Sem trabalho fixo, sem contracheque, o libanês Anuar, contagiado pela exaltação consumista que tomava conta da Espanha em 2006, em pleno boom imobiliário, entrou em um banco para pedir um crédito hipotecário. Imigrante e sem nenhum tipo de comprovante de renda, achava que, da conversa com o gerente, sairia com um "não rotundo e o rabo entre as pernas". Nada mais longe da realidade naqueles anos de bonança, nos quais a Espanha se comportava como uma nova-rica. Anuar conseguiu comprar o apartamento que queria, de 230 mil euros, e o generoso banco ainda lhe ofereceu dois empréstimos pessoais para que ele pudesse reformar o imóvel.
Anuar aceitou de bom grado. Mas achou mais razoável investi-los de outra forma. Alugou uma loja e montou uma confeitaria. Só teve desgostos. Aguentou aos trancos e barrancos durante um ano e meio até fechar o negócio. Sua veia empreendedora, no entanto, continuou pulsando. Em uma estação de trem viu que alugavam uma padaria com tudo dentro. Os primeiros sete meses foram um sucesso, mas a crise econômica de 2008 mudou o panorama. Anuar fechou a padaria, deixou de pagar a hipoteca e recebeu uma carta de despejo do banco.
- Não sabemos aonde vamos. Mas a questão não é essa. A origem do problema é o que me causa desassossego: o banco jamais deveria ter me dado o crédito hipotecário. Ofereceram mundos e fundos. Não passava de uma estratégia dos bancos para fazer negócio às custas de pessoas de boa-fé que alimentam o sonho da casa própria. Agora, o apartamento é do banco, não temos onde morar e, o que é mais absurdo, continuamos com a dívida - conta Anuar.
A história de Anuar não é, nem de longe, um caso isolado numa Espanha em ressaca há quase quatro anos. Ressaca de uma festa do setor da construção e do setor imobiliário, carro-chefe da economia espanhola quando o país deu adeus à peseta e boas-vindas ao euro. A queda dos juros de 15%, na década de 1980, para cerca de 5% ao entrar no euro foi um irresistível estímulo para o endividamento. As empresas renovaram suas máquinas, e as famílias apostaram na compra de imóveis. Esta é a segunda reportagem da série Desesperança na Europa de O globo. Leia MAIS
Um comentário:
E a bolha economica, que os japoneses experimentaram, e ate hoje nao conseguiu recuperar.
A mesma coisa aqui no EUA, com facilidade de financimento muitas familias compraram casas e apartamentos, e hoje moram na rua da amargura, quantas familias brasileiras que cairam nesta armadilha voltaram para o Brasil.
E pelo que vejo, esta acontecendo mesma coisa ai no Brasil, euforia no boom criada artificialmente pelo governo, e quando estourar a bolha, a conta vai se amarga.
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