No dia 3 de janeiro de 2011, uma segunda-feira, a primeira semana daquele ano (o tempo passa voando...) escrevi um texto sobre bossa nova destacando o vídeo que está aí acima. Normalmente, dois ou três dias depois de escrever um texto, quando volto a lê-lo já não gosto mais e sinto vontade imediata de reescrevê-lo. Há raríssimas excessões, até porque os escritos aqui no blog são sempre elaborados de afogadilho e versam sobre política, embora às vezes fale sobre música que é uma das minhas grande paixões. Arranho a guitarra e o violão. São textos, portanto, eminentemente jornalísticos e escritos em cima de fatos. Há exceções. Uma delas é este post. Ao revê-lo gostei e faço a postagem novamente numa homenagem ao João Gilberto e a todos os grandes músicos, cantores e compositores brasileiros. A única nostalgia que admito é com relação aos anos dourados da bossa nova e do jazz. Leiam e ouçam a magistral interpretação de João Gilberto:
Para começar bem o primeiro dia útil de
2011 nada como uma música suave na voz econômica, porém afinadíssima do
grande mestre João Gilberto. Neste vídeo ele canta aquela que é sem
dúvida a obra-prima do famoso compositor, pianista e cantor italiano
Bruno Martino: "Estate", na voz de João Gilberto, com o arranjo perfeito
do maestro Claus Ogerman também um boassanovista que trabalhou com Tom
Jobim. Isto fez repercutir ainda mais essa belíssima canção da música
popular internacional, consagrando-a com um standard do jazz.
Esta apresentação de João Gilberto com orquestra é de 1983, em Roma. No
final, se ouve entre os aplausos gritos de Bravo! Bravo!Quando em 2008 a bossa nova completou 50 anos João Gilberto apresentou um show comemorativo no pretigiado Carnegie Hall, em New York, local que foi palco do legendário festival de bossa nova no iníco dos anos 60 do século passado, quando a bossa nova estourou nos Estados Unidos para consagrar-se defintivamente ao lado do jazz como um gênero musical maiúsculo da música popular. Os caracarás tropicalistas ainda não haviam despontado, o que aconteceu no final daquela década para que o kitsch fosse entronizado lamentavelmente no cenário musical brasileiro.
Seguramente este foi o mais importante evento comemorativo aos 50 anos da bossa nova. Da relação das músicas que João Gilberto apresentou as que se transformaram em standards eram todas de autoria de Tom Jobim.
Tom e João Gilberto são os dois gênios criadores da bossa nova. João foi o responsável pela descoberta da batida sincopada do violão e o introdutor da forma de cantar intimista, sem alongamentos e vibratos completamente dispensáveis, sem gritar ao microfone.
Numa de suas últimas entrevistas, Henri Salvador, o grande compositor, guitarrista e cantor francês – também bossanovista - nascido na Guiana Francesa que faleceu aos 90 anos de idade em 2008, fez a seguinte observação que nunca mais esqueci: uma das grandes invenções da eletrônica foi o microfone.
Por que? Simplesmente porque o cantor não precisa gritar, ensinava Salvador. Portanto, basta cantar sem qualquer esforço, até mesmo balbuciar, quase segredar, por exemplo “Olha que coisa mais linda, mais cheia de graça”.
É isto que Henry Salvador fazia, embora dono de uma voz superior a de João Gilberto. Mas como toda a verdadeira arte é criada por poucos, também é consumida por um público reduzido. A sensibilidade é algo rarefeito no universo humano.
A bossa nova é a única coisa que presta criada no Brasil. Até hoje ainda não entendo como e por que surgiu aqui neste lixão. Tom Jobim era, antes de tudo, um gênio, como João Gilberto continua sendo.
Nenhum compositor brasileiro se iguala a Tom Jobim, enquanto cantores como João Gilberto, capazes de enfrentar dois mil expectadores no famoso Carnegie Hall cantando absolutamente sozinho com o seu violão, convenhamos, é façanha de poucos.
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