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quarta-feira, maio 04, 2011

DANIEL PIPES: Deveríamos Culpar um Pastor da Flórida Pelas Mortes no Afeganistão?

Transcrevo o excelente artigo de Daniel Pipes, por si só um libelo contra o pensamento politicamente correto e uma ardente defesa dos valores da civilização ocidental. O texto no original em inglês pode ser lido aqui. Vale a pena ler:

Quando o Pastor Terry Jones, 59, anunciou sua intenção de queimar o Alcorão no aniversário do 11 de setembro em 2010, o governo dos Estados Unidos, receando ataques contra as tropas americanas no exterior, exerceu enorme pressão para que ele não prosseguisse, fazendo com que no final desistisse do seu intento.
Jones prepara ato simbólico contra Alcorão
Entretanto, Jones não cancelou o cerimonial do julgamento dos livros sagrados islâmicos – apenas adiou-o por seis meses. Em 20 de março, numa cerimônia de seis horas chamada de "Dia da Queima do Alcorão", convocou um processo judicial fictício na Flórida que considerou o livro "culpado de crimes contra a humanidade", em seguida botou fogo em um exemplar.
O evento foi intencionalmente ignorado nos Estados Unidos, na esperança de limitar seu impacto, mas pouco permanece em segredo na era da Internet. Em dois dias, o noticiário da queima chegou ao Paquistão e ao Afeganistão, onde os seus presidentes condenaram Jones energicamente, tornando a sua atitude amplamente conhecida. Em 1 de abril, afegãos enfurecidos atacaram com violência, matando doze pessoas na cidade de Mazar-i-Sharif, mais ao norte do país; no dia seguinte, homens bomba vestidos como mulheres, atacaram a base da coalizão em Cabul e gangues em Candahar mataram mais doze pessoas.
(Merece ser destacado, que foram somente cinco mortes a mais do que em setembro de 2010, quando dezenove pessoas foram mortas quando Jones apenas ameaçou queimar o Alcorão).
Quem é moralmente culpado por essas mortes, Jones ou os islamistas que procuram aplicar as leis do Islã em sua plenitude e com o máximo rigor?
Não é de se admirar que Jones tenha chamado esses assassinatos de "ações criminosas" asseverando que "temos que considerar esses países e essas pessoas responsáveis pelo que fizeram, bem como pelas justificativas que possam se valer com o intuito de fomentar suas atividades terroristas".
Em contrapartida, Barack Obama descreveu a queima do Alcorão como "um ato de extrema intolerância e preconceito" ao mesmo tempo chamando as violentas reações "desonrosas e deploráveis". A maioria esmagadora dos Membros do Congresso culpou Jones:
  • O líder da maioria no Senado Harry Reid (Democrata de Nevada) disse que iria "verificar a possibilidade" de introduzir uma resolução para condenar a queima do Alcorão.
  • O responsável em garantir a disciplina na legislatura, apontado pela maioria do Senado, Richard J. Durbin (Democrata de Illinois) sustentou que "esse pastor, com seu golpe publicitário do Alcorão, infelizmente pôs em risco a vida das nossas tropas e dos cidadãos desse país e de muitos inocentes".
  • O Senador Lindsey Graham (Republicano da Carolina do Sul) expressou o desejo de "encontrar um meio para que o povo [americano] seja passível de prestar contas", afirmando que a livre expressão é "uma grande ideia, mas estamos em guerra". (Para saber mais sobre a crítica à declaração desconcertante de Graham feita por Ann Barnhardt, clique aqui).
  • O presidente do Comitê de Inteligência da Câmara Mike Rogers (Republicano de Michigan) solicitou que todos os americanos "sejam cuidadosos e conscientes das suas responsabilidades como cidadãos e façam a sua parte no sentido de assegurar a volta dos nossos soldados p/ casa, sãos e salvos".
Afegãos queimam efígie do Pastor Jones
À luz do consenso, "culpar Jones" entre a elite, em resposta a uma pesquisa de opinião patrocinada pelo jornal de esquerda do Reino Unido, Guardian, foi uma surpresa. Questionados se "o pastor da Flórida, que queimou o Alcorão, é moralmente responsável pelas mortes dos membros da equipe da ONU nas demonstrações no Afeganistão", somente 45 porcento culparam Jones enquanto 55 porcento culparam os islamistas.
Na realidade alguns líderes muçulmanos americanos não islamistas concordam com esse sentimento. M. Zuhdi Jasser do American Islamic Forum para Democracia no Arizona culpou os líderes extremistas pelos assassinatos que, se valeram da queima do Alcorão como justificativa para a violência. O imã Shamshad Nasir, de uma mesquita Ahmadiyya na Califórnia, disse que a sua comunidade "rejeita assassinatos em nome da religião onde quer que seja, ainda que em nome das mais Sagradas Escrituras".
Conforme escrevi no último mês de setembro, quando Jones ameaçou queimar o Alcorão, a "violência se origina na lei islâmica, a Sharia, que insiste que o Islã e o Alcorão em especial, têm um status privilegiado". Essa insistência, assegurada no Ocidente desde 1989, quando o Aiatolá Khomeini emitiu um decreto contra Salman Rushdie por conta do seu romance, Os Versos Satânicos, não pode se acedida. O Islã é uma religião entre as demais, sem direito a status de superioridade. Na realidade desistir da reivindicação sobre a supremacia islâmica deverá ser o maior desafio à modernização do islamismo.
Por mais desagradável que possa parecer, o gesto de Jones é tanto legal quanto não violento. Ele não é responsável pelas mortes de 43 pessoas; a culpa é da ideologia repugnante e selvagem do islamismo. Quando irão os políticos dos Estados Unidos compreender esse fato fundamental e defender de forma resoluta os direitos civis dos cidadãos americanos? Criticar o Islã, de forma elegante ou não, é um direito constitucional. Aliás, se for de forma inteligente, é um imperativo civilizacional.
Atualização de 8 de abril de 2011: Por motivo de espaço, eu não mencionei acima o padrão de dois pesos e duas medidas: (1) o Alcorão é sacrossanto, mas a Bíblia serve para ser usada como papel higiênico, que eu discuti anteriormente em "Ablução com a Torá e com o Novo Testamento"; e (2) a vida e a propriedade muçulmanas são invioláveis enquanto não há restrições quanto à equivalência cristã, o que foi exposto por Raymond Ibrahim em "Destruir um Alcorão vs.Destruir Muitos Cristãos: O que é Pior?".

