Como todos notaram houve uma série de mudanças na revista Veja e, particularmente, no seu site que impede assinantes de ter acesso online à publicação impressa. As Mudanças do site o deixaram horroroso. Mudaram para pior, como têm mudado para pior os sites dos demais veículos da grande imprensa brasileira.
Todos juntos somam um lixão. Textos de padrão ruim, jornalistas analfabetos políticos, a maioria politicamente correta e ecochata, enfim, o jornalismo brasileiro segue o padrão do mundo ocidental, bestializado, agachado, entregando o ouro para a bandidagem e o terrorismo internacional, afagando ditadores e, sobretudo, mentindo.
Alguns mentem por ignorância e burrice, outros de forma consciente, porquanto acreditam-se demiurgos. Estes são os idiotas. E, finalmente, tem os que mentem de forma oportunista para meter a mão na grana de origem incerta porém de manipulação conhecida por todos, ainda que finjam não saber de nada.
Agora acabo de ver que o Diogo Mainardi que ao lado de poucos jornalistas da grande mídia pode ser considerado o último dos moicanos da imprensa brasileira que não se ajoelha ante o pensamento único do comunismo botocudo, anuncia que vai embora. E deixa isto registrado numa crônica que está no seu blog no site da Veja e que transcrevo abaixo.
Será que o velho de guerra Civita apetralhou? Vamos aguardar.
Enquanto isso, leiam o que diz o Diogo Mainardi, na sua crônica intitulada apenas: Vou embora:
Fabiano, o retirante de Vidas Secas, é igual a um bicho. Graciliano Ramos compara-o a um cavalo. Ele compara-o também a um tatu, a um macaco, a um cachorro e a um pato. Se Fabiano é igual a um bicho, eu sou igual a Fabiano. Está lá, na primeira parte do romance:
“A sina [de Fabiano] era correr mundo, andar para cima e para baixo, à toa, como judeu errante. Um vagabundo empurrado pela seca. Achava-se ali de passagem, era hóspede. Sim senhor, hóspede que tomava amizade à casa, ao curral, ao chiqueiro das cabras”.
Oito anos depois de desembarcar no Rio de Janeiro, de passagem, estou indo embora. Um vagabundo empurrado pela vagabundagem. É uma sina: andar para cima e para baixo, à toa. Sim senhor, tomei amizade à cidade. O Rio de Janeiro — e, em particular, Ipanema, que me hospedou — tornou-se para mim um verdadeiro chiqueiro das cabras.
Os quatro protagonistas de Vidas Secas — Fabiano, Sinhá Vitória, o menino mais velho e o menino mais novo — vagam silenciosamente pela caatinga, “onde avultam as ossadas e o negrume dos urubus”. Quando o menino mais velho, sedento e faminto, cai na lama rachada, tomado por uma vertigem que o impede de dar um passo a mais, Fabiano diz:
— Anda, excomungado.
Eu, minha mulher, o menino mais velho e o menino mais novo vagamos rumorosamente pelos corredores desertos do aeroporto Tom Jobim, onde avultam as ossadas e o negrume da Air France. Quando o menino mais velho, que caminha com um andador, resolve empacar, recusando-se a dar um passo a mais, eu digo, sim senhor:
— Anda, excomungado.
Fabiano tem medo de ser preso. Eu também tenho medo de ser preso. Fabiano tinha uma cadela chamada Baleia. Eu vi uma baleia, algumas semanas atrás, no mar de Ipanema. Fabiano, para matar a fome, acaba comendo seu papagaio. Eu, antes de ir embora do Rio de Janeiro, tratei de comer todas as sobras da geladeira, inclusive um ovo de Páscoa coberto de bolor.
Nas primeiras linhas de Vidas Secas, Fabiano parte, sem saber para onde. Nas últimas linhas do romance, ele parte novamente, sonhando com “uma terra desconhecida e civilizada”, onde os meninos iriam para a escola e sua mulher nunca mais teria de lamber o focinho ensanguentado de uma cadela. Depois de comparar Fabiano a um cavalo, a um tatu, a um macaco, a um cachorro e a um pato, Graciliano Ramos, nos instantes finais, apieda-se e, bisonhamente, humaniza-o. Fabiano sonha em parar de andar para cima e para baixo, à toa. O que eu digo? Eu digo:
— Anda, excomungado.