Este vídeo é de 2005. Johnny Alf canta, de sua autoria, o famoso samba que virou um standard da bossa nova: Rapaz de bem.
Mas o tempo passa para todos. Inclusive para os artistas. No caso de Johnny Alf, de tipo introvertido, avesso às badalações e que sempre trabalhou na noite, embora esteja entre os maiores compositores brasileiros, a inclemência do tempo deve ser muito mais dolorida. Está completando 80 anos de idade numa casa de repouso em São Paulo.
A decadência do gosto há muito impera neste país botocudo e dá lugar à estética kitsch, a ponto de ter surgido recentemente um novo estilo musical denominado "sertanejo universitário". Sim, é isto isto aí. A música capira chegou à universidade de mãos dadas com o politicamente correto e a maioria dos jovens universitários brasileiros desconhece o fato de que o único movimento cultural relevante que houve no Brasil, desde o descobrimento, foi a bossa nova, da qual Johnny Alf foi um dos precursores mais importantes.
A propósito, Ruy Castro, na sua coluna deste sábado na Folha de São Paulo, fala do Johnny Alf, esquecido pela estupidez que impera na cultura botocuda. O título do artigo é "Rapaz de bem", o nome de um dos sambas mais famosos de Johnny Alf. Transcrevo o artigo de Ruy Castro:
O pianista, compositor e cantor Johnny Alf fará 80 anos no dia 19 próximo. Se todos os artistas que ele influenciou se dessem as mãos, a corrente humana iria de Vila Isabel, na zona norte do Rio, onde nasceu, em 1929, a Santo André, no ABC paulista, onde mora há dois anos, numa casa de repouso, desde que se submeteu a uma cirurgia e a um longo tratamento.
Exceto por alguns shows promovidos por seus fãs -Leny Andrade, Alayde Costa, Emilio Santiago, Cibele Codonho-, não se sabe de homenagens à altura da sua importância. Neste aniversário, ele mereceria um ciclo inteiro de espetáculos reunindo músicos de sua turma (ainda há muitos na praça) e das gerações mais novas, reconstruindo sua obra em vários contextos: orquestra, pequeno conjunto, piano solo, vozes, gafieira, jam session.
Os museus da Imagem e do Som do Rio e de São Paulo promoveriam palestras e debates sobre o estado de coisas na música popular quando ele apareceu ao piano de uma boate carioca em 1952 e de como, pouco depois, tivemos a bossa nova. O próprio Johnny gravaria um extenso depoimento para esses museus. Uma TV produziria um especial a seu respeito. Uma editora lançaria seu songbook. E seus discos, sempre difíceis de encontrar, seriam relançados. Mas não há nada disso programado.
Johnny não tem aposentadoria nem plano de saúde. Vive de uma pequena poupança e dos caraminguás de seus direitos autorais -e olhe que ele é o autor dos sambas "Rapaz de Bem" e "Fim de Semana em Eldorado", do baião "Céu e Mar", dos sambas-canção "O Que é Amar" e "Eu e a Brisa" e de muitos outros standards da música brasileira. Os 80 anos de Johnny começam daqui a alguns dias e levarão um ano para se completar. Ainda há tempo para homenageá-lo. De preferência, com ele ao piano.
6 comentários:
Neste país de analfabetos em todos os sentidos, esperar o quê?
Bem que a Márcia, esposa do Silvio Luiz, poderia ajudá-lo de alguma maneira, pois fez muito sucesso com "Eu e a Brisa"
A Bossa Nova foi a coisa mais incrível que aconteceu no panorama de nossa música; fabulosa, encantadora e universal. Foi , sem nenhuma dúvida o ápice da criatividade e bom gosto musical brasileiro! O Brasil hoje é kitsch, medíocre e estupido musicalmente, com raríssimas excessões.
Caro Zoot:
já disse várias vezes em textos a respeito de música, que a bossa nova foi a única coisa boa criada no Brasil. E até me admiro como pôde ter surgindo neste país botocudo.
E tanto é botocudo que a bossa nova continua sendo cultivada não mais no Brasil, mas nos EUA, Europa e Japão.
Dentre os standard internacionais, como Night and Day, de Cole Porter, está na mesma altura Garota de Impanema ou Desafinado, do mestre Tom Jobim.
Sim, Jobim era um gênio da música popular da mesma estatura que os Gershwin, Porter e outros grandes.
Oi Aluizio,
Dentre os sucessos do J. Alf gostaria de lembrar "ilusão atôa".
Acho lindo.
Um abraço
J.Júlio
Alô aluizio.
só para morrrrerrrr de inveja.
tenho um disco com músicas do Johnny.
eu disse disco e não CD.
kkkkkkkk
abraços
Tudo que foi dito aqui neste blog sobre Jonhnny Alf e correto. Um compositor da sua grandeza , mas porque o pessoal da bossa nova nao se une para FORCAR um justa homenagem a ele.Sao eles os que podem fazer isso. Onde esta esse pessoal agora. Gente vcs podem ser no futuro tbem esquecidos.Procurem as pessoas certas para EXIGIR uma homenagem a altura ao Jonhnny. Regina Helena
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