Transcrevo após este prólogo artigo de Daniel Pipes, que é uma autoridade nos assuntos respeitantes ao Oriente Médio. Já postei mais abaixo outros artigos de Pipes analisando a crise egípcia. Este artigo foi editado creio que ontem quinta-feira, portanto um dia antes da queda do ditador Hosny Mubarak, ocorrida nesta sexta-feira.
A verdade é que o grosso do noticiário da grande imprensa brasileira e internacional é insuficiente quando não resvala para uma visão esquerdóide e otimista quando se sabe que a realidade não é bem essa que certo jornalismo costuma propalar. Dei uma olhada também há pouco na Globo News e ouvi muita cascata e pouca informação que permita estabelecer como razoável margem de segurança as bases de uma análise mais consistente. Quando se tem um imprensa que ouve a opinião do Top Top Garcia comprova-se que as redações estão controladas pela idiotia esquerdista anti-americana e antissemita.
O que é certo é que neste momento qualquer previsão sobre o destino institucional e político do Egito é temerária. O único dado concreto é que o Egito, como a maioria dos países árabes é dominado pelo fanatismo islâmico que de democrata não tem nada. Concordo por isso com as análises que vêm sendo formuladas por Daniel Pipes, como esta que transcrevo. A tradução para o português é de Joseph Skilnik. O texto no original, intitulado 'Islã e democracia -Muito trabalho pela frente', também pode ser acessado no original em inglês aqui: in english. Eis o artigo:
Com as furiosas manifestações contra o regime no Egito e a possibilidade de um novo governo liderado ou com a participação da Irmandade Muçulmana, muitos estão se perguntando se o islamismo é compatível com a democracia. A resposta é sim, potencialmente, mas requererá muito trabalho para se tornar realidade.
No momento a realidade está longe de ser animadora, posto que a tirania aflige a maioria dos países muçulmanos. Frederic L. Pryor do Swarthmore College concluiu em uma análise realizada no Middle East Quarterly em 2007 que, salvo algumas exceções, o "islamismo está associado com menos direitos políticos."Saliba Sarsar avaliou a democratização em 17 países de língua árabe e, escrevendo na mesma revista, percebeu que "entre 1999 e 2005… na maioria dos países não somente houve falta de progresso como também a reforma se deteriorou por todo o Oriente Médio".
Quão fácil seria partir desse padrão lúgubre e concluir que a própria religião do Islã deve ser a causa do problema. A antiga falácia post hoc, ergo propter hoc ("depois disso, logo, por causa disso") sustenta essa conclusão simplista. Na realidade, a situação difícil em que as ditaduras, a corrupção, a crueldade e a tortura se encontram hoje resultam mais da evolução histórica específica do que do Alcorão ou de outras escrituras sagradas.
Há meio milênio, não havia democracia em lugar algum; o fato dela ter aparecido na Europa Ocidental foi consequência de muitos fatores, inclusive na esfera da herança Greco-Romana, provocando tensões do gênero "Dê a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus", específicas ao cristianismo, geografia, clima e progressos chave nos campos da tecnologia e da ciência política. Nada houve de predestinado no que diz respeito a Grã-Bretanha e depois os Estados Unidos terem liderado o caminho para a democracia.
Posto de outra forma: é claro, o Islã é antidemocrático em espírito, mas também o eram todas as outras religiões e sociedades pré-modernas.
Assim como o cristianismo passou a fazer parte do processo democrático, o mesmo poderá acontecer ao islamismo. Essa transformação certamente será violenta e exigirá tempo. A evolução da Igreja Católica, de força reacionária no período medieval em democrática hoje, evolução ainda não inteiramente concluída, está em desdobramento há 700 anos. Uma vez que demorou tanto tempo para uma instituição estabelecida em Roma, por qual razão deveria uma religião de Meca, repleta de escrituras sagradas singularmente problemáticas, ser mais rápida ou menos controversa?
Para o Islã incentivar a participação política implicaria numa guinada gigantesca no que tange a abordarem, especialmente com respeito a Sharia, seu código de leis. Elaborada há cerca de um milênio em circunstâncias quase tribais, operando em um éthos extremamente diferente do atual, o código contém uma gama de elementos excepcionalmente inaceitáveis à suscetibilidade moderna, incluindo ideias antidemocráticas a respeito da vontade de Deus prevalecer sobre a do povo, jihad militar como meio legítimo para expandir as leis dos muçulmanos, superioridade dos muçulmanos sobre os não muçulmanos e a dos homens sobre as mulheres.
