Por Nilson Borges Filho (*)
"Foi um acidente ... foi um acidente ...” Brasília madrugava e os gritos vinham da suíte principal da residência do presidente do Senado Federal. Secreta, mordomo e homem de confiança da família Sarney, entrou esbaforido no quarto do chefe para saber o que estava acontecendo, afinal aquela era uma reação incomum de um político incomum, que já havia presidido o país.Dona Marly acordou assustada e não tinha a menor ideia do que estava acontecendo com o marido, ali ao seu lado, molhado de suor, com os olhos esbugalhados que comprovavam ter passado por uma experiência horrível. Secreta pegou o telefone para avisar ao filho mais velho do senador, Fernando Sarney, que o pai não estava nada bem e que, considerando a sua idade avançada, o ideal seria que tomasse o primeiro avião e rumasse para Brasília.
Dona Marly, irritada, tomou o telefone da mão de Secreta para tranquilizar o filho, alegando que o marido tinha tido um pesadelo penoso e havia acordado em sobressaltos. Mas nada de grave, emendou Dona Marly antes de desligar o telefone.
Mas o senador – homem de letras – havia lido que os sonhos são uma tentativa de realização de um desejo reprimido que se alojava no inconsciente. Pelo menos foi isso que conseguiu entender, depois de ter lido a orelha do livro onde Freud trata da interpretação dos sonhos.
Na verdade, o sonho de Sarney, que se transformou em pesadelo, revivia um período dramático da história recente do Brasil, o impeachment do ex-presidente Fernando Collor. Sarney passou a acreditar que o pesadelo tinha um efeito simbólico, e que o afastamento de Collor não passava de um acidente histórico e que, por isso mesmo, deveria ser apagado da memória do povo. Recuperado, depois de tomar um ansiolítico, Sarney vestiu o jaquetão preferido – preto com risca de giz – lambuzou os poucos fios de cabelo com brilhantina e saiu na ponta dos pés para inaugurar uma série de painéis e fotos que refletem os momentos importantes da história do Brasil e do Congresso Nacional.
A pressa em chegar, já nas primeiras horas da manhã no Senado, tinha a ver com o pesadelo da madrugada, onde havia recebido “um aviso” de que o impeachment de Collor tinha sido um acidente. Sabe-se que Sarney não tem a menor simpatia por Collor, desde a campanha presidencial que elegeu o seu substituto.
Para se eleger, Collor atacou Sarney de todas as maneiras, chamando-o de omisso e corrupto. Injustamente, diga-se de passagem.Mas o maranhense – ligado nessas coisas de superstição – acredita piamente (Sarney é um homem pio) que o pesadelo foi um aviso e, como tal, deveria usar das suas atribuições, como presidente do Congresso Nacional, para retirar os painéis que retratavam os fatos importantes do afastamento de Collor de Melo. E assim foi feito.
A Madre Superiora da política nacional, incorporando homens públicos que decidiram reescrever a história dos seus países, jogou no lixo um dos momentos mais importantes da história política recente do Brasil.
Nunca antes na história deste país, as instituições funcionaram tão bem: a Câmara dos Deputados, em sessão destinada a esse fim, autorizou a abertura do processo de afastamento de Collor; o Senado Federal, sob à presidência do ministro presidente do Supremo Tribunal Federal, julgou e decidiu pelo impeachment de Collor por crime de responsabilidade; o Supremo Tribunal Federal, funcionando normalmente, rejeitou todos os recursos do ex-presidente.
As Forças Armadas cumpriram com o seu papel constitucional, permitindo que a crise ficasse sob a jurisdição do poder civil. O Brasil, naquele ano, deu uma aula de democracia. Democracia essa que Sarney quer apagar da memória do povo. Lula tem um bom professor. Um deboche!
(*)Nilson Borges Filho é doutor em direito, professor e articulista colaborador deste blog
Um comentário:
E no dia seguinte recuou da medida da v´[espera, instado que foi pore aquela voz que derrete o coração do ancião do jaquetão. Mas painho, se eu fiquei famosa internacionalo]mente como a Musa do Impeachment sem sapato ou sem sapato a Musa do Impeachment ou, a Musa sem sapato do Impeachment...e você painho, que tanto me incentivou e eu fui a sua ghost writer, desculpa você é que foi o meu, estou nervosa, não poso ser apagada do Impeachment...
Bom, pa i nho, acho que esse lance não vai dar certo porque ele já nos perdoou, de tudo ou quase, o Collor, pelo menos é o que parece, e eu vou ter que ficar fora, desse jeito só vou ser lembrada por , pelas , bem, deixa prá lá... ã única coisa que interessa é que eu trabalhei tanto, tanto e não é justo ser enterrada viva junto com o impeachment que já está morto, portanto, ressuscite-o.
Resuscite-o, pa i nho, que é prá mostrar prá essa gente toda que você ainda tem poder de vida e morte sobre qualquer um e qualquer coisa. Como nos tempos de Tancredinho, coitadinho, mas se não fosse ele...
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