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segunda-feira, dezembro 17, 2018

MINAS GERAIS


Por Maria Lucia Victor Barbosa (*)
Cismando pelos cantos, não sei porquê, fiquei rememorando Minas Gerais. Inevitavelmente, compassadamente, me veio assim como num assombro de saudade, muito inteira e no centro das montanhas que brincam de roda, minha Belo Horizonte. Consolo de quem não vai lá por anos a fio, a recordação ora foi perfil de pedra sabão ora desenhou ladeiras e minha vida subiu e desceu pelo passado sem o mínimo cansaço.
Perguntei-me, então, se minha mineiridade não havia se esvaído nas idas e vindas de minha existência, exilada que estou nestas lonjuras das Gerais à sombra das araucárias. É que tem me faltado paciência, ando falando demais e tenho confabulado e conspirado pouco. Também já não sei se meu olhar de esguelha anda correto. Além do mais, me esqueci como se dá rasteira em vento. Para piorar as coisas pisei no escuro e andei no molhado, coisa que mineiro não faz. E, ai meu Deus, estiquei conversa com estranho, acreditei no fogo onde só havia fumaça e o mais grave: arrisquei sem ter certeza.
Essas imprudências podem ser fatais e Minas, que sempre espia de dentro dos mineiros, condena os filhos que se afastam de suas veredas de sabedoria. Como escreveu Paulinho Assunção:
Um fantasma, uma fileira de montanhas.
Um profeta, uma fileira de montanhas.
Uma conspiração, uma fileira de montanhas.
O olho de Minas vê pelas frestas.
O olho de Minas me olhou pelas frestas e eu soube que não adiantava fugir mesmo estando meio destreinada, meio distraída dos requintes de sagacidade que me foram ministrados com o rigor de sacramentos naqueles solos montanhosos.
Nesta hora, Carlos Drummond de Andrade me acudiu e consolou. Nos seus versos estava estampada a impossibilidade do recuo de ser mineiro:
Minas não é palavra montanhosa.
É palavra abissal. Minas é dentro e fundo.
Aliviada, buscando refazer os caminhos dos tropeiros, dos mineradores, dos inconfidentes, arrisquei-me a subir na Maria Fumaça que não existe mais, mas que me chamou de longe com seu apito fantasmagórico. Quando começou a viagem imaginada, Vanessa Neto poetisou por mim:
Vejo pela janela do trem que cheguei à Minas.
Olhando longe procurei situá-la com seu perfil de pedra fria.
Sinto que volto docemente a ser menina: São os olhos de Minas que me vigiam.
Vi, então, com a clareza do absurdo e pelas janelas do tempo, o desfile histórico da opulência do ouro em longínquos séculos e a miséria atual das pequeninas cidades perdidas entre névoas e pobreza. Foi quando de novo Drummond me sussurrou:
De nossa mente lavamos o ouro, como de nossa alma um dia
os erros se lavarão na pia da penitência.
Será que lavei mesmo o ouro de minha mente? Ou serei como o poeta Jota D’Angelo, que escreveu:
Quero um quinto desse ouro
escondido no cascalho.
Quero um quinto do seu braço,
quero um quinto do seu corpo.
Quero um quinto do esforço
Que se faz e que não faço.
Fazer faço, mas não o suficiente, apesar de querer.
Mas já é hora de apear da Maria Fumaça, pois refresquei minha memória, meus sentimentos, meus mares feitos de montanhas, meu ouro particular. Agora estou pronta para Guimarães Rosa:
Minas Gerais... Minas principia de dentro para fora e do céu para o chão.
(*)Maria Lucia Victor Barbosa é socióloga, escritora e mineira de Belo Horizonte.

9 comentários:

Anônimo disse...

E os 57 milhões de "idiotas" continuarão a usar o Google? Idiota é pesquisa recorde no Google. Tá na hora de termos nossos próprios servidores.

Anônimo disse...

Nós não elegemos Bolsonaro para promover a intolerância. Cuidado, Minas Gerais, com sua arte sacra.

