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domingo, novembro 21, 2010

A ÉTICA PETRALHA E O ESPÍRITO DO CAPITALISMO BOTOCUDO

Sempre afirmo que a mídia, seja lá qual for e onde estiver situada no espectro político e ideológico será sempre uma ferramenta do lobby político. Assim, o que é veiculado pela mídia geral 90% constituem lobby e 10% são fatos. É claro que são os 10% mínimos que conferem a credibilidade a um veículo de comunicação. Quando ele vende 100% do seu espaço torna-se um pasquim ridículo. Entenda-se aqui a política na clássica conceituação weberiana, isto é, a luta pelo poder e pela manutenção do poder. Feito esse nariz de cera, porém essencial para o que desejo provar, acompanhem o meu raciocínio.

A notícia principal de economia e de política atualmente é a permanência ou não de Henrique Meirelles no Banco Central. Como é sabido, Meirelles é o ponta de lança dos banqueiros. Nem por isso deva-se subestimar a sua competência. Meirelles foi presidente do Bank Boston e o auge de sua carreira de banqueiro ocorreu no coração do capitalismo internacional, nos Estados Unidos e num dos bancos mais tradicionais do mundo. Isso, por si só diz tudo.

Mas Meirelles por razões que desconheço trocou os Estados Unidos pelo Brasil. Aqui virou o xerife da moeda. Foi integrante do PSDB e se transformou em mais um trânsfuga oportunista a serviço do patrimonialismo, como é típico da política brasileira. Hoje está no PMDB que lhe serve melhor para conseguir tocar o Banco Central e fazer funcionar a economia brasileira na base do torniquete da maior taxa de juros do mundo, o que até agora tem permitido que Lula e seus sequazes metam a mão no jarro à vontade. Ou seja, para se manter no poder o PT passou a colher no fundo dos cofres estatais e Meirelles soube como ninguém administrar uma razoável estabilidade da moeda  aplicando uma impiedosa taxa de juros que asfixia principalmente os assalariados e, particularmente a classe média.

Esse milagre econômico petralha fundado na gastança desabusada do dinheiro público é que determina a necessidade de taxas de juros truculentas. Morro de rir quando Dilma diz quer pretende baixar os juros. Ora, esse tipo de política econômica que combina arrocho salarial com taxas de juros elevadas premia os banqueiros que nunca ganharam tanto dinheiro no Brasil. Há uma inusitada coincidência de propósitos entre os petistas e os patrões, que sociologicamente se conhece como "conceito de afinidade eletiva", isto é, parafraseando o magistral livro de Max Weber, vive-se no Brasil do PT sob a máxima: "A ética petralha e o espírito do capitalismo botocudo".

É evidente que o capital financeiro é o primeiro e o principal fiador da permanência do esquema petista no governo. Além dos banqueiros se incluem igualmente os grandes empresários cujas empresas também possuem suas próprias financeiras. Todos têm os seus próprios bancos que amealham o dinheiro dos assalariados via empréstimos a taxas de juros elevadíssimas para financiar seus próprios negócios. Sem contar que tomam dinheiro do BNDES a juros subsidiados quando a coisa aperta ou quando necessitam turbinar suas mutretas.

Para que esse esquemão mantenha-se intacto, isto é, com a continuação da gastança pública é necessário à frente do Banco Central alguém que tenha muita credibilidade, experiência e competência. Dos quadros do PT e do PMDB não existe ninguém que supere Meirelles na competência e no domínio dessa área. Qualquer vacilo econômico nestas alturas dos acontecimentos pode ser fatal, haja vista que Meirelles dia desses apontou para "algum perigo" na bolha nos ativos originada pelo alto volume dos empréstimos pessoais.

Retomando o início destas linhas é fácil notar como pululam pelo noticiário econômico matérias que defendem a permanência de Meirelles no Banco Central. E os recados, como se pode constatar, partem dos grandes e fundamentais financiadores da campanha do PT que são os banqueiros e os mega empresários. Como disse, 90% do que é veiculado pela mídia em geral representa lobby e o núcleo duro da economia não está a fim de abrir mão daquilo que Lula costuma jactar-se "o Brasil vive um momento mágico". Por um lado, Lula tem toda a razão. E o mago é o Henrique Meirelles.

Nas minhas modestas contas, já que não sou economista, não vislumbro nada de bom no curto e médio prazo. A última reunião do ano do Copom marcada para este mês voltará a aumentar a taxa de juros que Meirelles segurou para eleger a Dilma.

O que está em discussão neste momento é como fazer para que o governo do PT siga gastando à vontade sem que a bolha subprime botocuda já antevista por Meirelles exploda. 

Enquanto o "patrimonialismo" continuar a ser entendido como sinônimo de "capitalismo" o Brasil permanecerá patinando. Há 500 anos que o assunto econômico dos jornais é o mesmo: juros têm de baixar. Mas ninguém ousa condenar o permanente assaque criminoso aos cofres públicos que no atual governo chegou a níveis jamais vistos neste país.

2 comentários:

Alexandre, The Great disse...

Aluízio: a gastança desenfreada ao longo de 8 anos, o aumento escorchante da carga tributária com a provável criação de mais tributos(CPMF)e a explosão geométrica da dívida pública - superior a 1 tri - são a bolha botocuda que irá engolir mais da metade dos assalariados brasileiros e trazer de volta a inflação, a recessão e o desemprego.

Anônimo disse...

RAZÕES ESPERTAS PARA SAÍDA DO MEIRELLES DO BANCO CENTRAL!

1. Com a experiência acumulada do Meirelles no setor privado, onde aprende disciplina, em sua candidatura vitoriosa a deputado federal pelo PSDB de Goiás em 2002 e nesses oito anos de governo Lula, onde adquiriu até status de ministro, não se concebe uma atitude juvenil como essa, criando constrangimento à presidente pelos jornais. "Só fico com autonomia", disse. Então por que vazou para a imprensa essa "exigência"?

2. Elementar a dedução. 2011 será um ano difícil. A inflação pelo IPCA aponta para 7% a 8%. Pelo IGP-FGV já passou disso, e com todo o câmbio valorizado, o que não é comum. A taxa de juros terá que subir. O crescimento do PIB vai cair para 3%, ou menos. Um juro maior atrai capital de curto prazo. O câmbio é pressionado para ficar como está. Mas a balança comercial -especialmente para o setor industrial- não resiste mais esse câmbio. O déficit em conta corrente vai para pelo menos 60 bilhões de dólares. Mas desvalorizar o real por intervenção empurra ainda mais a inflação para cima e afeta a expectativa do mercado no novo governo. Ou seja: se ficar o bicho pega; se correr o bicho come.

3. Meirelles quer continuar com sua imagem pessoal sem mácula e forçou sua saída para que não tenha que enfrentar 2011 como presidente do Banco Central e ser cogestor de um ano de recessão, inflação alta, juro crescente, problemas cambiais e na conta corrente do balanço de pagamentos. E assim, promoveu um golpe esperto: criou um incidente e sai sem pedir, mas por decisão do novo governo. Esse jogo só agrava a expectativa que se tem sobre 2011. Sinal mais claro não poderia ocorrer.

retirado do ex Blog do Cesar Maia