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sábado, fevereiro 19, 2011

DANIEL PIPES: A oportunidade do Egito

Mais uma vez Daniel Pipes analisa de forma minuciosa os acontecimentos do Egito e a nuvem de incerteza que ainda permanece: afinal como as coisas se encaminharão depois que se acalmou o clamor dos protestos de rua com a renúncia de Muabarak? E a indagação mais sombria recai sobre o futuro comportamento da Irmandade Muçulmana, organização tradicional do Egito que se tem esquivado de esclarecer os seus reais propósitos. Pipes também não se furta em fazer uma ácida crítica à desnorteada política externa de Hussein Obama, especialmente aquela voltada ao Oriente Médio. Por isso este artigo de Daniel Pipes, que também pode ser lido no original in english, merece uma atenta leitura porque se trata de análise acurada indo muito além do trivial comumente veiculado pela grande mída. Leiam:
Ainda que os acontecimentos no Egito tenham se desenrolado da melhor maneira possível, as perspectivas sobre o futuro permanecem incertas. A fase empolgante acabou, agora é hora das preocupações.
Comecemos com três notícias boas: Hosni Mubarak, o homem forte do Egito que parecia estar à beira de fomentar um desastre, felizmente renunciou. Os islamistas, que pressionariam o Egito na direção do Irã, tiveram um pequeno papel nos recentes eventos e permanecem longe do poder. E as forças armadas que, nos bastidores, desde 1952 governaram o Egito, é a instituição melhor equipada para adaptar o governo às exigências dos manifestantes.Agora, vamos aos problemas. As forças armadas em si representam o menor dos problemas.
No comando há seis décadas, causaram muita confusão. Tarek Osman, escritor Egípcio, demonstra de maneira eloquente em seu novo livro, Egypt on the Brink: From Nasser to Mubarak (Yale University Press) a rapidez do declínio na posição do Egito. Qualquer que seja o indicador escolhido, desde o padrão de vida até o poder de influência, o Egito de hoje fica aquém do seu antecessor monárquico. Osman compara o Cairo dos anos 50 do século passado à cidade "superpovoada, tipicamente de terceiro mundo" de hoje. Ele também se desespera sobre a maneira em que o país "que já foi marco de tranquilidade … tenha se tornado o solo mais fértil para geração de agressões do Oriente Médio".
A Irmandade Muçulmana representa o maior problema. Fundada em 1928, organização islamista líder no mundo, tem de longa data evitado a confrontação com o governo, esquivando-se em revelar sua ambição em realizar uma revolução islâmica no Egito. O presidente do Irã Mahmoud Ahmadinejad articulou a sua esperança a cerca da revolução, ao reivindicar que devido aos acontecimentos no Egito, "estava emergindo um novo Oriente Médio sem o regime sionista e sem a interferência dos Estados Unidos ". Em uma avaliação amarga, o próprio Mubarak se focou nesse mesmo perigo: "Vemos a democracia que os Estados Unidos lançaram no Irã, e em Gaza com o Hamas, e esse é o destino do Oriente Médio … extremismo e islamismo radical".
De sua parte, a administração dos Estados Unidos ingenuamente não expressou tais preocupações. Barack Obama minimizou a ameaça da Irmandade Muçulmana, chamando-a apenas de "uma facção no Egito", enquanto o diretor do Serviço Nacional de Informações, James Clapper, na realidade elogiou a irmandade com sendo "um grupo muito heterogêneo, consideravelmente secular, que desistiu da violência" que procura "a melhoria da política no Egito".
Esse contrassenso aponta para uma política dos Estados Unidos profundamente desordenada. Em junho de 2009, durante a revolução não concretizada contra o regime hostil do Irã, a administração Obama permaneceu calada, esperando com isso obter a boa vontade de Teerã. Mas com o Sr. Mubarak, um ditador amigo sob ataque, ela efetivamente adotou a impaciente "pauta da liberdade" de George W. Bush, apoiando a oposição. O Sr. Obama aparentemente só encoraja manifestações de rua contra o nosso lado.
Pressão americana, gradual e contínua, reconhecendo que o processo de democratização implica em uma vasta transformação da sociedade e não requer meses e sim décadas, é necessária para abrir o sistema.

O que espera o Egito, será que Irmandade Muçulmana tomará o poder?
Algo marcante, imprevisível e sem precedentes aconteceu nas últimas semanas nas ruas do Egito. Um movimento de massas sem líderes eletrizou um grande número de cidadãos comuns, assim como na Tunísia dias antes. Ele não dirigiu o ódio contra estrangeiros, não fez das minorias egípcias bodes expiatórios, nem endossou uma ideologia radical; em vez disso, exigiu resposabilização, liberdade e prosperidade. Informações chegadas a mim procedentes do Cairo levam a crer numa guinada em direção ao patriotismo, inclusão, secularismo e responsabilidade pessoal.
Para confirmar, veja essas duas pesquisas de opinião: Um estudo realizado em 2008 por Lisa Blaydes e Drew Linzer constatou que 60 porcento dos egípcios sustentam opiniões islamistas. Porém uma pesquisa do Pechter Middle East Poll da última semana constatou que apenas 15 porcento dos cairotas e alexandrinos "aprovam" a Irmandade Muçulmana e cerca de 1 porcento apóia um presidente da irmandade para o Egito. Outro indicador dessa mudança sísmica: a irmandade, em retirada, diminuiu suas ambições políticas, com Yusuf al-Qaradawi chegando a declarar que preservar a liberdade dos egípcios é mais importante do que implementar a lei islâmica.

