Um homem não chora? Se ouvir dizer que a sua cidade ganhou os Olímpicos, chora. Neste fabuloso momento um homem está inteiramente à vontade para chorar. Não digo choramingar, digo chorar. Foi o que Lula fez: chorou. Limpou os olhos com um lenço e voltou a chorar. Nós não podíamos ficar mais contentes por ele. Mais importante do que ganhar uma medalha nos Olímpicos é ganhar o direito aos Olímpicos. É como nos Óscares: mais importante do que ganhar a estatueta é exibir o trapinho e as jóias, a griffe, como dizem os nossos irmãos, na passadeira vermelha. Ele é Armani, ele é Prada, ele é Donna Karan, ele é Yves Saint Laurent. Quem se interessa pelos filmes? Alguém se lembra quem ganhou o Óscar do melhor realizador? Ou da melhor actriz secundária?
Nos Olímpicos é igual. Ninguém se lembra quem ganhou as medalhas do pentatlo e da maratona. Toda a gente se lembra de Pequim e dos milhões, das torres, dos edifícios, das pontes, das estradas, dos transportes, dos hotéis. Novinhos em folha. Toda a gente se lembra da arquitectura. Das festas. Das exposições. Dos arranha-céus. Dos centros comerciais. Da Internet censurada. A China passou no teste. É rica. Bem-vinda ao primeiro mundo.
Várias reportagens da ressaca dos Olímpicos atestam que o gasto excessivo não foi compensado pelas receitas. E que muitos edifícios estão vazios. E que o turismo não aumentou. Etc. O que é que isto me faz lembrar? Estádios? Pavilhões? Vazios? Inúteis? Hei-de ver se me lembro.
No entretanto, o Brasil pulou de contente e nós, seus irmãos, com eles. O político mais popular do mundo deu uma entrevista explicando que gastar 22 mil milhões de dólares não é um problema para o Brasil. Porquê? Porque o Brasil é uma grande economia e um país muito rico. Quantos milhões? Amendoins, traduzidos (porque Lula não falou inglês) por peanuts. Ponham lá 222 mil. Milhões. O Brasil é rico. Muito rico. O Rio é uma cidade maravilhosa. Tem aquele pequeno problema dos pobres e dos miseráveis. Dos meninos da rua. Das meninas vendidas. Das favelas. Dos assassinos. Dos assaltantes. Dos comerciantes de droga. Dos esquadrões da morte. Dos carros blindados e com vidros fumados. Dos semáforos vermelhos sem parada. Da noite. Uma pessoa sai do aeroporto pela Linha Vermelha e apanha com um tiroteio em cima. Já visitaram a Baixada? Os morros lindos de morrer quando escurece, com as luzinhas? A Candelária de madrugada? O Maracanã no final do jogo? Leia TODO o artigo AQUI
2 comentários:
Alô aluizio
aí,eu é que vou chorar.
abraços
karlos
A moca sabe das coisas, Aluizio.
Enquanto a realidade do pais agride violentamente as pessoas mais civilizadas, a massa troglodita faz carnaval e bate palmas. Triste pais.
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