Em suma, não é possível conciliar a Sharia conforme compreendida classicamente com a vida moderna em geral e com a democracia em particular. Para os muçulmanos, alcançar a participação política significa rejeitar os aspectos públicos da lei em sua totalidade – como Atatürk fez na Turquia – ou reinterpretá-los. O pensador sudanês Mahmud Muhammad Taha apresentou um exemplo de reinterpretação ao reler as escrituras sagradas islâmicas e de maneira extensiva eliminou as leis islâmicas perniciosas.
O Islã continua mudando, portanto é um erro insistir que a religião deve ser o que sempre foi. Conforme coloca Hassan Hanafi da Universidade do Cairo, o Alcorão "é um supermercado, onde se leva o que se deseja, e se deixa o que não se deseja".
Atatürk e Taha à parte, os muçulmanos mal começaram a longa e árdua jornada para modernizar o Islã. Além das dificuldades inerentes de se reformar uma ordem do século VII com o intuito de ajustá-la ao éthos do século XXI dominado pelo Ocidente, o movimento islamista que hoje domina a vida intelectual muçulmana, catalisa precisamente na direção oposta à democracia. Em vez disso, luta para reativar a Sharia em sua totalidade e aplicá-la com extremo rigor, sem levar em conta o desejo da maioria.
Alguns islamistas condenam a democracia como herética e uma traição aos valores islâmicos e, os mais inteligentes, percebendo sua enorme popularidade, adotaram a democracia como mecanismo para tomar o poder. Seu sucesso em um país como a Turquia não transforma os islamistas em democratas (i.e., estarem dispostos a ceder o poder) e sim demonstra sua disposição em adotar qualquer tática que lhes traga o poder.
Sim, com muito esforço e tempo, os muçulmanos poderão ser tão democráticos quanto os ocidentais. Mas nesse momento, são os menos democráticos dos povos e o movimento islamista apresenta um enorme obstáculo à participação política. No Egito como em qualquer outro lugar, meu otimismo teórico, em outras palavras, está temperado com um pessimismo baseado nas realidades presentes e futuras.
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No momento a realidade está longe de ser animadora, posto que a tirania aflige a maioria dos países muçulmanos. Frederic L. Pryor do Swarthmore College concluiu em uma análise realizada no Middle East Quarterly em 2007 que, salvo algumas exceções, o "islamismo está associado com menos direitos políticos."Saliba Sarsar avaliou a democratização em 17 países de língua árabe e, escrevendo na mesma revista, percebeu que "entre 1999 e 2005… na maioria dos países não somente houve falta de progresso como também a reforma se deteriorou por todo o Oriente Médio".
Quão fácil seria partir desse padrão lúgubre e concluir que a própria religião do Islã deve ser a causa do problema. A antiga falácia post hoc, ergo propter hoc ("depois disso, logo, por causa disso") sustenta essa conclusão simplista. Na realidade, a situação difícil em que as ditaduras, a corrupção, a crueldade e a tortura se encontram hoje resultam mais da evolução histórica específica do que do Alcorão ou de outras escrituras sagradas.
Há meio milênio, não havia democracia em lugar algum; o fato dela ter aparecido na Europa Ocidental foi consequência de muitos fatores, inclusive na esfera da herança Greco-Romana, provocando tensões do gênero "Dê a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus", específicas ao cristianismo, geografia, clima e progressos chave nos campos da tecnologia e da ciência política. Nada houve de predestinado no que diz respeito a Grã-Bretanha e depois os Estados Unidos terem liderado o caminho para a democracia.
Posto de outra forma: é claro, o Islã é antidemocrático em espírito, mas também o eram todas as outras religiões e sociedades pré-modernas.
Assim como o cristianismo passou a fazer parte do processo democrático, o mesmo poderá acontecer ao islamismo. Essa transformação certamente será violenta e exigirá tempo. A evolução da Igreja Católica, de força reacionária no período medieval em democrática hoje, evolução ainda não inteiramente concluída, está em desdobramento há 700 anos. Uma vez que demorou tanto tempo para uma instituição estabelecida em Roma, por qual razão deveria uma religião de Meca, repleta de escrituras sagradas singularmente problemáticas, ser mais rápida ou menos controversa?