Ninguém pode dizer nesse estágio inicial de onde veio essa revolução nas atitudes ou para onde está indo, mas ela é a feliz realidade de hoje. A liderança das forças armadas tem o peso da responsabilidade de guiá-la ao bom encaminhamento. Três homens em especial merecem ser observados de perto, o vice-presidente Omar Suleiman, o Ministro da Defesa Mohammed Hussein Tantawi e o Chefe do Estado-Maior Sami Hafez Enan. Logo veremos se a liderança das forças armadas aprendeu e amadureceu e, se compreendeu que continuar prosseguindo em busca de seus interesses egoístas levará a mais deterioração.

quarta-feira, fevereiro 16, 2011

DANIEL PIPES: Anoush Ehteshami e a Democracia no Egito

Mais um excelente artigo do respeitado expert em Oriente Médio e política internacional Daniel Pipes a respeito dos possíveis desdobramentos da dita 'revolução' egípcia que, por enquanto, não sinaliza claramente qual o rumo político e institucional que tomará a Nação. Concordo com a análise de Daniel Pipes e continuo temendo a nefasta ação do fanatismo muçulmano nesse país em que 95% de sua  população, dizem as estatísticas,  professa o credo de Maomé. Acresce a este fato uma notícia muito cabulosa. Os aiatolás iranianos comemoraram o movimento oposicionista egípcio enquanto reprimiram violentamente os protesto que acabam de ocorrer no Irã. Além disso, o Parlamento iraniano pediu a pena de morte para os opositores do regime. Portanto, faço minhas as palavras de Daniel Pipes e também antevejo que nos próximos 12 meses, pelo menos, nada de novo ocorrerá às margens do Nilo. (Read in english here) Leiam:
Anoush Ehteshami não deveria ter assumido a misssão de afirmar "que o Egito se tornará uma democracia em um ano" visto que, na realidade, compartilha com o meu ceticismo a cerca do surgimento da plena participação política num período de tempo tão curto. São cinco as suas dúvidas e circunspecções:

Para começar, defendeu a continuidade no poder do regime e suas instituições, observando que "a máquina do estado continua infiltrada por membros do partido e pessoas leais a Mubarak", enquanto "o grande establishment responsável pela segurança permanece inteiramente controlado pela elite governante criada por Mubarak". A partir disso, ele conclui que "o fim eminente desse regime e desse presidente pode ter sido exagerado". Obviamente, isso sustenta o meu raciocínio.

Segundo, o Sr. Ehteshami não prevê nada mais esperançoso para o futuro do Egito do que "poderia ser vagamente referenciado como o caminho repleto de solavancos rumo à democratização". Esse termo vago, explica ele, significa (1) uma expansão da base política, (2) alargamento do espaço público e (3) infiltração de forças reformistas no regime. Não entendo o que significa tudo isso – contudo não se encaixa na descrição convencional de democracia.

Terceiro, ele prevê o aparecimento de uma ampla coalizão – em seguida seu fracasso imediato, levando à consolidação de partidos representando enfoques islamistas, nacionalistas, liberais, pan-árabes e seculares. A competição entre eles admite, "será longa e dolorosa" – adjetivos que indicam que o processo não estará concluído em doze meses nem tampouco será democrático.

Quarto, o mais excêntrico de todos, conforme sustenta o Sr. Ehteshami as forças econômicas impulsionarão o país em direção à democracia: "O imperativo econômico irá gerar suas próprias pressões contra o governo e o ímpeto em busca de amplas reformas econômicas e de transparência proporcionarão mais energia a favor das forças pró-reformistas". Diga isso aos chineses que estão aturando três décadas de governo autocrático acompanhado de expansão econômica.

A partir dessa mistura de previsões vem a conclusão menos eloquente ainda de que em um ano, "o Egito estará se tornando uma democracia". Bem, "se tornando uma democracia" não é a proposta: só para lembrar, nosso tópico é se "o Egito se tornará uma democracia". O Sr. Ehteshami parece incapaz de realmente fazer tal previsão.

Em suma, ambos concordamos que após um "longo e doloroso" ano, o Egito estará, na melhor das hipóteses "se tornando uma democracia". Agradeço a ele por me ajudar a defender o ponto de vista de que o Egito permanecerá autocrático nos próximos doze meses.

sexta-feira, fevereiro 11, 2011

DANIEL PIPES: ISLÃ E DEMOCRACIA (ANÁLISE SOBRE POSSÍVEIS DESDOBRAMENTOS DA CRISE EGÍPCIA)

Transcrevo após este prólogo artigo de Daniel Pipes, que é uma autoridade nos assuntos respeitantes ao Oriente Médio. Já postei mais abaixo outros artigos de Pipes analisando a crise egípcia. Este artigo foi editado creio que ontem quinta-feira, portanto um dia antes da queda do ditador Hosny Mubarak, ocorrida nesta sexta-feira.
A verdade é que o grosso do noticiário da grande imprensa brasileira e internacional é insuficiente quando não resvala para uma visão esquerdóide e otimista quando se sabe que a realidade não é bem essa que certo jornalismo costuma propalar. Dei uma olhada também há pouco na Globo News e ouvi muita cascata e pouca informação que permita estabelecer como razoável margem de segurança as bases de uma análise mais consistente. Quando se tem um imprensa que ouve a opinião do Top Top Garcia comprova-se que as redações estão controladas pela idiotia esquerdista anti-americana e antissemita.
O que é certo é que neste momento qualquer previsão sobre o destino institucional e político do Egito é temerária. O único dado concreto é que o Egito, como a maioria dos países árabes é dominado pelo fanatismo islâmico que de democrata não tem nada. Concordo por isso com as análises que vêm sendo formuladas por Daniel Pipes, como esta que transcrevo. A tradução para o português é de  Joseph Skilnik. O texto no original, intitulado 'Islã e democracia -Muito trabalho pela frente', também pode ser acessado no original em inglês  aqui: in english. Eis o artigo:
Com as furiosas manifestações contra o regime no Egito e a possibilidade de um novo governo liderado ou com a participação da Irmandade Muçulmana, muitos estão se perguntando se o islamismo é compatível com a democracia. A resposta é sim, potencialmente, mas requererá muito trabalho para se tornar realidade.

No momento a realidade está longe de ser animadora, posto que a tirania aflige a maioria dos países muçulmanos. Frederic L. Pryor do Swarthmore College concluiu em uma análise realizada no Middle East Quarterly em 2007 que, salvo algumas exceções, o "islamismo está associado com menos direitos políticos."Saliba Sarsar avaliou a democratização em 17 países de língua árabe e, escrevendo na mesma revista, percebeu que "entre 1999 e 2005… na maioria dos países não somente houve falta de progresso como também a reforma se deteriorou por todo o Oriente Médio".

Quão fácil seria partir desse padrão lúgubre e concluir que a própria religião do Islã deve ser a causa do problema. A antiga falácia post hoc, ergo propter hoc ("depois disso, logo, por causa disso") sustenta essa conclusão simplista. Na realidade, a situação difícil em que as ditaduras, a corrupção, a crueldade e a tortura se encontram hoje resultam mais da evolução histórica específica do que do Alcorão ou de outras escrituras sagradas.

