Uma das característias mais idiotas do jornalismo brasileiro se revela todos os dias nessas entrevistas que fazem com os tais “cientistas políticos”.
Para começo de conversa, não existe “ciência política”. Pode-se falar em teoria política ou filosofia política. Mas não se pode cometer o desatino de tipificar como cientista um sujeito que emite opiniões, muito menos constituir uma disciplina acadêmica denominada “ciência política”.
A rigor não se pode falar também de “ciências sociais”, “ciências humanas”. E isto deriva fundamentalmente da impossibilidade da construção de conceitos unívocos nessas áreas do conhecimento humano.
Foi exatamente por causa disso que Max Weber concebeu o conceito de “tipo ideal”, com a intenção de abstrair juízos de valor na pesquisa social. Foi quem melhor problematizou isso. Pode-se afirmar que foi a elaboração teórica mais bem sucedida de separar juízos de fato de juízos de valor no âmbito da sociologia.
O diabo é que até hoje poucos conseguiram entender o conceito de “tipo ideal”, o anteparo mais eficiente à substancialização dos conceitos, esses construtos mentais através dos quais nomeamos a realidade. Fora dos cânones científicos que governam a Física, o resto que é dito e propalado por aí é puro devaneio, ideologia barata.
Entretanto, a Folha de São Paulo, como de resto os demais jornalões brasileiros, continuam patinando nessa idiotice e, por isso mesmo, a leitura de jornais torna-se cada vez mais tediosa.
Como exemplo do que afirmo, transcrevo a seguir uma entrevista com uma dessas “cientistas políticas”. Leiam e reflitam sobre o que realmente está acontecendo no plano institucional brasileiro e a interpretação que essa senhora dá aos fatos. Vejam:
"O Supremo está nos jornais, para o bem ou para o mal", diz a cientista política Maria Tereza Sadek. Autora de várias pesquisas sobre o Judiciário, ela entende que a "nova pauta" do Supremo Tribunal Federal corresponde a uma tendência prevista na Constituição de 1988. Mas as votações mais recentes não revelam, para Sadek, as divisões internas da Corte.
FOLHA - Como a sra. analisa a atuação do Supremo Tribunal Federal?
MARIA TEREZA SADEK - No nível doutrinário, há um embate.De um lado, os que têm uma percepção mais garantista do Judiciário, com ênfase na presunção de inocência e no direito de defesa. De outro, há uma linha mais voltada para o ativismo judicial.
FOLHA - As últimas decisões do STF evidenciam essa divisão?
SADEK - As votações sobre as "fichas sujas" e as algemas não são suficientes para mostrar as divisões no STF.
FOLHA - Como a sra. vê as manifestações do presidente do STF?
SADEK - O ministro Gilmar Mendes está conduzindo o tribunal em uma linha que sempre defendeu. Mostra uma liderança muito forte.Do ponto de vista político, ele bate muito de frente onde não deveria bater. Então, ele é obrigado a voltar atrás.
FOLHA - Isso ficou evidente na tentativa de "disciplinar" o juiz federal Fausto De Sanctis...
SADEK - Sim. Também em discordâncias com o ministro Tarso Genro, da Justiça.Mas, doutrinariamente, tudo isso já era esperado.
FOLHA - Como a sra. vê a diversidade de temas no STF? Isso mostra um perfil mais "proativo" do Supremo?
SADEK - É uma tendência iniciada com a Constituição de 1988. Ao adotar a repercussão geral, o STF não só desafoga a pauta, como se concentra nas decisões mais importantes. O Supremo está nos jornais, para o bem ou para o mal.
FOLHA - Essa "exposição" do STF também era prevista?
SADEK - Todo o Judiciário passa por uma mudança forte. Antes, a entidade tinha uma atuação muito corporativa. Esse processo também alcança o Ministério Público. O procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, está marcando uma presença que o Ministério Público Federal não tinha. A imagem de "engavetador" é coisa do passado".
segunda-feira, agosto 11, 2008
A idiotia elevada ao estatuto de ciência
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Postado por
Aluizio Amorim
às
8/11/2008 08:43:00 AM
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2 comentários:
O que há de errado com a análise da professora Sadek? O seu comentário inicial não é suficiente para explicar a sua crítica visceral contra os pontos debatidos pela entrevistada, cujas pesquisas sérias são reconhecidas e respeitadas pelas comunidades jurídica e acadêmica - brasileira e internacional. Chute na canela não é argumento. Dessa forma o seu blog não progredirá, seja politicamente correto ou não.
Anônimo,
o blog não progredirá, está progredindo e aumenta sempre a audiência.
Entretanto, você tem todo o direito de discordar das minhas opiniões e é por isso que o blog é bom, permite que os leitores possam interagir e também opínar.
De toda sorte, agradeço o seu interesse e a leitura.
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