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terça-feira, março 20, 2012

VAZAMENTO DE INFORME CONFIDENCIAL REVELA QUE MORTE DE CHÁVEZ PODE GERAR TRANSIÇÃO TURBULENTA NA VENEZUELA

Culto à personalidade do caudilho
O texto que segue é uma tradução livre que fiz de reportagem do jornal El Nuevo Herald e que pode ser lida aqui no original em espanhol. Considero que, caso Hugo Chávez seja alijado do poder nas próximas eleições ou ainda em decorrência de seu estado de saúde, isto determinará uma considerável mudança nos rumos políticos na América Latina como um todo. Embora o Brasil seja o maior país do continente, Chávez é a baliza que regula as demais Nações integrantes do Foro de São Paulo, a organização esquerdista que articula o movimento comunista internacional na América do Sul. Por esta razão considero que o fenômeno chavista é relevante para qualquer análise que se faça do contexto político latino-americano. Inclusive no que concerne ao Brasil, já que Lula e o PT estão entre os fundadores do Foro de São Paulo. Uma possível guinada democrática e liberal na Venezuela terá impacto sobre todo o continente latino-americano, inclusive no Brasil. O texto é meio longo mas vale a pena ler:
A estrutura de poder altamente personalizada da Venezuela - criada pelo caudilho Hugo Chávez para dissuadir qualquer tentativa de derrubá-lo - acentua o risco de caos e de violência no país, assinala uma análise da empresa de inteligência norte-americana Stratfor, que adverte sobre os múltiplos obstáculos no caminho de uma transição pacífica. Essa análise produzida pela Stratfor faz parte do material vazado pelo grupo hacker-anarquista WikiLeacks.
O relatório, que forma parte de mais de cinco milhões correios eletrônicos dessa companhia de inteligência corporativa vazados pelo WikiLeacks, esboça o emaranhado sistema de rivalidades, confrontos e suspeitas mútuas que Chávez plantou ao seu redor e o potencial de conflito interno no caso de desaparecer do cenário político devido ao câncer.
GOVERNO PERSONALISTA
"O presidente venezuelano Hugo Chávez construiu ao seu redor um sistema de governo personalista que requer sua específica supervisão e participação. Adicionalmente, criou um arco de estruturas de apoio político que gera antagonismos entre elas para desestimular sua remoção", destaca o relatório escrito em julho de 2011.
"É por isso que nós consideramos que o afastamento de Chávez seria um evento que desestabilizaria significativamente o país", enfatiza o documento da Stratfor.
Chávez, que regressou na última sexta-feira à Venezuela depois de ser submetido a uma intervenção cirúrgica em fins de fevereiro em Havana, insiste em que se recupera satisfatoriamente e que será o candidato à releição no pleito de outubro vindouro.
Mas insistentes versões asseguram que está muito mais enfermo do que deixa entrever, e pessoas que afirmam ter tido acesso à informação detalhada sobre sua condição médica assinalam que tem um prognóstico de vida que vai dos 12 aos 16 meses.
A doença do caudilho gera dúvidas sobre o que aconteceria no cenário político dos país casos se veja obrigado a soltar as rédeas do poder, ante o risco de que seus diferente pilares de sustentação, que incluem grupos paramilitares vinculados à revolução, os militares e os agentes cubanos, lutem entre eles para tratar de controlar a enorme renda do petróleo.
Nenhum deles, entretanto, poderia atuar abertamente enquanto Chávez continue com vida. O informe assinala que Chávez segue sendo o líder político mais popular do país apesar de ter demonstrado ineficiência ao tratar dos principais problemas durante seus 13 anos de governo. 