Há meio milênio, não havia democracia em lugar algum; o fato dela ter aparecido na Europa Ocidental foi consequência de muitos fatores, inclusive na esfera da herança Greco-Romana, provocando tensões do gênero "Dê a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus", específicas ao cristianismo, geografia, clima e progressos chave nos campos da tecnologia e da ciência política. Nada houve de predestinado no que diz respeito a Grã-Bretanha e depois os Estados Unidos terem liderado o caminho para a democracia.

Posto de outra forma: é claro, o Islã é antidemocrático em espírito, mas também o eram todas as outras religiões e sociedades pré-modernas.

Assim como o cristianismo passou a fazer parte do processo democrático, o mesmo poderá acontecer ao islamismo. Essa transformação certamente será violenta e exigirá tempo. A evolução da Igreja Católica, de força reacionária no período medieval em democrática hoje, evolução ainda não inteiramente concluída, está em desdobramento há 700 anos. Uma vez que demorou tanto tempo para uma instituição estabelecida em Roma, por qual razão deveria uma religião de Meca, repleta de escrituras sagradas singularmente problemáticas, ser mais rápida ou menos controversa?

Para o Islã incentivar a participação política implicaria numa guinada gigantesca no que tange a abordarem, especialmente com respeito a Sharia, seu código de leis. Elaborada há cerca de um milênio em circunstâncias quase tribais, operando em um éthos extremamente diferente do atual, o código contém uma gama de elementos excepcionalmente inaceitáveis à suscetibilidade moderna, incluindo ideias antidemocráticas a respeito da vontade de Deus prevalecer sobre a do povo, jihad militar como meio legítimo para expandir as leis dos muçulmanos, superioridade dos muçulmanos sobre os não muçulmanos e a dos homens sobre as mulheres.

Em suma, não é possível conciliar a Sharia conforme compreendida classicamente com a vida moderna em geral e com a democracia em particular. Para os muçulmanos, alcançar a participação política significa rejeitar os aspectos públicos da lei em sua totalidade – como Atatürk fez na Turquia – ou reinterpretá-los. O pensador sudanês Mahmud Muhammad Taha apresentou um exemplo de reinterpretação ao reler as escrituras sagradas islâmicas e de maneira extensiva eliminou as leis islâmicas perniciosas.

O Islã continua mudando, portanto é um erro insistir que a religião deve ser o que sempre foi. Conforme coloca Hassan Hanafi da Universidade do Cairo, o Alcorão "é um supermercado, onde se leva o que se deseja, e se deixa o que não se deseja".

Atatürk e Taha à parte, os muçulmanos mal começaram a longa e árdua jornada para modernizar o Islã. Além das dificuldades inerentes de se reformar uma ordem do século VII com o intuito de ajustá-la ao éthos do século XXI dominado pelo Ocidente, o movimento islamista que hoje domina a vida intelectual muçulmana, catalisa precisamente na direção oposta à democracia. Em vez disso, luta para reativar a Sharia em sua totalidade e aplicá-la com extremo rigor, sem levar em conta o desejo da maioria.

Alguns islamistas condenam a democracia como herética e uma traição aos valores islâmicos e, os mais inteligentes, percebendo sua enorme popularidade, adotaram a democracia como mecanismo para tomar o poder. Seu sucesso em um país como a Turquia não transforma os islamistas em democratas (i.e., estarem dispostos a ceder o poder) e sim demonstra sua disposição em adotar qualquer tática que lhes traga o poder.

Sim, com muito esforço e tempo, os muçulmanos poderão ser tão democráticos quanto os ocidentais. Mas nesse momento, são os menos democráticos dos povos e o movimento islamista apresenta um enorme obstáculo à participação política. No Egito como em qualquer outro lugar, meu otimismo teórico, em outras palavras, está temperado com um pessimismo baseado nas realidades presentes e futuras.


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terça-feira, fevereiro 08, 2011

DANIEL PIPES: POR QUE O EGITO NÃO SE TORNARÁ DEMOCRÁTICO DE IMEDIATO?

A revista Economist convidou Anoush Ehteshami da Universidade de Durham e o expert em Oriente Médio, escritor, articulista e ensaísta Daniel Pipes a abordarem a moção: "O Egito irá se tornar uma democracia em um ano". A resposta de Ehteshami a favor pode ser lida aqui. A resposta de Daniel Pipes segue após este prólogo e também pode ser lida AQUI no original em inglês.

Embora refira-se à questão Egípcia, o texto de Daniel Pipes demonstra de forma sucinta, porém cabal, o que é a democracia. Serve para os egípcios, os islâmicos e também, de maneira especial, para os celerados do PT e demais vagabundos como Chávez, Morales e et caterva que prosseguem na insana tarefa de solapar a democracia em todo o território latino-americano. E o fazem - pasmem - em nome democracia! A tradução para o português é de Joseph Skilnik. Leiam:

Duas razões me levam a afirmar que a República Árabe do Egito não irá se vangloriar em um ano por possuir um sistema político democrático.
Logotipo da Irmandade: democracia?
Primeiro, democracia é mais do que realizar eleições; supõe o desenvolvimento da sociedade civil, denotando instituições complexas e contrárias à obviedade, tais como o estado de direito, judiciário independente, diversos partidos políticos, direitos das minorias, associações voluntárias, liberdade de ir e vir e de reunião. Democracia é um hábito aprendido, não instintivo, que requer mudanças atitudinais profundas tais como cultura de comedimento, compartilhamento de valores, respeito pela diferença de opinião, conceito de oposição leal e senso de responsabilidade cívica.

Além disso, a necessidade da prática de eleições para que seja aperfeiçoada. Em condições ideais, o país inicia elegendo no nível municipal, passando para o nacional, começa com o poder legislativo passando para o executivo. Simultaneamente, a imprensa precisa obter liberdade total, os partidos políticos deverão amadurecer, o parlamento deverá conquistar autoridade às custas do executivo e os juízes deverão adjudicar entre si.

Não é possível que tal transformação da sociedade aconteça em meses ou até anos; registros históricos mostram que leva décadas para que seja implementada em sua plenitude. É fora de questão que um Egito, com mínima experiência em democracia, possa reunir o número suficiente desses componentes em doze meses a ponto de estabelecer uma ordem democrática completa.

Segundo, qualquer cenário que venha a ocorrer, a democracia não está prestes a ser implementada.

Se Hosni Mubarak continuar no poder, improvável, porém possível, ele será mais tirano que nunca. Pelo que mostram suas ações nos últimos dias, ele não sairá tranquilamente.

