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sexta-feira, maio 01, 2009

O CÂNCER NO PALANQUE

O governo tenta transformar um assunto grave e delicado, a doença da ministra Dilma Rousseff, em trunfo para a campanha presidencial do próximo ano. Aqui a parte inicial da reportagem de capa da revista Veja que foi às bancas nesta sexta-feira, assinada por Otávio Cabral.

Ricardo Stuckert/PR
"A única coisa, Dilma, que eu te peço é que você olhe com atenção na cara desse povo. Esse povo não perde a esperança nunca. Se você não rezava toda noite, agora trate de começar a rezar porque esse povo vai precisar muito de você daqui pra frente. E você vai ter que fazer muita coisa por esse povo."
Luiz Inácio Lula da Silva, presidente da República, durante visita a uma obra do PAC, em Manaus


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Desde que anunciou o diagnóstico de linfoma, um câncer no sistema linfático, a ministra Dilma Rousseff não teve o direito que assiste a toda pessoa que se descobre paciente de uma doença grave: o recolhimento e o silêncio. Nada disso. Mal se soube da doença e ela passou a ser vista sob o único e exclusivo ângulo do animal político. O câncer é bom ou ruim para sua candidatura à sucessão de Lula? A doença fragiliza ou humaniza a candidata, tida como dama de ferro? As pesquisas vão apontar se o anúncio da doença foi positivo? Foram essas algumas das questões que fizeram submergir as mais comezinhas considerações humanas com a pessoa Dilma Rousseff. Compreende-se até certo ponto. O presidente vem trabalhando para conferir musculatura eleitoral a Dilma, que, aos 61 anos, nunca enfrentou as urnas. A assessora desconhecida deixou o ostracismo e se converteu em candidata viável. Há um ano, a "mãe do PAC" registrava 3% em uma pesquisa de intenção de voto do Datafolha. Hoje, está a 30 pontos do primeiro colocado, o governador paulista José Serra, do PSDB, mas já alcança 11%. O tratamento do linfoma, no entanto, pode reduzir a exposição pública de Dilma e congelar as articulações em torno de sua candidatura. Diante dessa ameaça, o governo partiu para uma exploração despudorada do câncer da ministra, a fim de manter o nome de Dilma na ribalta.

A senha para o aproveitamento eleitoral da doença foi dada por Lula em um comício em Manaus, ao lado da ministra, realizado apenas dois dias depois da entrevista coletiva em que se anunciou a enfermidade. Disse o presidente: "Se você não rezava toda noite, agora trate de começar a rezar, porque esse povo vai precisar muito de você daqui pra frente". Seus subordinados seguiram em – aparente – ordem-unida. Com ainda menos sutileza, deixaram claro que gostariam de ver o câncer convertido em lucro nas urnas. "Pode fortalecer a identidade da ministra no projeto que se confunde com a superação das dificuldades do próprio país", disse o ministro da Educação, Fernando Haddad. "Tenho a impressão de que deve ter impactado muito favoravelmente na opinião pública do país", afirmou Marco Aurélio Garcia, assessor especial da Presidência e notório por ter comemorado com gestos de "top top" um laudo – que, para ele, teria efeito positivo para o governo perante a opinião pública – do acidente aéreo que matou 199 pessoas em São Paulo em 2007.

Celso Junior
"Tenho a impressão de que deve ter impactado muito favoravelmente na opinião pública do país."
Marco Aurélio Garcia, assessor especial da Presidência da República

Na versão oficial, Lula só soube da doença na véspera da entrevista coletiva. Mas, de acordo com um ministro muito próximo do presidente, o problema de saúde de Dilma lhe chegou aos ouvidos cerca de um mês antes. A ministra contou ao presidente que havia feito um check-up e que precisaria se ausentar do trabalho por um ou dois dias para fazer novos exames, que incluíam a coleta de material para uma biópsia. Na volta de São Paulo, depois do procedimento cirúrgico no Hospital Sírio-Libanês, Dilma contou ao presidente que havia retirado um nódulo. Interlocutores de Lula entrevistados por VEJA relataram que ela não deixou claro que havia a suspeita de câncer, embora isso tenha ficado subentendido quando falou da biópsia. O assunto permaneceu restrito a Lula e Dilma até duas semanas atrás, quando surgiram boatos entre políticos e assessores do governo de que ela estaria doente. Dilma procurou então o ministro Franklin Martins, da Comunicação Social, para falar sobre seu problema e pedir conselhos. A decisão foi não dar publicidade ao tema.