Para o Islã incentivar a participação política implicaria numa guinada gigantesca no que tange a abordarem, especialmente com respeito a Sharia, seu código de leis. Elaborada há cerca de um milênio em circunstâncias quase tribais, operando em um éthos extremamente diferente do atual, o código contém uma gama de elementos excepcionalmente inaceitáveis à suscetibilidade moderna, incluindo ideias antidemocráticas a respeito da vontade de Deus prevalecer sobre a do povo, jihad militar como meio legítimo para expandir as leis dos muçulmanos, superioridade dos muçulmanos sobre os não muçulmanos e a dos homens sobre as mulheres.
Em suma, não é possível conciliar a Sharia conforme compreendida classicamente com a vida moderna em geral e com a democracia em particular. Para os muçulmanos, alcançar a participação política significa rejeitar os aspectos públicos da lei em sua totalidade – como Atatürk fez na Turquia – ou reinterpretá-los. O pensador sudanês Mahmud Muhammad Taha apresentou um exemplo de reinterpretação ao reler as escrituras sagradas islâmicas e de maneira extensiva eliminou as leis islâmicas perniciosas.
O Islã continua mudando, portanto é um erro insistir que a religião deve ser o que sempre foi. Conforme coloca Hassan Hanafi da Universidade do Cairo, o Alcorão "é um supermercado, onde se leva o que se deseja, e se deixa o que não se deseja".
Atatürk e Taha à parte, os muçulmanos mal começaram a longa e árdua jornada para modernizar o Islã. Além das dificuldades inerentes de se reformar uma ordem do século VII com o intuito de ajustá-la ao éthos do século XXI dominado pelo Ocidente, o movimento islamista que hoje domina a vida intelectual muçulmana, catalisa precisamente na direção oposta à democracia. Em vez disso, luta para reativar a Sharia em sua totalidade e aplicá-la com extremo rigor, sem levar em conta o desejo da maioria.
Alguns islamistas condenam a democracia como herética e uma traição aos valores islâmicos e, os mais inteligentes, percebendo sua enorme popularidade, adotaram a democracia como mecanismo para tomar o poder. Seu sucesso em um país como a Turquia não transforma os islamistas em democratas (i.e., estarem dispostos a ceder o poder) e sim demonstra sua disposição em adotar qualquer tática que lhes traga o poder.
Sim, com muito esforço e tempo, os muçulmanos poderão ser tão democráticos quanto os ocidentais. Mas nesse momento, são os menos democráticos dos povos e o movimento islamista apresenta um enorme obstáculo à participação política. No Egito como em qualquer outro lugar, meu otimismo teórico, em outras palavras, está temperado com um pessimismo baseado nas realidades presentes e futuras.
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7 comentários:
Excelente análise. Só que tem um detalhe: se hoje o catolicismo é "democrático", isso se deve a uma luta quase sobre humana empreendida desde o século XVI por pensadores, filósofos e cientistas que iniciaram o período que se denominou chamar de Renascimento, que culminou no movimento Iluminista do século XVIII. TODAS as religiões são inerentemento antidemocráticas, autoritárias e intolerantes. O fato de uma religião invocar o nome de um determinado deus que é teoricamente o único verdadeiro, significa dizer que os deuses das demais religiões são falsos, e isso é profundamente inconciliável. Não há acordo possível nessa seara, o que leva inevitavelmente ao confronto e à intolerância. Guerras religiosas estão ocorrendo nesse exato momento em diversas partes do mundo, basta ligar a TV. O islamismo possui certas idiosincrasias que o tornam mais intolerante do que as demais religiões. Por isso democracias islâmicas são utopias, e sempre serão.
Claude,
sua observação é procedente. Grande abraço.
Retribuo o abraço. Continue nessa luta. Precisamos de gente corajosa como você para "botar a boca no trombone" e abrir espaços realmente livres.
"Quão fácil seria partir desse padrão lúgubre e concluir que a própria religião do Islã deve ser a causa do problema"
Aí eu discordo de Pipes. Quem conhece a religião islâmica sabe q um dos cernes desta religião é tomar o mundo à força, converter na marra e implantar a sua PERIGOSÍSSIMA Sharia por todo o mundo. O Islã não comporta democracia, só TEOcracia, regida pelos califas - e, na falta destes, qualquer um no qual eles possam mandar, como ocorre no Irã e na Arábia Saudita. O Islã, diferentemente de outras religiões, NÃO É uma religião q se permita conviver com outras pacificamente. Quem diz isso não sou eu, é a HISTÓRIA. O islã, desde o seu início, se pautou pela conquista ARMADA de seguidores, visto q quase ninguém levou a mensagem de Mohammed a sério, qdo este simplesmente pregou. Então, lançou sua "jihad" para converter na marra, na base da singela divisa: "Ou se converte, ou morre!" E assim o foi, em toda a história.
