Conheci Luiz Henrique Rosa pelas ondas curtas da Rádio Guarujá de Florianópolis. Quando Luiz Henrique conheceu o sucesso eu vivia ainda em Rio do Sul, no Alto Vale do Itajaí, interior de Santa Catarina. Estávamos nos primeiros anos da década dos 60 do século passado. A bossa nova, o rock dos Beatles e o jazz ouvia pelo velho rádio Philco do meu pai. Grudava o ouvido no rádio para descolar depois no violão as músicas que eram sucesso. De cara gostei do Luiz Henrique com sua voz mansa, minimalista, com bom timbre e meio no estilo de João Gilberto.
Alguns anos depois, em finais de 1970, já estava aqui na Ilha para cursar a universidade e onde me radiquei. Nos anos 70 Florianópolis era apenas uma província com status de capital. E creio que no ano seguinte ou em 1972, é que fui conhecer pessoalmente o Luiz Henrique.
Nessa época as praias de Coqueiros e Itaguaçu, na parte continental de Florianópolis, eram povoadas pelos estudantes durante os finais de semana no verão. Era lá que se reunia o que hoje se identifica como "a galera". Num daqueles dias de verão enquanto degustava uma cerveja num boteco à beira da praia de Coqueiros, (não bebo mais há pelo menos 20 anos e passei a detestar o álcool) quando avistei um grupo tendo à frente um sujeito com chapéu de palha e um bigodão. Um dos circunstantes comentou: aquele bigodudo é o Luiz Henrique, o cantor e compositor aqui da Ilha quee retornou dos Estados Unidos.
Os amigos de Luiz Henrique estavam comemorando a volta do músico à sua terra, depois de uma década de sucesso nos States, onde gravou com gente graúda do jazz e da bossa nova.
Pouco tempo depois fui apresentado ao famoso Luiz Henrique e ficamos amigos. Volta e meia nos encontrávamos para falar de música e, sobretudo, de sua história nos Estados Unidos, onde chegou a ser o namorado de Lisa Minelli, a célebre artista que anos depois, pelas mãos do próprio Luiz Henrique, passou um carnaval aqui na Ilha. Lembro-me que acompanhei a entrevista que ela concedeu ao jornal O Estado, onde nessa época eu era editor de política.
Luiz Henrique sempre foi um sujeito calmo, voz mansa, entusiasmado pela música, pelos projetos culturais. Lamentavelmente, faleceu com pouco mais de 40 anos de idade num acidente automobilístico quando saía do famoso Armazém Vieira, num bairro próximo ao centro de Florianópolis, onde trabalhava à noite como hostess e também fazia apresentações.
Agora há pouco, o filho de Luiz Henrique Rosa, o Raulino, que conhera mais tarde, me descobriu no FaceBook onde agora estamos conectados. Como seu pai, Raulino é um grande sujeito e já resgatou muita coisa da obra de Luiz Henrique, tendo sido o responsável pela postagem de inúmeros vídeos no YouTube.
Visitando a sua página no FaceBook encontrei este vídeo com o áudio da trilha de um CD que Luiz Henrique gravou em 1967, em New York, com a banda do famoso organista brasileiro Walter Wanderley, um craque no Hammond e que criou um estilo próprio de tocar samba e bossa nova no órgão. O nome do CD é Popcorn, que por sinal tenho uma cópia. Se não me engano a gravação tem o respeitável sêlo da Verve, que só faz gravações até hoje com artistas top do jazz. Nessa época a bossa nova estourou em New York. Aliás Luiz Henrique, como Walter Wanderley, Sivuca e tantos outros feras da bossa nova acabaram indo para os Estados Unidos. Luiz Henrique não só trabalhou e gravou com os grandes nomes da bossa nova, mas também com jazzistas célebres.
Assim, resolvi postar aqui o vídeo com o áudio de uma música de autoria do próprio Luiz Henrique, que traduz a paixão que tinha pela Ilha, denominada Florianópolis. Nada menos que a banda de Walter Wanderley acompanha Luiz Henrique em todo este CD que talvez só seja encontrado nos Estados Unidos, Europa e Japão. É um clássico da bossa.
Depois daquela década de sucesso nos Estados Unidos Luiz Henrique decidiu voltar para Florianópolis porque ele tinha verdadeira adoração pela nossa cidade-capital. Poderia ter ficado para sempre nos Estados Unidos ou retornado para o Rio ou São Paulo. Mas optou por Florianópolis. Luiz Henrique era uma pessoa de uma simplicidade extrema, mesmo quando estava ao lado de Lisa Minelli no esplendor de sua juventude, fama e sucesso.
Luiz Henrique gostava de se autodenominar "manezinho', como são chamados os ilhéus, embora Luiz Henrique tenha nascido em Tubarão (SC), já que seu pai, o saudoso Loló, era fiscal da Fazenda e, por razões profissionais, tinha trabalhado em diferentes cidades do interior do Estado.
Vindo pequeno para cá, Luiz Henrique incorporou os hábitos manezinhos que nem mesmo o glamour de New York daqueles anos dourados da música foi capaz de apagar.
Luiz Henrique deixa saudades para sempre!
Valeu Raulino Rosa, pela postagem deste vídeo.
Um comentário:
Alô aluizio
Permita este fora de post,mas quando mencionou o órgão HAMMOND,me veio este ASTRO(cego) e que fazia no seu Hammond estas maravilhas,únicas no mundo,que possui alguns adeptos ainda.
El Reloj e mais umas poucas estão no youtube.
aprecie:
http://www.youtube.com/watch?v=xoEk1IX9av0
abraços
karlos
nb>Ernesto Hill Olvera
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