Há duas semanas que Luiz Inácio Lula da Silve assumiu, de fato, o seu terceiro mandato como presidente da República. A ingerência do ex-presidente no governo, que deveria ser de Dilma Rousseff, está constrangendo aliados e companheiros petistas.
Quem mais sofre com o voluntarismo de Lula é a própria presidente. Como sua candidatura saiu única e exclusivamente da vontade do ex-presidente – o PT recebeu goela abaixo essa indicação – Dilma não tem cacife político para enfrentar Lula.
Desde o surgimento na imprensa das trapalhadas do chefe da Casa Civil que Dilma não tem mais o controle da articulação política de seu governo, seja com aliados, seja com as diversas correntes do PT. Palocci, que agia como o principal operador político de Dilma, respira por aparelho e somente aguarda o melhor momento para ser descartado da equipe ministerial. E caberá a Lula definir quando e como Palocci deverá deixar a Casa Civil, uma vez que a presidente terceirizou a solução da crise, entregando o incômodo da demissão do ministro, para quem de fato manda no seu governo.
Lula, nos dois últimos dias, não larga do telefone, ora pedindo apoio explícito da direção do PT a Palocci, ora negociando com a base parlamentar uma recomposição ministerial.
Curiosamente, o ministro que corre mais riscos de pedir o boné não é o chefe da Casa Civil da presidência, mas Luiz Sérgio, que ocupa uma cadeira no gabinete de Dilma e não sabe o que fazer com ela. Colocado no governo para compor com o PT do Rio e agradar José Dirceu, o deputado Luiz Sérgio é uma das figuras mais insignificantes do atual ministério. Não fosse o portentoso bigode que carrega, Luiz Sérgio passaria até despercebido pelos garçons do Palácio do Planalto.
A ideia de Lula é sacrificar Luiz Sérgio – convocando um outro prócere da base aliada como articulador político – e manter Antônio Palocci na Casa Civil, na função de conselheiro de Dilma. Lula acredita que o esvaziamento político de Palocci e a perda de visibilidade como operador do governo, permitem que Palocci saia do fogo cruzado imposto pela mídia, que acontece desde a descoberta do seu prodigioso enriquecimento.
O ex-presidente não faz segredo entre seus próximos que Dilma não tem condições de governar sem a presença por perto de alguém como Palocci, cuja experiência política e administrativa é reconhecida até pelos adversários. Lula vai além, ao afirmar que Palocci é o único membro do gabinete de Dilma que consegue acalmar o mercado pela racionalidade com que trata da economia.
Com base em tudo que acima foi dito, não restam dúvidas que a presidente Dilma Rousseff não concentra poderes suficientes para decidir sobre coisas importantes do seu governo; e que Lula faz de tudo para parecer que é ele quem manda.
Lula gosta de se exibir ao dizer que demitiu Palocci do governo porque o presidente era ele. Já Dilma não é Lula, portanto a manutenção de Palocci ao lado da presidente reflete, em última análise, a sobrevivência do atual governo.
Ocorre, que a mídia e algumas instituições não vão dar sossego ao chefe da Casa Civil, enquanto não ficar provado de que forma Palocci conseguiu arrecadar 20 milhões de reais em consultoria. A estratégia de Lula em segurar Palocci no governo tem a sua lógica, mas falta combinar com o adversário.
(*) Nilson Borges Filho é doutor em Direito, professor e articulista colaborador deste blog.
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