Se as forças armadas se estabelecerem no poder de maneira mais direta do que o faziam nos bastidores desde o coup d'état de 1952, Omar Suleiman, o recém nomeado vice-presidente, aparentemente se tornará presidente. Ele fará mudanças no sistema, eliminando os abusos mais evidentes da era Mubarak, mas fundamentalmente sem oferecer aos egípcios uma voz no regime que os governa. Argélia 1992, onde o governo apoiado pelas forças armadas que reprimem os islamistas, apresenta um precedente.

Se os islamistas chegarem ao poder, irão fomentar a revolução em consonância com a doutrina do Irã de 1979, segundo a qual a crença na soberania de Deus prevalece sobre a participação política das massas. A natureza inerentemente anti-democrática do movimento islamista não deve ser obscurecida pela disposição dos islamistas em usar as eleições para chegar ao poder. Nas palavras prescientes de uma autoridade americana em 1992, os islamistas apresentam um programa de "uma pessoa, um voto, uma vez".

Qualquer que seja o ângulo – abstrato ou específico – os egípcios estão diante de uma situação complicada, sem a esperança imediata de escolher seus líderes.

quarta-feira, fevereiro 02, 2011

DANIEL PIPES: Violentos protestos no Egito [A análise de um expert em Oriente Médio]

Transcrevo na íntegra análise de Daniel Pipes, expert em questões relacionadas ao Oriente Médio, sobre a rebelião que vem ocorrendo no Egito. A tradução é assinada por Joseph Skilnik. Não tenho me ocupado em comentar a respeito porque noto insufiência nas informações veiculadas pela grande mídia internacional. Neste caso, o artigo de Daniel Pipes, conceituado analista internacional, joga alguma luz sobre a crise egípcia e seus possíveis desdobramentos. O original em inglês está aqui: Turmoil in Egypt. Vale a pena ler:
Conforme o já muito antecipado momento de crise ter chegado ao Egito e rebeliões populares terem abalado governos por todo o Oriente Médio, o Irã encontra-se mais do que nunca no ponto central da região. Seus governantes islamistas estão prestes a dominar a região. Porém é difícil as revoluções terem sucesso e eu imagino que os islamistas não irão atingir um avanço extraordinário no Oriente Médio e que Teerã não irá surgir como o mais influente. A seguir apresento o que me leva a essa conclusão:
Gen. Omar Suleiman
Um eco da revolução iraniana: Ao chegar ao poder em 1979, o Aiatolá Ruhollah Khomeini procurou espalhar a insurreição islamista a outros países, mas fracassou praticamente em todas. Parece que três décadas tiveram que passar antes que a imolação de um vendedor em uma obscura cidade na Tunísia, pudesse acender a conflagração à qual Khomeini aspirava e que as autoridades iranianas ainda almejam.

Parte de uma guerra fria no Oriente Médio: O Oriente Médio tem por anos sido dividido em dois grandes blocos envolvidos em uma guerra fria pela conquista da influência. O bloco de resistência liderado pelo Irã inclui a Turquia, Síria, Gaza e o Catar. O bloco do status quo liderado pela Arábia Saudita inclui o Marrocos, Argélia, Tunísia, Egito, Cisjordânia, Jordânia, Iêmen e os emirados do Golfo Pérsico. Observe que nos últimos dias o Líbano está passando do status quo para a resistência e que os tumultos estão ocorrendo somente nas regiões do status quo.

A situação peculiar de Israel:
Os líderes israelenses estão calados e a quase irrelevância de Israel nesse aspecto enfatiza a centralidade iraniana. Embora Israel tenha muito a temer com os ganhos iranianos, eles simultaneamente realçam o estado judeu como uma ilha de estabilidade e o único aliado confiável do Oriente Médio.

Falta de ideologia: O uso de slogans e de teorias de conspiração que dominam o discurso no Oriente Médio estão visivelmente ausentes das multidões reunidas em frente a instituições governamentais exigindo o fim da estagnação, arbitrariedade, corrupção, tirania e tortura.

Forças armadas vs. Mesquita:
Os recentes acontecimentos confirmam que as mesmas duas forças, as forças armadas e os islamistas, dominam cerca de 20 países do Oriente Médio: as forças armadas posicionam a força bruta e os islamistas fornecem a visão. Há exceções – a esquerda vibrante na Turquia, facções étnicas no Líbano e no Iraque, democracia em Israel, controle do Irã pelos islamistas – mas aquele padrão se mantém.

Iraque: O país mais volátil da região, o Iraque, está ostensivamente ausente das manifestações pelo fato da sua população não estar enfrentando décadas de autocracia.

Um golpe militar?
Os islamistas desejam repetir o sucesso no Irã aproveitando-se dos tumultos com o intuito de tomarem o poder. A experiência da Tunísia merece um exame minucioso em busca de um padrão que poderá se repetir em outro lugar. Lá a liderança militar aparentemente concluiu que o homem forte, Zine El Abidine Ben Ali, estava saindo muito caro – especialmente com a gritante corrupção da família da sua esposa – para ser mantido no poder, de modo que o expulsaram e além disso emitiram um mandado de captura internacional para a sua detenção e da sua família.

Feito isso, praticamente toda a antiga guarda permanece no poder, com o mais graduado oficial militar, Chefe do Estado-Maior Rachid Ammar, aparentemente tendo substituído Ben Ali como o homem mais influente do país. A velha guarda espera que administrar ajustes finos ao sistema, conceder mais direitos civis e políticos irá ser o suficiente para se manter no poder. Se essa artimanha der certo, a aparente revolução de meados de janeiro irá terminar como um mero coup d'état.

Esse cenário poderia se repetir em qualquer lugar, especialmente no Egito onde os soldados dominam o governo desde 1952 e tencionam manter o seu poder contra a Irmandade Muçulmana que eles têm reprimido desde 1954. A nomeação de Omar Suleiman pelo homem forte Sr. Hosni Mubarak termina com as pretensões dinásticas da família Mubarak e aumenta a perspectiva da renúncia de Mubarak em favor de um governo militar direto. 


De maneira geral, eu aposto no modelo de mais continuidade do que mudança, que surgiu na Tunísia até agora. O governo mão de ferro será um tanto menos rigoroso no Egito e em outros lugares mas os militares em última análise permanecerão os mais influentes.

