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terça-feira, fevereiro 10, 2009

LEIAM, BOBALHÕES POLITICAMENTE CORRETOS

Luiz Felipe Pondé foi ao ponto no seu artigo intitulado "Metamorfose", publicado na Folha de São Paulo desta segunda-feira, dia 9, e que me passou despercebido, haja vista a forma com que a Folha apresenta o índice de suas matérias na internet, uma suruba.

O jornal, que virou uma porcaria nesses tempos de lulismo, quilombolas, politicamente corretos e quejandos, já indispõe à leitura. Providencialmente o Reinaldão garimpou corretamente e postou. E, mesmo que já seja do conhecimento da maioria dos leitores mais atentos, publico também o artigo de Pondé na íntegra, logo após este prólogo. Não deixem de ler.

Pondé responde a um artigo do (argh!) Marcelo Coelho, o intelequitual politicamente correto. E faz picadinho do Coelhinho que costuma posar de sabichão.

O artigo de Luiz Felipe Pondé é extraordinariamente ótimo!

Recomendo a leitura especialmente para os bobalhões politicamente corretos. Mas o diabo é que semoventes não costumam pensar além do que tem dentro da cocheira.

Ao ser indagado se não tinha esperanças, Kafka disse, "esperanças há muitas, mas não para nós". Janouch narra um dia em que ele, com 20 anos, disse a Kafka, então com 40, "hoje não estou entendendo nada do que você diz". Kafka respondeu "deve ser a misericórdia de Deus, porque sendo você jovem, e estando eu hoje pessimista, se você me entendesse, você ficaria mal".

Confessa: "o pessimismo é meu pecado".Por que os clássicos são tão pessimistas? Seria o trágico uma moda? Três mil anos de moda? Improvável.

Na sua coluna de 21 de janeiro, meu colega ilustrado (velha piada entre nós) Marcelo Coelho critica "meu" pessimismo. Colunistas que "matam a esperança" são supérfluos. O bom jornalismo opinativo é pautado pelo conflito de ideias, por isso, agradeço suas críticas.

Ele acha que ao duvidar do Iluminismo reforço forças regressivas na experiência humana. Eu penso que o Iluminismo é que é regressivo porque caminha sobre fantasias enquanto os homens caminham sobre tumbas.

Nós modernos somos a raça mais covarde que caminhou sobre a Terra. Não escrevo para tornar a vida do meu leitor melhor. Escrevo e leio para não me sentir só. Quando olho os "avanços" da nossa minúscula história, penso: como nos verão em mil anos? Como a decadência do século 17?

Rirão de nós porque demos direitos aos ratos, enquanto fizemos dos bebês lixo reciclável pelo direito de gozar mais? Respondo a pergunta "o que eu acho da Revolução Francesa?" com "ainda é cedo pra dizer qualquer coisa".

Imaginem dois africanos no século 19. Um vende o outro como escravo (negros vendiam negros). O escravo é levado para os Estados Unidos e lá sofre todo tipo de horror da escravidão. O outro fica livre e feliz na África. Adiantem o filme. O bisneto do escravo mora nos EUA, casa na praia, filhos na faculdade, e a esposa, bisneta de outro escravo, médica de sucesso.

Voltem pra África. Muitos bisnetos do que ficou lá continuam a viver em seus buracos, matando-se do mesmo jeito (como acabou a escravidão, perderam a chance de vender seus "irmãos"). Famílias afundam na miséria. Qual é a moral desta história? Que a escravidão foi uma bênção para os afro-americanos porque os levou para os EUA? E a liberdade do outro, a maldição de seus bisnetos? Os afro-americanos, que hoje celebram a vitória do Obama, depois de muito sofrimento, diriam "ainda bem que nossos bisavós foram escravos"?

Não! A escravidão é um horror. A questão é outra: qual o sentido da história humana? Nenhum.

A história não é a luta entre a luz e as trevas. Não porque elas não existam, mas porque não sabemos identificar, com o microscópio das ideias claras e distintas de que dispomos, a trama infinita de suas relações.

Um homem faz o que pode em meio a opacidade do mundo. Meu pecado é não fazer o marketing da democracia de massa. Falsos sentimentos são comuns nos homens, logo, quanto mais homens, maior a chance de mentira, por isso desconfio de bons sentimentos em grandes quantidades.

Mais? Os índios não vivem em comunhão com a natureza, apenas ficaram na idade da pedra em técnicas de domínio da natureza, como muitos africanos que ficaram na África.

A ciência e a política tampouco fazem os homens melhores. O mundo não é dividido entre elite má e pobre bom. Se a elite é cruel, o povo é violento e interesseiro.

Os homens não são iguais, alguns são melhores. A igualdade ama o medíocre. É mentira que todo mundo possa julgar as coisas por si só. A propaganda desta mentira gera uma horda de invejosos que sonham em destruir quem eles julgam livres.

Supérfluo? Mentira. Num mundo parasitado pelo marketing como forma de vida, ser pessimista é um método. Não se trata de dizer morbidamente "o mundo é mau", mas reconhecer que no humano a verdade é uma ferida incurável. A esperança que conta é a do animal ferido. Nada disso implica concordar com crianças mortas.

O debate ao redor da esperança não é um problema do quão otimista somos, mas o que em nós nos faria colaborar com nazistas na França ocupada, além do medo. Manter o emprego? A chance de destruir alguém melhor do que eu? Tomar a mulher de alguém? Promoção pessoal?

Nada mais banal, nada mais humano. Na "Metamorfose", Gregor Samsa, agora uma barata, vê a delícia que é caminhar de cabeça pra baixo com suas perninhas coladas ao teto. Sente-se finalmente feliz. A barata é a otimista em Kafka.

2 comentários:

Frodo Balseiro disse...

Não tinha tido a oportunidade de ler o artigo;coluna do Luis Felipe Pondé.
Eita cara bom de verdade!!!!!!
Além de escrever muito bem, seu conteúdo é de primeira.
Deu um banho nos 'faladores de javanes' que se masturbam intelectualmente na Ilustrada da Folha, ou no Café Filosófico da TV Cultura.
Afinal, há vida inteligente na Banânia. Pouca é bem verdade, mas ainda assim um resto de esperança!
Abs

Anônimo disse...

Perfeito. A ideia do bem coletivo e da maioria boazinha e silenciosa esconde o indivíduo. Mas toda essa discussão dos politicamente corretos sempre me "cheira" a livros de auto-ajuda. A força do pensamento otimista muda tua vida e todos juntos mudaremos o mundo. É muita estupidez.