O silêncio sobre o caso foi mantido até o dia 24, quando Dilma, Lula e Franklin ficaram a sós depois de uma reunião da coordenação de governo. Não havia mais como manter a notícia – agora com diagnóstico fechado da doença – em segredo. Pela primeira vez, discutiram-se abertamente as "vantagens" e as "desvantagens" de tratar o assunto abertamente. Diante da insistência de repórteres em perguntar os motivos da presença da ministra no Hospital Sírio-Libanês, o presidente passou a considerar inevitável uma posição oficial sobre o tema. Para ele, a disseminação de boatos sobre a saúde da ministra poderia atrapalhar sua recuperação, sua atuação no governo e minar sua candidatura. Franklin foi contra até o fim, argumentando que seria melhor contornar o assunto, tratando-o como algo de interesse privativo da ministra. Lula convenceu Dilma a dar a entrevista do dia 25. Como forma de evitar especulações sobre suas condições e a possível exploração negativa por parte da oposição, ficou resolvido que a exposição pública da candidata seria intensificada.

Elza Fiúza/ABR
"Pode fortalecer a identidade da ministra no projeto que se confunde com a superação das dificuldades do próprio país."
Fernando Haddad, ministro da Educação

Foi assim que a doença de Dilma deixou as coxias do gabinete presidencial e subiu ao palanque. Na segunda-feira passada, Lula levou a ministra para uma agenda de mais de dez horas de compromissos políticos com jeito de comício em Manaus. Do alto do palanque, reforçou que Dilma é sua candidata e, num gesto humano, pediu para que rezassem por ela. Tudo previamente pensado. Se colocasse em dúvida a candidatura de Dilma, Lula abriria espaço para uma guerra fratricida no PT e nos partidos aliados. "Os petistas com ambições adormecidas voltariam a sonhar em ser presidente. Muita gente que não aceita a candidatura da ministra viu sua doença como uma janela de oportunidade", avalia um dirigente do PT. Além de neutralizar as tentações petistas, Lula acredita que Dilma pode se fortalecer politicamente com a doença.

A estratégia é arriscada. Especialistas em campanha eleitoral ouvidos por VEJA afirmam que o eleitor é pragmático e leva em consideração o risco de votar em alguém com problemas de saúde mesmo admirando sua perseverança na luta contra a doença. (Assinante lê mais clicando AQUI)

11 comentários:

Leticia disse...

Pois desde que ela anunciou a doença não senti pena alguma (e o texto do Mainardi que você postou abaixo, Aluízio, corrobora o que digo):

O câncer, a palavra "câncer", ativa no brasileiro uma emoção anacrônica e de terceiro mundo, como se os próximos passos do paciente fossem o sofrimento e a morte.

Também pudera! Se você for um ser comum (ou seja, um ser do SUS) e tiver a sorte de ficar sabendo que tem câncer, pode se preparar para ficar esperando, em casa.

Essa criatura tem a sorte de fazer check-ups just-in-time, de se internar e se operar imediatamente. Assim, a maioria dos cânceres tendem, com o avanço cada vez mais rápido da medicina, a não passar de um furúnculo. Os próprios médicos do Sírio-Libanês têm a cautela de dar 90% de chance de cura. Isso quer dizer que ela será curada, e ponto.

É óbvio que não desejo doença pra ninguém. Mas não emano pra ela os mesmos sentimentos que dirigiria à senhorinha da fila do posto de saúde, sabe? Além do que duvide-o-dó que ela não tenha sequer pensado nos dividendos eleitoreiros que isso trará (lembrando mais uma vez: quem vota nela não faz ideia de como é o câncer precocemente detectado e tratado).

Portanto, tem-se muito mais a ganhar com a pieguice da indigência nacional do que se tem a perder num tratamento de ponta.

Esperança disse...

O que resta da oposição neste país tem que se mexer.

Tome como exemplo a excelente tirada do Jugmann que irritou extremamente "O CARA"

http://www.youtube.com/watch?v=nNG9xZGF4ns

Esperança disse...

Esqueci de dizer: é lastimável que a única revista que ainda falava a verdade está virando de lado.

Democradura a todo vapor.

Esperança disse...