Política externa dos Estados Unidos: O governo dos Estados Unidos tem um papel vital no que se refere a ajuda aos estados do Oriente Médio para que passem da tirania à participação política sem que os islamistas se apoderem do processo. George W. Bush teve a ideia certa em 2003 ao pedir democracia, mas arruinou o esforço exigindo resultados imediatos. Inicialmente Barack Obama reverteu a velha política de congraçamento com tiranos; agora ele alinha-se cegamente com os islamistas contra o Sr. Mubarak. Ele deveria imitar Bush, porém com melhores resultados, compreendendo que a democratização é um processo que leva décadas, que requer a fixação de ideias que se contraponham às ideias intuitivas sobre eleições, liberdade de expressão e estado de direito.

quinta-feira, janeiro 06, 2011

DANIEL PIPES: Abertura na Arábia Saudita?

Expert em Oriente Médio, o escritor, ensaísta e colunista internacional Daniel Pipes fala sobre o caldeirão do poder que ferve em fogo brando na Arábia Saudita. "Em suma - observa Pipes -  os árabes estão em pleno debate, com o curso futuro da reforma ainda imprevisível. A elite e a opinião pública não apenas desempenham um papel, mas para complicar as coisas muito depende da peculiaridade, da longevidade e da personalidade – em especial, por quanto tempo Abdullah, 86, permanecerá no poder e se seu meio irmão, príncipe herdeiro, Sultão bin Abdulaziz, 82, irá sucedê-lo." Vale a pena ler o artigo aqui na íntegra com tradução de Josephe Skinilk. Read the article in the original English 

No dia 1 de janeiro de 1996, Abdullah bin Abdulaziz se tornou regente e soberano de fato da Arábia Saudita. Esse 15º aniversário que acontece nessa semana apresenta a oportunidade de se revisar as mudanças no reino sob a sua liderança e avaliar para onde está indo.

Abdullah, o rei, 86 anos
O seu país talvez seja o mais incomum e opaco do planeta, um lugar sem uma casa pública de cinema, onde as mulheres estão proibidas de dirigir, onde os homens vendem lingerie, onde um simples botão do sistema de auto destruição pode destruir a infraestrutura do petróleo e onde os soberanos rejeitam até a pátina da democracia. Em seu lugar, eles desenvolveram alguns mecanismos com o objetivo de se manterem no poder, extremamente originais e eficientes.
Três atributos definem o regime: o controle das cidades de Meca e Medina, a homologação da interpretação Wahhabi do Islã e o controle da maior reserva de petróleo do mundo. O Islã define a identidade, o Wahhabismo inspira ambições globais, a riqueza do petróleo financia o empreendimento.
De forma mais intensa, riqueza sem avareza permite aos sauditas lidarem com a modernidade do seu próprio modo. Desprezam paletó e gravata, excluem as mulheres da área de trabalho e até esperam substituir o Horário do Meridiano de Greenwich pelo Horário do Meridiano de Meca.
Não faz muitos anos, a principal contenda no reino era entre a versão monárquica e a versão talibã do Wahhabismo – a interpretação extremada e a versão fanática do Islã. Mas hoje, graças em grande parte aos esforços de Abdullah em "domar o fervor Wahhabi", o mais retrógrado dos países deu alguns passos cautelosos para ingressar no mundo moderno. Esses esforços têm muitas dimensões, desde a educação infantil até os mecanismos para a escolha de líderes políticos, porém, provavelmente, a mais crucial é a luta entre os ulemás, homens versados em leis e religião muçulmana, entre reformistas e linhas dura.
Os termos arcanos dessa disputa tornam-na difícil de ser compreendida. Felizmente, Roel Meijer, holandês especialista em Oriente Médio, apresenta um guia especializado quanto aos argumentos que ocorrem no reino, em seu artigo "Reforma na Arábia Saudita: O Debate Sobre a Segregação Entre os Sexos". Ele demonstra como a mistura dos sexos (ikhtilat em árabe) inspira o debate central sobre o futuro do reino e de que maneira esse debate tem evoluído.
O rigor atual com respeito à separação entre os sexos, observa ele, reflete menos os costumes antigos do que os sucessos do movimento Sahwa na esteira de dois eventos traumáticos em 1979 – a revolução iraniana e a tomada da Grande Mesquita de Meca por radicais do estilo Osama bin Laden.
Abdulaziz, o herdeiro, 82 anos
Quando Abdullah se tornou formalmente monarca em meados de 2005, introduziu solenemente um afrouxamento do que os críticos chamam de apartheid dos sexos. Ocorreram dois eventos importantes em 2009 no que tange maior ikhtilat: a mudança dos funcionários do alto escalão do governo ocorrida em fevereiro e a inauguração da Universidade de Ciência e Tecnologia Rei Abdullah (conhecida como KAUST) em setembro, com classes ostentosamente mistas e até com danças.
Seguiu-se então o debate sobre o ikhtilat, com entrevero entre os membros da casa real, autoridades políticas, ulemás e intelectuais. "Embora a posição das mulheres tenha melhorado desde o 11 de setembro, o ikhtilat demarca as linhas da batalha entre os reformistas e os conservadores [i.e., linhas dura]. Qualquer tentativa em diminuir a sua aplicação é considerada um ataque direto à posição dos conservadores e do próprio Islã".
Meijer conclui sua pesquisa sobre o debate ao denotar que "é extremamente difícil determinar se as reformas estão tendo sucesso e se os liberais ou os conservadores estão obtendo vitórias. Embora a tendência geral seja favorável aos reformistas , a reforma é gradual, hesitante, duvidosa e encontra forte resistência".
O estado sob Abdullah promoveu um Islã mais aberto e mais tolerante, mas argumenta Meijer, "fica óbvio, a partir do debate do ikhtilat, que a batalha não foi vencida. Muitos sauditas estão fartos com a desenfreada interferência das autoridades religiosas em suas vidas e até se pode falar de um movimento contra o clero. Contudo, os liberais se expressam em uma linguagem alienígena ao mundo do Wahhabism de caráter oficial e à maioria dos sauditas, tornando-se muito difícil influenciá-los".
Em suma, os árabes estão em pleno debate, com o curso futuro da reforma ainda imprevisível. A elite e a opinião pública não apenas desempenham um papel, mas para complicar as coisas muito depende da peculiaridade, da longevidade e da personalidade – em especial, por quanto tempo Abdullah, 86, permanecerá no poder e se seu meio irmão, príncipe herdeiro, Sultão bin Abdulaziz, 82, irá sucedê-lo.
A Arábia Saudita, sendo um dos países muçulmanos mais influentes do mundo, os riscos envolvidos são muito altos, não somente dentro do reino mas também para o Islã e para os muçulmanos em geral. Esse debate merece nossa total atenção.

