O assassinato de uma notícia
Com era previsível, a grande imprensa brasileira aliviou o impacto da denúncia da revista colombiana Cambio.
O Estadão pelo menos deu manchete de capa, mas a Folha de São Paulo preferiu destacar a maquiagem de Marta Suplicy e do Chuchu no camarim da televisão onde foi travado o debate dos candidatos à prefeitura de São Paulo.
Na parte interna do jornal a Folhona pegou leve. Durante toda à tarde de ontem, depois que alguns blogs revelaram a matéria da revista Cambio, entre eles este que você está lendo (veja abaixo), demorou até que os sites dos grandes jornais e os blogões a eles vinculados postassem a notícia.
E notem o detalhe. A informação surgiu pelo aviso de leitores nos comentários de alguns blogs e se espalhou rapidamente pela blogosfera até atingir a redação dos jornais, porque os jornalistas lêem, obviamente, os blogs independentes.
No site UOL/Folha Online, a notícia permaneceu por pouco tempo em destaque, ao contrário de outras vezes, quando a matéria principal do dia – e esta era o principal fato concreto acontecido durante toda a quinta-feira que merecia destaque e investigação pelos jornais – foi retirada logo e lançada à vala comum daquela lista de informações menores do cotidiano.
Os grandes blogs alojados nesses portais fizeram o mesmo. Deram a matéria sob pressão dos blogs independentes. Ressalve-se o blog do Reinaldo de Azevedo, que está no portal da revista Veja que, por enquanto, é a única publicação não se pôs de joelhos ante o poder.
Escrevi antes que saíssem os jornais desta sexta-feira o artigo que está no post imediatamente abaixo deste. As minhas premonições estavam corretas e sequer fiz alterações.
Já acreditei menos na previsão da morte dos jornais e do jornalismo tradicional. Mas comecei hoje a mudar de idéia, embora nas próprias faculdades de jornalismo ainda se possa ouvir de certos professores aquele papo nostálgico da máquina de escrever e do cheirinho de tinta.
Estou nesta praia há muitos anos. Sempre tirei o meu sustento do jornalismo.
Primeiro em redação por quase 16 anos ininterruptos e, depois, passei ao nível da consultoria e assessoria em jornalismo empresarial, com breve passagem pelo magistério e também pela propaganda, quando tive uma pequena empresa.
Estive nos dois lados do balcão, numa faculdade lecionando e como pequeno empresário. Hoje estou na internet. E lá se vão pelo menos uns 38 anos de profissão.
Modéstia à parte entendo um bocado do metier, o que me permite farejar de longe quando um assunto que incomoda e mexe com inúmeros interesses acabará sendo sufocado como se viu de ontem para hoje.
No passado isto era possível e permitiu a profusão de ditaduras de todos os matizes. Na atualidade, com a internet, isto não é mais factível.
Os jornais sobreviverão mais algum tempo nesse mesmo esquema, mas enquanto durar uma geração que na sua maioria é infofóbica e sequer consegue ligar o computador, quando muito o usam apenas como uma máquina de escrever e só. “Tenho que pegar o papel, sentir o cheiro da tinta” – argumentam os dinossauros.
E o meu empenho no trato do assunto levantado pela revista Cambio pode parecer para o Governo e os partidários do PT simples implicância, reacionarismo e trololós correlatos.
Estão completamente enganados. Embora não alimente qualquer ilusão quanto ao futuro da humanidade e bobagens do gênero e, para começo de conversa sou ateu, já fui esquerdista, combati até onde pude a ditadura e continuarei a combater qualquer tipo de regime discricionário, pretendo com o meu trabalho difundir o que penso e de alguma forma contribuir para que o Brasil se civilize um pouquinho, pelo menos.
O que eu não consigo compreender é que pessoas com instrução, formadas, alguns até mesmo com cursos de pós-graduação, façam parte de uma facção política baseada na pura idiotice.
E o que é pior, muitos servindo de massa de manobra para os espertalhões do esquerdismo profissional, uma coisa velha, embolorada e fedida, nem por isso menos perigosa. Principalmente quando se associa ao crime organizado.
Esta gente até hoje não conseguiu ficar adulto. É uma espécie de infantilismo crônico que qualifico de botocudismo.
N.B.: Por causa da insanidade da malta petralha, sou obrigado a continuar moderando os comentários. Os meus últimos textos estão meio longos, eu sei. Mas é preciso que as coisas sejam analisadas em detalhes, que são inúmeros.
Ler, pensar seriamente, estudar e aprender é sempre difícil, muitas vezes penoso. E sei lá se vale a pena.
sexta-feira, agosto 01, 2008
Jornais desaparecerão antes do que imaginava
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5 comentários:
É só fazer uma assinatura da revista Cambio...
É, Aluízio. Todos o regimes totalitários que conhecemos utilizam as mesmas ferramentas, dentre elas o jornalismo e a informação manipulada. O tema abordado é bastante atual, pois trata de algo que parece inevitável: o fim dos "jornalões impressos". Nem tanto pelo seu anacronismo, mas principalmente pela cumplicidade com o poder, pela corrupção de seus ideais. A Internet veio para desmascarar a manipulação das informações; antes dela o que aparecesse estampado na 1ª página era a "pura verdade".
Parabéns pela sua lucidez e visão abrangente do tema.
Aluízio,
A irresponsabilidade chega às rais da perversidade. Minimizar tão grave denúncia, relacionada ao envolvimento do governo com o narcotráfico enquanto, por todo o país, pessoas estão morrendo devido a essa atividade funesta, é uma atitude no mínimo, parversa para não dizer criminosa.
Nenhuma autoridade se manifesta. Não temos oposição.
Vivemos num clima de terror.
Resta-nos lamentar e votar numa urna eletrônica que, para mim, não é confiável.
Acho que, definitivamente, o Brasil acabou.
FLÁVIA
"..pessoas com instrução, formadas, alguns até mesmo com cursos de pós-graduação, façam parte de uma facção política baseada na pura idiotice."
Meu caro Aluizio: se, a essas pessoas não foi prometido um paraíso com 72 virgens, é porque elas encontraram o paraíso aqui mesmo em Terra Brasilis. Como já comentei no meu blog, ninguém aquiesce de graça e esse ideologismo exarcebado 'pra inglês ver' não faz parte de um país onde a lei de Gérson sempre prevaleceu. Abç
Maria Helena
Zero Hora de hoje, além de chamada de capa, dedicou três páginas à matéria. Inclusive sobre o envolvimento de um magistrado gaúcho, sobre o que postarei, daqui a pouco, em meu blog. Abraços.
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