhos. Nesse filme existia um descompasso entre o personagem e o ator.
Na entrevista que está na Folha desta quarta, Allen foi incisivo na sua reflexão sobre a vida, a velhice e a morte. À pergunta sobre se a sua saúde é boa, ele arrematou:
“Nunca estive no hospital; ainda sou ativo. Tenho bons genes. Minha mãe chegou aos 98 anos; meu pai, aos 100. Mas envelhecer é uma coisa terrível. Minha vista já não é o que era, perdi um pouco da audição, a comida não tem o mesmo gosto. Não ganhei sabedoria nenhuma. Não há nada de bom em envelhecer. Você simplesmente deteriora e morre”.
Na semana passada perdi minha mãe. Faleceu aos 89 anos de idade. Sofria do mal de Alzheimer há pelo menos uns 10 anos. Foi apagando devagar até entrar em estado de coma e morrer.
Enquanto olhava seu corpo inerte passava na minha mente o filme da minha própria vida, uma espécie de flash-back da minha existência até aqui, o que me levou a indagar a mim mesmo como somos capazes de enfrentar essa aventura?
Tem razão o Woody Allen. Não há nada de bom em envelhecer. A vida não tem qualquer sentido. A velhice menos ainda!
Tem razão o Woody Allen. Não há nada de bom em envelhecer. A vida não tem qualquer sentido. A velhice menos ainda!
9 comentários:
Bela digressão. Meu pai tem 94 anos e de uma lucidez invejável (até para mim que sou bem mais novo hehehe), saúde e disposição. Mas seu corpo não reage mais aos comandos do cérebro. Passa os dias imaginando como seria bom ser jovem outra vez e esperando por essa outra data que virá, mas quando? Isso me soa injusto por parte da Natureza.
Jânio
Que me adianta ter lucidez se meu corpo não corresponde às expectativas. Logo sou forçado a concordar com vocês.
A escada da vida têm degraus até os sessenta anos, depois, vira escorregador,hehehehe!!
Concordo. Alias, analisando friamente, nada tem sentido sabendo q um dia tudo vai pro esgoto. Eh uma bosta mesmo e por estas e outros q sou ateu.
[]s e o blog novo ficou melhor.
Caríssimo, meus pêsames. Também eu não sei lidar com a passagem do tempo. Nos últimos oito anos, perdi meu avô paterno, meu pai, meu tio mais novo (irmão dele) e um primo deles - com exceção do vô, os outros todos não completaram 60 anos. Portanto, o tema da morte realmente se chegou pra mim na última década. A conclusão a que cheguei é que, se o camarada pensar muito sobre isso, enlouquece. Isso tudo faz sentido? O que fazemos aqui? Vixe! Os que crêem têm um certo conforto nestas horas. Mais do que nós. Bom, parabéns pelo novo blog e pelo texto.
abs
Caro Ph. Fico grato pelas suas palavras de conforto e também fico pesaroso pelo falecimento dos seus entes queridos. Mas é assim mesmo e não se deve pensar nunca sobre se há sentido para a existência. É claro que não há. Ao mesmo tempo fico feliz por vc ter gostado do texto. Abração do Aluízio Amorim
ALUÍZIO, TEMOS NOS VISTO COM TANTA FREQUÊNCIA, QUE NEM SABIA DO FALECIMENTO DE SUA MÃE. QUEIRA, PORTANTO, ACEITAR MEUS PÊSAMES, MESMO SABENDO-SE QUE DIANTE DAS CIRCUNSTÂNCIAS NARRADAS, VOCÊ DEVE ESTAR MAIS QUE CONFORMADO. QUANDO À IDADE, DE FATO É UM PESO, MAS, DESDE QUE TENHAMOS UMA BOA QUALIDADE DE VIDA E CABEÇA LÚCIDA, É MELHOR QUE NADA. O SEGREDO, A MEU VER, ESTÁ EM SABER-SE COMPENSAR AS PERDAS INEVITÁVEIS COM NOVAS PRIORIDADES. ABRAÇO. MaGenCo
Caro Mário: fico muito grato pelas suas sábias palavras e pelos pêsames. A minha mãe enfim descansou. Foi uma guerreira incansável e dedicada, sempre ao lado do meu pai e dos filhos. Em função da doença (Alzheimer) ela foi apagando aos poucos, entrando em coma de forma vagarosa até apagar tudo por completo. Pelo menos não sofreu e morreu em sua cama livre de aparelhos e agulhas de soro. Isto me deixou, de certa forma, tranqüilo, pois ela não esboçou sofrimento. Foi uma grande mãe. Abração do Aluízio Amorim.
P.S.: precisamos marcar um café para colocar a conversa em dia.
Caro Aluízio
Só agora, com muito atraso, pude ler este post...Meus mais sinceros sentimentos à você & Família.
Meus pêsames, Aluízio. Eu pensei muito sobre esse assunto e ainda penso. Exatamente por perder a minha mãe também em Agosto do ano passado com 80 anos. Meu pai também que sempre teve uma saúde de ferro, sofreu 3 AVC's como eu contei aqui uma vez, devido ao cigarro, está entubado para nunca mais voltar e o mais preocupante é que na minha família não havia nenhuma morte, a não ser dos meus avós que tive poucos contatos devido à distância. Não dá para parar pra pensar. Mas é como o Xico Anísio diz: -"Quando a gente aprende tudo sobre a vida, a gente vai embora. Deveria ser ao contrário". Deveria... Abs. Júnior
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