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É costume se reclamar do tal do "colonialismo norte americano" nas universidades, imprensa, "boca do povo", etc... Seria interessante se debruçar sobre o colonialismo muçulmano sobre o norte da África e o Oriente Médio, sobre como o islã sequestrou a memória cultural de povos - quem se lembra hj de cada cultura pré-islâmica de cada povo q o islã conquistou? A implosão dos budas afegãos é apenas parte de uma verdadeira campanha de substituição total da cultura local afegã pela muçulmana. Pq ninguém se debruça sobre isso, bem como sobre todas as outras mazelas do Islã(como por ex, a comprovada violação sistemática dos direitos humanos)? Um dos motivos mais fortes é justamente esse tal de "politicamente correto" e seu "primo-irmão", o "multiculturalismo", que cega as mentes e os olhos das pessoas para que elas simplesmente admirem o exotismo da diversidade, sem o senso crítico necessário para enxergar que existem culturas e costumes culturais q pautam pelo barbarismo e opressão de pessoas e de grupos específicos de pessoas(ex: A opressão do Irã muçulmano contra mulheres, homossexuais, judeus, ateus, pessoas de outras religiões).
Otro motivo, tão perigoso qto, é essa aproximação quase promíscua entre as esquerdas e o islã(como se não bastassem as primeiras apanharem do segundo em Irã, 1979. Êta gente q apanha e não aprende!). Sou estudante universitária, e o q já vi de gente se deixando seduzir pelo canto da sereia do "Islã = religião de paz e harmonia", bem como por mitos históricos (como o de Al Andalus, por ex) não é brincadeira! E tudo isso qdo a universidade está literalmente dominada pelo pensamento esquerdista, daquele q é contra os EEUU, Israel e tudo o q é valor ocidental... Aonde eles pensam em encontrar "consolo" para suas birras contra os EEUU e valores ocidentais "burgueses"? Na religião dos Aiatolás? Pois sim, existe gosto pra tudo, "nazesquerda", se aceita de tudo, desde q seja contra os EEUU, Israel e os "malditos" valores do Ocidente "Capitalista-explorador-dos-mais-pobres"(as análises da imprensa em geral sobre os conflitos do Egito não deixam mentir!).
Sobre Cristianismo e Islamismo: Para se ter uma idéia das diferenças díspares entre cristianismo e Islamismo, há de se voltar ao estudo das biografias dos principais mestres de ambas as religiões: Cristo e Mohammed, respectivamente. Dar uma bela olhada nos ensinamentos de cada um é fundamental. Os erros do cristianismo - sobretudo, do catolicismo - advém, justamente, de desvios da doutrina principal, a de Cristo(Cristo não pregou cruzadas, inquisição, perseguição. Ele disse: Nem por força, nem por violência). Já as atrocidades islâmicas ao longo da história são perfeitamente embasadas nos ensinos de Mohammed. Simmmm, a tal da "jihad" contra o ocidente é simplesmente a "jihad contra os infiéis" decantada no Alcorão(E os "Imans" repetem isso o tempo todo!). Eles não querem destruir os valores e a cultura do ocidente de graça. Tá tudo escrito lá. Jesus pregou para ensinar as pessoas a sua mensagem. Mohammed ensinou q as pessoas devem se converter ou serão infiéis q devem ser mortos.
"O fato de uma religião invocar o nome de um determinado deus que é teoricamente o único verdadeiro, significa dizer que os deuses das demais religiões são falsos, e isso é profundamente inconciliável. Não há acordo possível nessa seara, o que leva inevitavelmente ao confronto e à intolerância".
Isso DEPENDE, Claude, e as provas estão aí.
Existem religiões q advogam o seu deus como único e verdadeiro. Ponto. Agora: Tem 2 maneiras básicas de se lidar com isso: A primeira, mais pacífica, a praticada pela maioria das religiões: Simplesmente pregar e tentar converter as pessoas através do convencimento argumentativo(ou pressão psicológica). A segunda, comumente praticada pelo Islã durante sua história - e até os dias de hj(além da simples pregação), é converter as pessoas à força, sob pena de morte - com ameaças de morte aos "apóstatas" - os q deixarem a religião.
Um adendo à minha colocação anterior p/ Claude: E além dessas duas maneiras q falei, tem a terceira, q é "ficar na sua", q é como os judeus fazem.
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