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sábado, fevereiro 19, 2011

DANIEL PIPES: A oportunidade do Egito

Mais uma vez Daniel Pipes analisa de forma minuciosa os acontecimentos do Egito e a nuvem de incerteza que ainda permanece: afinal como as coisas se encaminharão depois que se acalmou o clamor dos protestos de rua com a renúncia de Muabarak? E a indagação mais sombria recai sobre o futuro comportamento da Irmandade Muçulmana, organização tradicional do Egito que se tem esquivado de esclarecer os seus reais propósitos. Pipes também não se furta em fazer uma ácida crítica à desnorteada política externa de Hussein Obama, especialmente aquela voltada ao Oriente Médio. Por isso este artigo de Daniel Pipes, que também pode ser lido no original in english, merece uma atenta leitura porque se trata de análise acurada indo muito além do trivial comumente veiculado pela grande mída. Leiam:
Ainda que os acontecimentos no Egito tenham se desenrolado da melhor maneira possível, as perspectivas sobre o futuro permanecem incertas. A fase empolgante acabou, agora é hora das preocupações.
Comecemos com três notícias boas: Hosni Mubarak, o homem forte do Egito que parecia estar à beira de fomentar um desastre, felizmente renunciou. Os islamistas, que pressionariam o Egito na direção do Irã, tiveram um pequeno papel nos recentes eventos e permanecem longe do poder. E as forças armadas que, nos bastidores, desde 1952 governaram o Egito, é a instituição melhor equipada para adaptar o governo às exigências dos manifestantes.Agora, vamos aos problemas. As forças armadas em si representam o menor dos problemas.
No comando há seis décadas, causaram muita confusão. Tarek Osman, escritor Egípcio, demonstra de maneira eloquente em seu novo livro, Egypt on the Brink: From Nasser to Mubarak (Yale University Press) a rapidez do declínio na posição do Egito. Qualquer que seja o indicador escolhido, desde o padrão de vida até o poder de influência, o Egito de hoje fica aquém do seu antecessor monárquico. Osman compara o Cairo dos anos 50 do século passado à cidade "superpovoada, tipicamente de terceiro mundo" de hoje. Ele também se desespera sobre a maneira em que o país "que já foi marco de tranquilidade … tenha se tornado o solo mais fértil para geração de agressões do Oriente Médio".
A Irmandade Muçulmana representa o maior problema. Fundada em 1928, organização islamista líder no mundo, tem de longa data evitado a confrontação com o governo, esquivando-se em revelar sua ambição em realizar uma revolução islâmica no Egito. O presidente do Irã Mahmoud Ahmadinejad articulou a sua esperança a cerca da revolução, ao reivindicar que devido aos acontecimentos no Egito, "estava emergindo um novo Oriente Médio sem o regime sionista e sem a interferência dos Estados Unidos ". Em uma avaliação amarga, o próprio Mubarak se focou nesse mesmo perigo: "Vemos a democracia que os Estados Unidos lançaram no Irã, e em Gaza com o Hamas, e esse é o destino do Oriente Médio … extremismo e islamismo radical".
De sua parte, a administração dos Estados Unidos ingenuamente não expressou tais preocupações. Barack Obama minimizou a ameaça da Irmandade Muçulmana, chamando-a apenas de "uma facção no Egito", enquanto o diretor do Serviço Nacional de Informações, James Clapper, na realidade elogiou a irmandade com sendo "um grupo muito heterogêneo, consideravelmente secular, que desistiu da violência" que procura "a melhoria da política no Egito".
Esse contrassenso aponta para uma política dos Estados Unidos profundamente desordenada. Em junho de 2009, durante a revolução não concretizada contra o regime hostil do Irã, a administração Obama permaneceu calada, esperando com isso obter a boa vontade de Teerã. Mas com o Sr. Mubarak, um ditador amigo sob ataque, ela efetivamente adotou a impaciente "pauta da liberdade" de George W. Bush, apoiando a oposição. O Sr. Obama aparentemente só encoraja manifestações de rua contra o nosso lado.
Pressão americana, gradual e contínua, reconhecendo que o processo de democratização implica em uma vasta transformação da sociedade e não requer meses e sim décadas, é necessária para abrir o sistema.

O que espera o Egito, será que Irmandade Muçulmana tomará o poder?
Algo marcante, imprevisível e sem precedentes aconteceu nas últimas semanas nas ruas do Egito. Um movimento de massas sem líderes eletrizou um grande número de cidadãos comuns, assim como na Tunísia dias antes. Ele não dirigiu o ódio contra estrangeiros, não fez das minorias egípcias bodes expiatórios, nem endossou uma ideologia radical; em vez disso, exigiu resposabilização, liberdade e prosperidade. Informações chegadas a mim procedentes do Cairo levam a crer numa guinada em direção ao patriotismo, inclusão, secularismo e responsabilidade pessoal.
Para confirmar, veja essas duas pesquisas de opinião: Um estudo realizado em 2008 por Lisa Blaydes e Drew Linzer constatou que 60 porcento dos egípcios sustentam opiniões islamistas. Porém uma pesquisa do Pechter Middle East Poll da última semana constatou que apenas 15 porcento dos cairotas e alexandrinos "aprovam" a Irmandade Muçulmana e cerca de 1 porcento apóia um presidente da irmandade para o Egito. Outro indicador dessa mudança sísmica: a irmandade, em retirada, diminuiu suas ambições políticas, com Yusuf al-Qaradawi chegando a declarar que preservar a liberdade dos egípcios é mais importante do que implementar a lei islâmica.

Ninguém pode dizer nesse estágio inicial de onde veio essa revolução nas atitudes ou para onde está indo, mas ela é a feliz realidade de hoje. A liderança das forças armadas tem o peso da responsabilidade de guiá-la ao bom encaminhamento. Três homens em especial merecem ser observados de perto, o vice-presidente Omar Suleiman, o Ministro da Defesa Mohammed Hussein Tantawi e o Chefe do Estado-Maior Sami Hafez Enan. Logo veremos se a liderança das forças armadas aprendeu e amadureceu e, se compreendeu que continuar prosseguindo em busca de seus interesses egoístas levará a mais deterioração.

Um comentário:

Anônimo disse...

Apesar do brilhantismo com que esse jornalista expõe os fatos sobre o Oriente Médio, mais uma vez vejo sua análise sobre o Egito um pouco titubeante. Está claro que se instalará naquele país o governo da Irmandade Muçulmana, foi ela que esteve por trás das manifestações. Já o muçulmano Obama não deixou por menos, deu suas boas vindas à chegada de mais essa facção terrorista. Também não resta dúvidas de que Hussen é a favor de governos anti-israel naquela região, principalmente dos sauditas a quem deve sua trajetória política nos EUA. A exceção é o Irã por conta das armas nucleares.
Não tenho dúvidas!