Por Nilson Borges Filho (*)
Aquele antro, que atende institucionalmente pelo nome de Senado Federal, perdeu uma das figuras mais dignas da política nacional. Homem simples, de hábitos franciscanos, Itamar Franco saiu da zona da mata mineira e chegou à presidência da República de forma circunstancial.Quando Collor, alagoano, decidiu colocar seu nome na disputa para presidente, sabia que o seu vice tinha que ser do sul ou do sudeste, acreditando que, por ser nordestino, haveria certo preconceito contra à sua candidatura. Alguns nomes foram ventilados, mas Collor acreditava que um vice de Minas, segundo colégio eleitoral, agregaria mais apoios.
Caso escolhesse um candidato do Rio desagradaria São Paulo. E se optasse por um nome de São Paulo, perderia o apoio de cariocas e fluminenses. O primeiro político mineiro a ser sondado foi o ex-governador Hélio Garcia, um fenômeno em densidade eleitoral. Com a recusa de Garcia, a vice caiu no colo de Itamar Franco que, de início, pouco se empolgou com o convite.
Itamar era, entre outras coisas, um indeciso. Quando prefeito de Juiz de Fora, Itamar tinha que se desincompatibilizar, por força da legislação eleitoral, até a meia-noite de determinado dia. Indeciso, deu meia-noite e Itamar perdeu o prazo para deixar o cargo e assumir a sua candidatura ao Senado Federal que - entendia-se à época - não teria a menor chance de ser eleito contra um candidato apoiado pelo regime militar.
Pois bem, Itamar decidiu-se. Mas e o prazo para a desincompatibilização? Simples assim: atrasaram o relógio e Itamar renunciou, no prazo, ao mandato de prefeito de Juiz de Fora. Eleito senador, cumpriu com extrema dignidade o cargo que os mineiros lhe delegaram. Não tivesse renunciado à prefeitura, Itamar jamais seria senador; não fosse senador jamais seria vice-presidente; não fosse vice-presidente jamais teria chegado à presidência do Brasil; não tivesse chegado à presidência jamais teria havido um sociólogo no Ministério da Fazenda, um Plano Real e dois mandatos de FHC.
Há quem diga que Itamar Franco era o homem errado no lugar errado, mas que naquele momento crítico da política brasileira se fez, na presidência da República, o homem certo no lugar certo. Digo, e já escrevi sobre isso, que Itamar Franco foi o Forrest Gamp da política: por mais que tomasse decisões erradas, lá na frente sempre dava certo. Nos últimos dias não foram poucas as manifestações de pesar pela sua morte. Em todas as manifestações encontrava-se a principal característica de Itamar Franco: incorruptível.
A indecisão de Itamar Franco me faz lembrar dois encontros, também circunstanciais, que tivemos logo após ele deixar o governo de Minas: o primeiro foi no elevador do edifício onde moro até hoje, quando Itamar pretendia adquirir um apartamento e que acabou não comprando; o segundo, oito anos atrás, em uma loja de um shopping de Belo Horizonte, quando lhe perguntei se depois de ser prefeito duas vezes, senador duas vezes, governador, vice-presidente e presidente do Brasil sairia candidato a algum cargo?
Indeciso, em outras palavras disse mais ou menos isso: não sei, quem sabe? Itamar Franco morreu no último sábado, quatro dias depois de completar 81 anos, como senador da República por Minas Gerais, eleito em outubro de 2010. É lugar comum, mas o que fazer? A política ficou mais pobre e o senado pior do que já é.
(*) Nilson borges Filho é doutor em direito, professor e articulista colaborador deste blog.
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