Algumas informações sobre o amigo do "CARA"

http://www.youtube.com/watch?v=IywB9Wc_CkQ

http://www.youtube.com/watch?v=Dcq0p940_Y4

http://www.youtube.com/watch?v=Yj2WVUFgW44

http://www.youtube.com/watch?v=e13i3EUiOq4

http://www.youtube.com/watch?v=dt_e6pvJv5w

http://www.youtube.com/watch?v=lTPhdCkbeUo

http://www.youtube.com/watch?v=S8li3tMRTF8

Cida Fraga disse...

Lamentavelmente estou me alinhando no grupo (enorme) que está duvidando. Quando questionei que médicos não se prestariam a este papel me lembraram da farsa dos médicos na doença de Tancredo Neves. Uma pessoa que está com tal espada sobre a cabeça não pode, a menos que seja anormal, estar sorridente fazendo planos para o futuro. Eles são capazes de tudo, até usar uma doença como "ativo eleitoral". Depois será simples dizer que ela está curada, mas a comoção já terá feito efeito e vão votar na heroina que se foi capaz de vencer um câncer vencerá todas as dificuldades.
É nojento demais, mas que se pode esperar deles?

Anônimo disse...

P'ra mim essa doença foi inventada. Tudo que vem de mulla e petezada não me admira mais.

Lucia Castro

Anônimo disse...

Enquanto os outros governos do mundo mostram a realidade, que o vírus está se espalhando rapidamente e que a população tem que estar alerta e os governos preparados, aqui tentam idulir a população dizendo que o vírus não vai chegar. E o pior, agora se contradizem quanto a medicação Tamiflu, antes tinhamos milhões de dose , agora o governo federal afirma ter sete mil doses em estoque e que o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, disse em entrevista coletiva que 20 doses de tratamento seriam enviados para cada estado, e sem mencionar o nome do remédio, também afirmou que São Paulo e Rio de Janeiro já deveriam ter recebido 200 doses cada. Osmar Terra, presidente do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), por outro lado, disse que cada estado irá receber de 70 a 100 cartelas de dez comprimidos de Tamiflu.
Imaginem um país com 180 milhões de pessoas e com esta quantidade insiginificante de medicamentos? Sem falar que já não temos serviços médicos disponíveis e hospitais para os casos corriqueiros do dia a dia!
Que Deus nos ajude!

Anônimo disse...

A pecha de "guerrilheira" (para muitos, terrorista) pró-ditadura comunista, está sendo espertamente substituida pela auréola de "guerreira" da mais humana das batalhas, que é a batalha contra a doença. Um golpe de mestre da bandalha comunofascista!

Anônimo disse...

Internautas, espalhem mais essa frase do Apedeuta, para que todos tenham a exata noção do poste que botaram lá no Palácio do Planalto: "Eu nem sabia o que era ser torneiro mecânico. Eu metia a mão no óleo preto e sujava todo o macacão porque eu queria que a minha mãe ficasse impressionada com o caçula dela sendo mecânico. Pois bem. Por conta disso, eu cheguei à Presidência da República".

É possível uma coisa dessas? Como se não fosse suficiente a total falta de cultura, o "cara" ainda esbanja imbecilidade. Como é que pode o país ter eleito alguém tão obtuso assim para desgoverná-lo?

Atha disse...

Lula vai ficar em dezespero ao saber disse, vem mais Beste PesTe e Besta Festa.

Hong Kong confirma e gripe suína chega ao sudeste asiático. Grã-Bretanha tem primeiro caso de paciente que não foi ao México.
EUA veem casos aumentarem de 109 para 141.

A Grã-Bretanha registrou o primeiro caso de gripe suína de pessoa que não foi ao México.

Graeme Pacitti esteve em contato com um casal de escoceses que foi contaminado após passar a lua-de-mel em Cancu. O casal, Iain e Dawn Askham, foi o primeiro confirmado na Grã-Bretanha, que agora tem 10 casos, e já deixou o hospital. Espanha, Irlanda, Olanda, Costa Rica e Brazil já foram contaminados.

Anônimo disse...

Dessa canalha se pode esperar tudo, até essa "benção" eleitoral, que espero sirva mais para causar nojo do que dividendos eleitorais aos petralhossaurosbotocudos (vide marcoaureliogarcia).
Até onde vai a baixeza?
FOGO, MUITO FOGO, E MUITO .50 NELLES!!!
Eduardo.50