Por Nilson Borges Filho (*)
Dilma chegou à presidência da República pelas mãos de Luiz Inácio Lula da Silva, mesmo a contragosto de parcela significativa de petistas de alto coturno. Foi um ato de vontade do ex-presidente, como se nada estivesse acima do seu gosto pessoal. O PT veio a reboque e – por falta de opção – os demais partidos da base aliada fizeram coro ao capricho presidencial.Lula é um animal político esperto e sabe os caminhos que podem levar alguém ao poder. Criada em cativeiro, Dilma se deixou conduzir pelo chefe como se o futuro próximo não mais lhe pertencesse. Contando com o apoio do ex-presidente e levada pelos altos índices de popularidade do governo, Dilma derrotou o ex-ministro José Serra, candidato das oposições.
Como não existe almoço de graça, Lula exigiu que alguns nomes fizessem parte do novo ministério e que outros fossem mantidos. Antônio Palocci pode ser enquadrado no primeiro caso, já Fernando Haddad, Alfredo Nascimento, Wagner Rossi e Orlando Silva encontram-se na segunda situação. Tudo de acordo com o figurino.
Em pouco mais de nove meses, Dilma já substituiu cinco ministros: um por falar o que não devia e quatro por corrupção. A bola da vez é o ministro Orlando Silva (PC do B), envolvido até o pescoço com denúncias de malversação do dinheiro público na pasta do Esporte.
Por baixo, o rombo nos cofres do ministério se aproxima aos 40 milhões. A propina está estimada em 20% do que era liberado para as ONGs, dirigidas por partidários do ministro Orlando Silva.
O presidencialismo de coalizão brasileiro provoca esse tipo de coisa, o aparelhamento do Estado por apadrinhados dos diversos partidos que formam a base aliada do governo petista. Não bastasse isso, com a ascensão do PT, o neopeleguismo tomou de assalto os principais cargos da estrutura do Estado.
É natural que o partido que alcance o poder governe com os seus quadros. Mas o que ocorre no Brasil, seja em nível federal ou em níveis estaduais, o aparelhamento do Estado chega à fronteira da falta de respeito com o dinheiro do contribuinte.
O senador Aécio Neves tem denunciado publicamente o desprezo do governo petista com a meritocracia. E o faz com carradas de razão, principalmente com o aparelhamento dos neopelegos nas estatais ligadas ao governo federal. Mas esquece o senador, que a mesma prática se dá nos Estados governados pelo PSDB.
Ocorre que, entre os tucanos, o aparelhamento se dá entre parentes e corriolas. Muito embora a insatisfação ocorra subliminarmente, é crescente a formação de corriolas em governos tucanos – mormente em estatais, que ficam longe do olhar do governante – integradas por pessoas que contam com a simpatia do chefete, amiguinhos de última hora da autoridade pública e daqueles tipinhos nojentos que fazem o jogo do “leva-e-traz”, que costumam se apresentar como leais ao chefe de plantão detonando colegas de trabalho e abiscoitando bons cargos.
O chefete que ali está não por mérito, mas por fazer parte da cota de algum político, esconde sua mediocridade e insegurança formando verdadeiras corriolas em seu entorno. Enquanto isso, aqueles servidores históricos que, por força do caráter ou profissionalismo, não se permitem ao agachamento moral, são desqualificados e colocados de escanteio pela autoridade pública.
Assim, se o PSDB desejar, nas próximas eleições presidenciais, colocar em pauta a questão do aparelhamento petista na estrutura do Estado, comece a rever determinadas práticas de aparelhamento nos seus governos estaduais, onde prevalecem o “poder das patotas” em detrimento de uma gestão profissional.
Choque de gestão faz bonito e soa bem aos ouvidos dos de fora, mas seria bom que os governantes tucanos lançassem um olhar crítico para o que está ocorrendo, além das suas vistas, nas suas administrações. Principalmente nas estatais. Não custa nada alertar: 2014 está logo aí. E não adianta virem com lero-lero, pois os fatos falam por si.
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