Ferreira pena disse...

Deus do Céu, que maravilha! A professora Maria Lúcia demora aparecer, mas quando aparece refulge como ouro de Ouro Preto, e, como diamante de Diamantina... e assim vai a vida saudosa. Maravilhoso!

Anônimo disse...

Um Presente ! Assim se pode viajar a doces momentos através de palavras que nos remetem a doçuras.Neste Brasil tão cru, mastigado com tanto esforço de quem não tem outra porção, nem outro chão para chamar de seu, doces reminiscências evocam em nós uma ternura e respeito que o mistério das Minas demandam. Já foi mais intenso. Houve tempo de ter sido embaciado seu cristalino brilho, pelas ações malditas de mal intencionados. Este poema, assim o percebo, traz e renova esta RECONEXÃO com nossa brasilidade.A mim faz referencia, terra antiga e cheia de História onde um herói nacional mal esquecid e substituido por outro estrangeiro,virtualmente nos conclama á um Hino e ideal de nacionalidade. Quanto a mineirice, carioca que sou, vistos por mineiros como "espaçosos",que resgatem e reconectemos o ímpeto brejeito aliado da dignidade nacional oriunda das terras das montanhas. Reconexão.Da terra das Igrejas e objetos sacros,do ouro e diamante, valores preciosos possam ser a a nova mineração de nossos corações e mentes.

Heloisa disse...

Que bonito, professora! Cheguei do trabalho e li este texto que acalma a mente. Obrigada! Não sou mineira, mas adoro andar de Maria Fumaça em Passa Quatro, indo até o túnel onde houve sangrenta batalha entre mineiros e paulistas. Em fevereiro vou de novo! Pequenos prazeres da vida.

Anônimo disse...

Quanta saudades da minha Minas Gerais. Oh Minas gerais quem te conhece não esquece jamais. Ando parcialmente dispersa da minha mineiridade, mas é preciso porque essa luta é todos os brasileiros.

Vou deixar uma poesia que ja atribuiram à Fernando Sabino, a Guimarães Rosa e a Carlos Drummond de Andrade, mas ela é de autoria do General José Batista de Queiroz. Eu peguei a poesia no blog dele.

Poesia: Ser Mineiro

Ser mineiro é não dizer o que faz,

nem o que vai fazer.

É fingir que não sabe aquilo que sabe.

É falar pouco e escutar muito.

É passar por bobo e ser inteligente.

É vender queijos e possuir bancos.


Um bom mineiro não laça boi com

embira, não dá rasteira no vento, não

pisa no escuro, não anda no molhado,

não estiva conversa com estranhos, só

acredita na fumaça quando vê o fogo, só

arrisca quando tem certeza, não troca

um pássaro na mão por dois voando.


Ser mineiro é dizer UAI e ser diferente; é

ter marca registrada, é ter história.


Ser mineiro é ter simplicidade e pureza,

humildade e modéstia, coragem e

bravura, fidalguia e elegância.


Ser mineiro é ver o nascer do sol e o

brilhar da lua; é ouvir o cantar dos

pássaros e o mugir do gado; é sentir o

despertar do tempo e o amanhecer da

vida.


Ser mineiro é ser religioso, conservador,

cultivar as letras e as artes ; é ser poeta

e literato, é gostar de política e amar a

liberdade, é viver nas montanhas e ter

vida interior.


José B. Queiroz


(A autoria desta poesia foi registrada em 22/03/1985 sob o número 33702, na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro)

https://jobaque.blogspot.com/p/poesia-ser-mineiro.html

Anônimo disse...

uma mentira deslavada do jornal fake News falha de São Paulo. Bolsonaro desmentiu tudo.

Anônimo disse...

uma menyira feslavsfa da fake news Falja de Sao PAULO. Bolsonaro desmentiu tudo.

Anônimo disse...

Bela homenagem a Minas Gerais. Minas tem seus encantos e sao muitos.