terça-feira, dezembro 14, 2010

DANIEL PIPES: Ducha de água fria no WikiLeaks

O escritor e ensaísta americano Daniel Pipes, expert em Oriente Médio e Islã, revela a partir de um dos 'cables' vazados pelo WikiLeaks, como a diplomacia árabe-islâmica usa a estratégia da trapaça, ou seja, para os diplomatas ocidentais diz uma coisa e para o seu público interno outra completamente diferente e voltada a açular o estado de beligerância permanente contra o Ocidente e, particularmente, contra os Estados Unidos, Israel e o povo judeu. Vale a pena ler o artigo denso em informações e links. Leiam:
De todas as revelações do WikiLeaks, a mais fascinante é a que revela que vários líderes árabes exortaram o governo americano a atacar as instalações nucleares iranianas. Mais notoriamente, o Rei Abdullah da Arábia Saudita solicitou a Washington que "cortasse fora a cabeça da cobra". De acordo com o consenso quase universal, essas declarações desmascaram a política dos sauditas e de outros políticos.
Mas, será que é necessariamente assim? Há duas razões para dúvidas.
Primeira, conforme observa de forma astuta Lee Smith, os árabes poderiam meramente estar dizendo aos americanos o que eles acreditam que os americanos queiram ouvir: "Nós sabemos o que os árabes dizem aos diplomatas e aos jornalistas a respeito do Irã", escreve ele, "mas nós não sabemos o que eles realmente pensam sobre o seu vizinho persa". Seus apelos poderiam fazer parte de um processo de diplomacia, que envolve espelhar os receios e desejos do seu aliado como se fossem seus próprios. Assim sendo, quando os sauditas alegam que os iranianos são seus inimigos mortais, os americanos tendem a aceitar sem reservas esse compartilhamento de interesses; contudo, sustenta Smith, "as palavras proferidas pelos sauditas aos diplomatas americanos não têm a intenção de nos fornecer uma janela transparente adentro do pensamento da Casa Real e sim para nos manipular com o objetivo de servir aos interesses da Casa de Saud". Como podemos saber se eles estão dizendo a verdade apenas baseando-nos no fato de gostarmos do que eles estão dizendo?
Nasser,notório trapaceiro
Segunda, como julgar a discrepância entre o que os líderes árabes dizem aos seus interlocutores Ocidentais sotto voce e o que eles alardeiam para as suas massas? Observando o costume a partir dos anos 30 do século passado, eu notei em uma pesquisa realizada em 1993 que sussurros têm menos importância do que gritos: "Pronunciamentos públicos contam mais do que comunicações privadas. Nenhuma das duas fornece um guia infalível, pelo fato dos políticos mentirem tanto em público quanto em particular, mas o primeiro prevê melhor as ações que o segundo".
O conflito árabe israelense, por exemplo, teria acabado há muito tempo se fossemos acreditar nas confidências relatadas aos Ocidentais. Veja o exemplo de Gamal Abdel Nasser, o homem forte do Egito de 1952 a 1970, que foi incontestavelmente o político que arrastou Israel para a permanente obsessão das ações políticas do Oriente Médio.
Segundo Miles Copeland, agente da CIA que tinha ligação com Abdel Nasser, o presidente egípcio considerava a questão palestina "irrelevante". Contudo, em público Abdel Nasser promovia de forma incessante o seu programa antissemita, gerindo-o de tal maneira a se tornar o líder árabe mais poderoso da sua era. Suas confidências a Copeland, em outras palavras, acabaram se mostrando inteiramente ludibriantes.
O mesmo padrão se aplica às peculiaridades. Ele falava em particular com diplomatas Ocidentais sobre a sua disposição em negociar com Israel; mas ao discursar para o mundo, rejeitava a própria existência do estado judeu bem como qualquer acordo com ele. Por exemplo, após a guerra de 1967, Abdel Nasser sinalizou secretamente aos americanos sua disposição em assinar um acordo de não beligerância com Israel "com todas as suas consequências", enquanto que publicamente rejeitava negociações e insistia que "Aquilo que foi conquistado pela força será recuperado pela força". A declaração pública, como de costume, definia a sua real política.
Os gritos de Abdel Nasser não só ofereciam uma orientação mais precisa sobre suas ações do que seus sussurros, como ele próprio admitiu tacitamente, dizendo a John F. Kennedy que "alguns políticos árabes estavam fazendo declarações públicas hostis quanto à Palestina e em seguida contatavam o governo americano para suavizar sua aridez ao expor que suas declarações eram dirigidas ao consumo árabe local". Desse modo Abdel Nasser descrevia com precisão seu próprio comportamento.
Arafat: mestre da empulhação
Contrariamente, ao falarem em particular, não aos Ocidentais e sim aos seus compatriotas, os líderes árabes às vezes revelavam a verdade. De maneira memorável, o líder palestino Iasser Arafat, assinou em público os Acordos de Oslo em 1993 reconhecendo Israel, mas expressou suas verdadeiras intenções em particular quando apelou aos muçulmanos em uma mesquita na África do Sul "a virem e lutarem e a iniciarem a jihad para libertar Jerusalém".
É intuitivo privilegiar o confidencial sobre o manifesto e o privado sobre o público. Entretanto, a política do Oriente Médio mostra repetidamente que se sai melhor aquele que lê os comunicados da imprensa e ouve os discursos do que os que confiam nos telegramas diplomáticos. Opiniões comunicadas confidencialmente podem ser mais sinceras, mas como observa Dalia Dassa Kaye da Rand Corporation", o que os líderes árabes dizem às autoridades dos Estados Unidos e o que eles podem fazer nem sempre bate". As massas ouvem as diretrizes; as autoridades Ocidentais de alto nível ouvem a sedução.
Essa regra prática explica porque observadores distantes frequentemente vêem o que a diplomacia e os jornalistas próximos não conseguem enxergar. Isso também levanta dúvidas sobre a utilidade da avalanche de dados do WikiLeaks. No final, ele pode nos atrapalhar mais do que esclarecer sobre o que sabemos da política dos árabes. Tradução: Joseph Skilnik READ in english


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sexta-feira, novembro 12, 2010

SURGE NA ALEMANHA NOVO PARTIDO 'A LIBERDADE', MAS SUA FUNDAÇÃO TEVE QUE SER REALIZADA EM SEGREDO POR CAUSA DA PATRULHA POLITICAMENTE CORRETA

Transcrevo na íntegra, após este prólogo, o importantíssimo artigo de Daniel Pipes, publicado no National Review Online, dia 2 de Novembro de 2010, a respeito do nascimento de um novo partido político na Alemanha: "A Liberdade". Logo no início de seu escrito, Pipes faz um observação que dá a medida exata do que ocorre na Europa deste início do século XXI e, particularmente na Alemanha, sob o domínio do pensamento politicamente correto que abriga a estupidez multiculturalista e que, no seu altar macabro, imola os valores da civilização ocidental abençoando, sem qualquer pejo, o islamismo.

