Delúbio Soares e seu advogado Arnaldo Malheiros |
Advogado principal da banca que defende Delúbio Soares no processo do
mensalão no Supremo Tribunal Federal (STF), Arnaldo Malheiros Filho
rejeita a tese de que a culpa de todos os malfeitos é do ex-tesoureiro
da legenda na época do escândalo. Malheiros diz que seu cliente era
apenas um executor de decisões colegiadas da Executiva do PT, rebatendo a
tese de defesa de José Genoino, presidente à época do partido. Os
advogados de Genoino sustentam que ele só cuidava das questões políticas
e Delúbio das questões financeiras, como os empréstimos de R$ 55
milhões contraídos por Marcos Valério em nome do PT. É a mesma linha da
defesa de José Dirceu, que alega não ter tratado de dinheiro do partido
quando ocupava a Casa Civil no primeiro mandato do governo Lula.
O GLOBO: O senhor está preparado para, em uma hora na tribuna, convencer o pleno do Supremo da inocência de Delúbio?
ARNALDO
MALHEIROS FILHO: Acho que cada um tem o seu papel. O Ministério Público
vai acusar. O meu papel é conseguir mostrar o que existe e o que não
existe contra Delúbio da melhor maneira possível. E que a partir daí a
Justiça seja feita. Se eu não confiasse na Justiça não perderia meu
tempo indo lá fazer essa defesa. Espero fazer um bom trabalho. Essa é a
missão que tenho.
O que o senhor considera o ponto fraco para Delúbio: as provas existentes ou a pressão da opinião pública pela condenação?
MALHEIROS:
Provas contra ele, eu não achei nenhuma. Me preocupa um pouco a
politização do julgamento, que acho que não seja um bom caminho para os
ministros. Quem está nesse cargo está acostumado a decidir sem ligar
para a pressão da opinião pública.
O Delúbio vai entregar alguém ou assumir que fez tudo sozinho?
MALHEIROS: Desde o primeiro momento na CPI, o Delúbio nunca mudou sua
versão. E não tem mais oportunidade de falar. Quem fala agora sou eu. O
que precisa ficar claro é que nem ele assumiu tudo sozinho nem acusou
ninguém. O perfil, o caráter do Delúbio não permite que seu dedo
endureça. Ainda mais agora.
Dirigentes do PT naquela
época, réus do mensalão, não querem jogar a culpa nele? O advogado de
Genoino diz que seu cliente cuidava da parte política e Delúbio da
financeira...
MALHEIROS: Ninguém do partido poderia
decidir isso sozinho (conseguir o dinheiro para saldar as dívidas da
campanha de 2003). Todas as decisões eram do colegiado, da Executiva.
Nem sei se José Dirceu era da Executiva naquela época. Acho que, como
ministro, se licenciou do partido. Mas Genoino era o presidente. Delúbio
não tomava decisões. Era o executor das decisões da Executiva nacional
do PT.
O seu cliente vai sustentar que agiu como um soldado do PT?
MALHEIROS:
Ele não disse que fez tudo sozinho, nem se negou a assumir suas
responsabilidades. Delúbio não quer ser julgado pelo que não fez. Mas
sempre assumiu tudo que fez, que manipulou as contas do caixa dois da
campanha.
Delúbio acha que pode ser condenado? Como está o espírito dele nessa fase pré-julgamento do Supremo?
MALHEIROS: Ele é um homem tranquilo. Sempre se comportou de forma muito
calma e tranquila e continua assim. Continua trabalhando na
imobiliária, se confortando no seio da família. Delúbio não é de
reclamar de nada. É um cliente muito bom. Nas nossas conversas ele
demonstra uma confiança total em mim. Deu a sua versão dos fatos e agora
diz: aceito o que acharem que for melhor para mim e pronto.
Ele pode sair como o único condenado do mensalão?
MALHEIROS:
Não arrisco prognósticos. A pior situação para ele é ser condenado. Mas
nunca me debrucei sobre essa possibilidade. Eu sempre trabalho com a
perspectiva de que Delúbio será absolvido. Do site do jornal O Globo
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