ESQUEMA POPULISTA 
Sua popularidade é produto de seu vasto carisma, da elevada conexão emocional que mantém com os setores populares e a prioridade do gasto social e a execução de políticas populistas com uma retórica que constantemente se pronuncia em favor da redistribuição da riqueza.
A popularidade é identificada pelo relatório da Stratfor como a primeira linha de suporte com a qual conta Chávez, porque o regime lhe confere um escudo de legitimidade atrás do qual se protege das constantes acusações de autoritarismo lançadas com frequência pela oposição.
As políticas sociais executadas exercem um alto custo para os cofres do Estado. Nos últimos anos de seu mandato, Chávez tem contado com uma substanciosa renda decorrente do petróleo o que tem permitido financiar seus programas graças aos preços do petróleo bruto que tem quadruplicado desde que assumiu o poder em 1999.
Mas a produção petrolífera está em franca deterioração, diminuindo em cerca de 25% desde os 3.2 milhões de barris diários em 2001 a 2,4 milhões de barris em 2010, assinala o relatório.
Essa diminuição é atribuída pelo aos escassos investimentos realizados pela estatal Petróleos da Venezuela S/A, em obras de exploração e produção, requeridas para compensar o declínio natural dos poços de produção existentes.
Chávez semeia intrigas e incertezas
CHÁVEZ E OS MILITARES
Além do respaldo popular e da renda do petróleo, o regime de Chávez depende do apoio das Forças Armadas para manter-se de pé.
Os militares participaram em três falidos golpes de Estado desde 1992, e em cada um dos três casos - dois deles em favor de Chavéz e um contra o caudilho - buscaram ou trataram de conseguir apoio público ou tentaram tirar proveito das manifestações de descontentamento popular.
Caso se produza uma tentativa de mudança do regime, a posição das Forças Armadas seria determinante, mas os autores do informe dizem que os militares dificilmente fomentariam uma tentativa de mudança.
"É improvável que os militares façam algo mais do que oferecer apoio - o mínimo que fariam seria a recusa de envolver-se [de produzir algum conflito] - ao atual regime antes de que se apresente um cenário completo de desestabilização", afirma. "Inclusive em tempos de turbulência, os militares dariam um passo atrás e não participariam no conflito até certificar-se de que o atual governo perdeu sua legitimidade".
Um dos grandes problemas que impedem a tentativa das Forças Armadas de jogar um papel como protagonista de mudança de regime é a falta de unidade interna.
"É em consequência possível que elementos dentro das Forças Armadas cometam um erro de cálculo, e atuem antes de Chávez perder total legitimidade. Nesse cenário, os choques entre as diferentes facções não podem ser descartados", sustenta.
Milícias Bolivarianas criadas por Chávez
MILÍCIAS BOLIVARIANAS
O regime por outro lado, conta com as Milícias Bolivarianas, criadas precisamente para que atuem como contrapeso às Forças Armadas.
"Organizadas na vizinhanças das cidades venezuelanas e no campo, as Milícias Bolivarias são a apólice de seguro de Chávez contra um golpe de Estado. Ao armar cidadãos, Chávez faz com que qualquer ameaça a seu governo seja mais incerta e aumente as probabilidades de que qualquer ameaça contra seu governo dispare uma onda generalizada de violência", segundo o informe da Stratfor.
A presença cubana no país é outro dos elementos que coloca obstáculos a um projeto de transição.
PRESENÇA CUBANA
Cuba tem jogado um papel chave na sobrevivência do regime, servindo como um observador externo leal dos assuntos políticos da Venezuela.
"O uso de ativos de inteligência de um jogador externo interessado em manter o fluxo barato de petróleo ajuda Chávez a manobrar cuidadosamente e administrar situações de política doméstica potencilmente venenosas", ressalta.
O risco para os cubanos é que a assunção do poder de algum líder venezuelano menos ideologicamente comprometido com o socialismo poderia por em jogo o extenso subsídio petroleiro outorgado por Caracas, o qual por suas vez constituiria um duro golpe para a sustentabilidade do regime de Fidel Castro.
O informe da Stratfor adverte que as atuais condições criam as perspectivas para dois cenários muito negativos, embora assinale que esses não seriam necessariamente os mais prováveis.
No caso de que Chávez morra sem contar com um hábil ou claro sucessor, o país poderia ver uma luta armada pelo poder.
"Os militares tratariam de tomar o controle, mas as milícias de Chávez poderiam encontrar a força e as armas para lutar. Nesse caso, um cenário em que os cidadãos norte-americanos na Venezuela tenham que ser evacuado é provável", adverte.
Outro cenário de desestabilização seria de caráter econômico e se produziria em decorrência de uma abrupta queda nos preços do petróleo. "Desestabilizaria os programas sociais do governo, propiciaria o colapso econômico e provocaria um descontentamento generalizado", conclui o informe.Tradução livre do site do jornal El Nuevo Herald - Clique AQUI para ler no orginal em espanhol

Um comentário:

Anônimo disse...

Caro Aluízio, a eventual morte de Chavez e uma redeocratização da Venezuella será bastante custosa financeiramente para nós. Imagine quem vai passar a pagar as contas da falida ditadura cubana...