Tanto é que a reunião de fundação desse um partido que defende a democracia, apóia Israel e os valores da civilização ocidental foi cercada de todos os cuidados e de absoluto segredo. Isto parece um absurdo ou simples piada, já que se passou agora há pouco na Alemanha, um país democrático. O episódio em si mesmo demonstra que as liberdades na Alemanha já foram corroídas pela ação nefasta do avanço do islamismo.

Este artigo de Daniel Pipes pode ser lido no seu site também no original em inglês. O título é: O Partido da Liberdade na Alemanha se Junta do Desafio. Ei-lo, como segue, na íntegra. Não deixe de ler: 

Um novo partido político alemão, Die Freiheit (A Liberdade), teve a sua reunião inaugural em 28 de outubro em Berlim. Eu estava na cidade, então sua liderança me convidou, como o único não membro do partido nascente, a testemunhar e relatar sobre a fundação de sua assembléia constituinte.

Lembrando de como as liberdades foram corroídas na Europa nessa época de terror islamista, um partido político que resiste à islamização e apóia Israel não pode surgir em plena luz do dia. Posto isso, assim como os outros 50 presentes, fiquei sabendo da hora e local do evento um pouco antes do seu início. Além disso, os organizadores estavam disfarçados; a direção só tinha conhecimento da eleição de um conselho diretor de uma empresa com um nome inofensivo. Por razões de segurança, ainda não posso mencionar o nome do hotel.

Muito tempo teve que ser dedicado ao legalismo necessário para registrar um partido político na Alemanha: registro de comparecimento, contagem de votos, explanação de procedimentos organizacionais, enumeração das etapas para participar das eleições de Berlim em setembro de 2011 e os administradores eleitos, incluindo o presidente, René Stadtkewitz, 45. De ascendência Alemã Oriental, é membro do parlamento de Berlim que pertenceu ao partido conservador União Democrata Cristã, ora posição, até a sua expulsão no mês passado por receber publicamente o político holandês Geert Wilders. 

Para mim, o que mais interessava era o resumo verbal da política do partido e a distribuição do Grundsatzprogramm ("Programa Básico") de 71páginas expondo, em detalhes, as posições do partido. Stadtkewitz explicou a necessidade de um novo partido alemão tomando como base que, "Os partidos já consolidados, infelizmente, não estão prontos para se posicionarem de forma clara e, em vez disso abandonam o povo a sua própria sorte". O programa não mede palavras nem pensa pequeno. Logo no parágrafo de abertura declara que "A civilização ocidental, que por séculos lidera o mundo, enfrenta uma crise existencial".

O novo partido, cujo slogan é "o partido para mais liberdade e democracia", fala com toda a franqueza sobre o Islã, islamismo, lei islâmica e islamização. Começando com o insight, "O Islã não é somente uma religião, como também uma ideologia política com seu próprio sistema legal", o partido exige um exame minucioso dos imãs, mesquitas e das escolas islâmicas, uma avaliação das organizações islâmicas para garantir que elas respeitem as leis alemãs e condena os esforços para a construção de uma estrutura legal paralela baseada na Sharia. Sua análise convincentemente conclui o seguinte: "Nos opomos, com todas as nossas forças, à islamização do nosso país".

O Freiheit apóia firmemente Israel, chamando-o de "o único estado democrático do Oriente Médio. Portanto é o posto avançado do mundo Ocidental na esfera árabe. Todos os países democráticos devem demonstrar o maior interesse em que Israel viva com auto-determinação e segurança. Nos comprometemos explicitamente em defender o direito de Israel existir, o que não está aberto a discussões".

Por mais claro que estejam esses parágrafos, como também a rejeição da acessão turca à União Européia, eles englobam apenas cerca de 2 porcento do Programa Básico, que aplica, de modo geral, a política e os valores tradicionais Ocidentais à vida política alemã. Seus tópicos incluem o povo alemão, democracia direta, a família, educação, o local de trabalho, a economia, energia, o meio ambiente, saúde e assim por diante. Oferecer uma plataforma ampla faz sentido, ajustando o programa de anti-islamização em um menu repleto de diretrizes. 

Apesar disso, é claro, a cobertura da imprensa sobre a fundação, enfatizou a posição do Freiheit em relação ao Islã, definindo-o estritamente como um "partido anti-Islã".

A criação do Freiheit provoca duas observações: Primeiro, mesmo se encaixando no padrão dos partidos emergentes europeus cujo enfoque é o Islã, além de ser o ponto central das suas missões, difere dos outros quanto as suas perspectivas mais amplas. Enquanto o PVV de Wilder responsabiliza o Islã por quase todos os problemas da sociedade, o Freiheit, além de se opor "com todas as nossas forças a islamização do nosso país", têm muitos outros temas em seu programa.

Segundo, a Alemanha está visivelmente atrás da maioria dos países europeus, com uma grande população muçulmana, que ainda não gerou um partido que se posicionasse contra a islamização. Não foi por falta de tentativas; as anteriores não deram certo. O final de 2010 pode ser um momento auspicioso para o lançamento de um partido desses, dada a imensa controvérsia na Alemanha a respeito do livro de Thilo Sarrazinlamentando a imigração muçulmana, seguido pela declaração da Chanceler Angela Merkel de que o multiculturalismo "fracassou". Parece que está ocorrendo uma mudança no estado de ânimo.

O partido Freiheit foi concebido como um esforço oriundo de uma tendência predominante, séria e construtiva para lidar com um problema extremamente complexo e de longo prazo. Se der certo, poderá mudar a política do país mais influente da Europa.

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