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quarta-feira, maio 25, 2011

ARTIGO: Paloccigate

Por Nilson Borges Filho (*)

O enriquecimento repentino e não explicado do ministro Antônio Palocci coloca o  ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como o principal articulador político do governo de Dilma Rousseff .

A permanência do Chefe da Casa Civil e os apoios públicos de parlamentares da “base alugada” não refletem, exatamente, o que se passa internamente no PT. Declarações públicas que tentam minimizar a atual crise não quer dizer, necessariamente,  que exista um desejo explícito  pela manutenção de Palocci. 

Tem muita gente dentro do governo torcendo para que o ministro se desidrate politicamente, a ponto de se tornar refém de parlamentares que dão sustentação ao governo. Não é segredo para ninguém – muito menos para petistas - que Palocci não era o nome preferencial de Dilma para ocupar a principal pasta do seu governo.  

Lula convenceu a presidente que Palocci seria o melhor nome para articulador político do seu governo, pois transita bem entre os diversos partidos, inclusive da oposição, e tem credibilidade junto ao patronato brasileiro. Dilma, que faz de tudo para não contrariar seu inventor, manteve Palocci e de quebra aceitou Gilberto Carvalho na Secretaria Geral, Mantega na Fazenda e adotou Fernando Haddad como ministro da Educação. 

Não bastasse isso, Dilma teve que engolir o deputado Rui Falcão como presidente nacional do PT, a quem detesta silenciosamente. Ao assumir a coordenação política do governo federal, Lula enfraquece politicamente Dilma Rousseff. 

O ex-presidente aposta que o sucesso da presidente é, na verdade, o seu sucesso. Mas, se sua escolhida não se sair bem, Lula mantém a aposta que será o principal nome do PT e aliados para 2014. Ricardo Berzoini e o mensaleiro João Paulo Cunha torcem pela queda do ministro Palocci, creem num esvaziamento político da presidente e pensam que Lula passará a dar as cartas no governo. 

Com isso farão o que mais gostam: repartir, entre seus apaniguados, diretorias de estatais e de fundos de pensão com orçamentos polpudos. Decididamente,  Dilma tem se insurgido contra o  aparelhamento das estatais pelo neo-peleguismo. A rigor, o paloccigate surgiu da luta política de “cachorro  grande” dentro do próprio PT. E foi daí que se abasteceu a reportagem da Folha de São Paulo, para fazer a matéria que tratou do enriquecimento de Antônio Palocci. 

Não pensem que estão sendo sinceros, os que defendem publicamente o ministro da Casa Civil. A ideia é promover  a sua saída, mais ou menos honrosa, antes que estilhaços da crise atinjam a arrecadação de fundos da campanha de Dilma Rousseff. A maior preocupação de Lula – caso não se estanque a sangria de Palocci – consiste no fato de que a crise está se aproximando de alguns amigos próximos e de gente da sua própria família.  

A presidente está fragilizada não só politicamente;  sua saúde está trazendo preocupações aos seus auxiliares de confiança.  Foi grave a recaída de Dilma. E não são poucos, entre os petistas e aliados, os que torcem pelo pior. 

Uma fonte me confidenciou que a crise foi criada dentro do PT e que a estratégia é a de vinculá-la à oposição para o público externo. Internamente, a estratégia – disse-me ele – é pela guerra de posições, no mais exato conceito gramsciano. 

A informação publicada pela Folha de São Paulo, edição de hoje, de que a Caixa Econômica Federal comunicou à justiça, que a quebra do sigilo bancário do caseiro partiu do gabinete de Palocci, foi passada por gente do PT. É tudo que Palocci  gostaria que não viesse a público.

(*) Nilson Borges Filho é doutor em Direito, professor e articulista colaborador deste blog

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