Em tradução livre e ligeira do inglês publico após este prólogo artigo de Charles Krauthammer, que está no site do The Jerusalem Post. O título no original é 'Rumo a uma aterrissagem suave no Egito'. Torço para que as declarações lacônicas de Hussein Obama sejam apenas parte da estratégia americana sugerida pelo articulista, ou seja, a de facilitar essa suave aterrissagem na pista de democracia. Se isto não acontecer estaremos assistindo a transformação do Egito em uma teocracia islâmica de formato iraniano. Para ler no original em inglês clique AQUI
Quem não gosta de uma revolução democrática? Quem não é movido pela renúncia do medo e da valorização da dignidade da pessoa nas ruas do Cairo e Alexandria? A euforia em todo o mundo que tem recebido a revolta egípcia é compreensível. Todas as revoluções são felizes nos primeiros dias. O romance poderia ser perdoado se isso fosse Paris 1789.
Mas não é. Durante estes 222 anos, nós aprendemos como essas coisas podem terminar. O despertar egípcio carrega a promessa e a esperança e, naturalmente, merece o nosso apoio. Mas só uma criança pode acreditar que um resultado democrático é inevitável. E só um míope otimista pode acreditar que é mesmo o resultado mais provável. Sim, a revolução egípcia é ampla. Mas assim eram as revoluções francesa, russa e iraniana. De fato, a revolução no Irã só conseguiu - o xá foi durante muito tempo contestado pelos mulás - quando os comerciantes, donas de casa, estudantes e secularistas se juntaram para derrubá-lo.
E quem acabou no controle? O mais disciplinado, ideologicamente comprometido e implacável - os islâmicos radicais.
É por isso que o nosso interesse primordial moral e estratégico no Egito é a verdadeira democracia, em que o poder não é entregue para aqueles que acreditam em um homem, um voto, uma vez. Isso seria o destino do Egito se a Irmandade Muçulmana prevalecer.
Esse foi o destino de Gaza, agora sob o domínio brutal do Hamas, uma asa Palestina (ver artigo dois da aliança de fundação do Hamas), da Irmandade Muçulmana.
É-nos dito por analistas ocidentais não se preocupar com a Irmandade, pois provavelmente comanda apenas cerca de 30 por cento dos votos. Esta é a garantia? Em um país onde a oposição secular e democrática é frágil e fraturada após décadas de perseguição, qualquer partido islâmico comandando um terço das regras de votação do país.
As eleições serão realizadas. O objetivo básico dos Estados Unidos será um período de transição que dará uma chance à democracia secular.
A CASA de Mubarak não existe mais. Ele tem 82 anos, injuriado e não disputr a reeleição. A única pergunta é: quem vai preencher o vácuo. Há duas possibilidades principais: um governo provisório das forças de oposição, possivelmente liderada por Mohamed ElBaradei, ou um governo interino liderado pelos militares.
ElBaradei seria um desastre. Como chefe da Agência Internacional de Energia Atômica, ele fez mais do que ninguém para tornar possível uma bomba nuclear iraniana, dando cobertura para os mulás por anos. (Logo que ele saiu, a AIEA divulgou um relatório impressionante, duro, nu e cru sobre o programa.) Pior, ElBaradei se aliou com a Irmandade Muçulmana. Tal aliança é totalmente desigual. A Irmandade tem organização, disciplina e apoio generalizado. Em 2005, ganhou de 20% dos assentos parlamentares.
ElBaradei não tem base política, eleitorado e história política. Ele viveu no estrangeiro durante décadas. Ele tem menos de um pedido de residência para o Egito do que Rahm Emanuel foi para Chicago. Um homem sem circunscrição aliada a um partido politicamente organizado e poderoso nada mais é que uma figura, um idiota útil, que a Fraternidade vai dispensar quando deixar de precisar de um homem de frente cosmopolita. Os militares egípcios, por outro lado, representam a instituição mais estável e importante do país. É pró-ocidental, e com razão suspeitas da Irmandade. E é muito respeitado, levando o prestígio do "Movimento dos Oficiais Livres" de 1952 que derrubou a monarquia, e a guerra de outubro de 1973, que restaurou o orgulho dos egípcios juntamente com o Sinai.
A instituição militar é o melhor veículo para guiar o país para eleições livres nos próximos meses. Se os militares fizerem isso com Mubarak no topo ou com o vice-presidente Omar Suleiman, ou talvez com algum tecnocrata que não desperta a ira entre os manifestantes, não importa para nós. Se o Exército calcula que sacrificar Mubarak (através do exílio) irá satisfazer a oposição e pôr fim à instabilidade, que assim seja.
O objetivo primordial é um período de estabilidade durante o qual os secularistas e outros elementos democráticos da sociedade civil poderão se organizar para as próximas eleições.
ElBaradei é uma ameaça. Mubarak vai embora de um jeito ou de outro. Os militares são a chave. Os Estados Unidos devem dizer muito pouco em público e fazer tudo que o podem nos bastidores para ajudar os militares, o que já é alguma coisa de um tiro longo: a democracia egípcia.
2 comentários:
Quando vejo alguém querer confrontar Israel, dá vontade de mandar a criatura perguntar lá em Hiroshima e Nagasaki, como é uma explosão nuclear...
Aluizio:
O ponto de vista de Charles Krauthammer é correto. Nos países árabes e islâmicos as forças armadas são as instituições mais ocidentalizadas e melhor preparadas. No dia 4 deste mês, aqui no seu blog mesmo, você fez a gentileza de publicar um texto meu em que usando como referência o historiador Toynbee e o sociólogo Huntington, e leituras diversas sobre a ocidentalização, em que conclui que apenas o Exército pode salvar o Egito. Não pelo da força, mas pelo fato dos oficiais serem mais modernos que os islâmicos.
Abs
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